Narração: Domingos Sávio Teixeira, 2017.10.19

Territorios: Baia de Guanabara
Água!nabara - Território Urca é uma realização do Instituto Urca, da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal através da Lei de Incentivo à Cultura com o patrocínio da Companhia de Navegação Norsul.
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00:00:00 - Voluntários e reflorestamento

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Partial Transcript: ALEXANDRA - A gente caminha um pouco…

SÁVIO - Sim, excelente ideia!

ALEXANDRA - Fala das coisas, podemos sentar também…

SÁVIO - Na terça-feira, dia 17, né? Teve um mutirão com uma empresa aí, né?

OCTÁVIO - Essa semana?

SÁVIO - É, terça agora. E aí a ferramenta que eu uso, pela primeira vez... a ferramenta quebrou.

ALEXANDRA - Ah, sério?

SÁVIO - Faltavam 10 mudas pra plantar ainda. Aquelas cavadeiras que a gente chama de “boca de lobo”, sabe?

ALEXANDRA e OCTÁVIO - Sim!

SÁVIO - Tirou terra, abre...

ALEXANDRA - E quebrou.

SÁVIO - Só que aí, uma das meninas lá da empresa, né? Que era de, foi criada em, ela falou assim: “Olha só, você pode usar…”, que eu falei pra elas: “Vamos guardar essas mudas, eu prometo plantar depois, fazemos umas fotos fakes de quem ainda não plantou, pra ter a foto de todos no site, no blog”, e ela falou assim: “Não, mas olha só, que tal a gente pega uma parte e outra parte e vai fazendo as covas assim mesmo e tal”, falei: “Olha, legal! Legal, dá certo!” e deu mesmo. Fizemos as 10 covas restantes com as cavadeiras só desarticuladas, né?

OCTÁVIO - Sim.

SÁVIO - Duas partes distintas lá, funcionou. Criatividade.

OCTÁVIO - Criatividade, recursos, (?), gênio.

SÁVIO - Esse aqui foi em junho, né? Com a Fiocruz.

00:01:31 - Terras indígenas e agronegócio

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Partial Transcript: SÁVIO - Subverte, subverte não, como se diz? Converte, vamos dizer assim, o índio, porque aquilo dá dinheiro, o índio passa a entender o mecanismo, e aí pronto, o índio também se vende, daqui a pouco o índio virou também o comerciante desse contexto. É uma história complicadíssima, porque algumas lideranças indígenas viram políticos, viram… criam associações, viram, se tornam líderes comunitários à maneira do branco, ele tem que se modernizar, ele tem que também saber jogar o jogo do branco, do homem branco, e aí pronto, tudo se mistura numa mistura que não é favorável pra ninguém, nem pra cultura indígena e nem pra preservação deles, e pro branco... quer dizer, pra ninguém não, pro branco é bom essa história, pro homem branco é muito bom. Pro não-indígena, né? A gente fala branco, mas não é só branco, pro não-indígena é excelente, porque a última proposta que eu li, que eu achei assim um absurdo, que tá sendo muito bombardeada, é que alguém no Mato Grosso, acho que o governo do Mato Grosso ou o Blairo Maggi, que é o Ministro da Agricultura, propôs, que é um dos maiores criadores de soja do Brasil, né? Propôs alugar as terras indígenas pra criar soja. Ora…

ALEXANDRA – (?)

SÁVIO - Soja, “soya”. In english diz?

OCTÁVIO - Soy.

SÁVIO - Ah, soy. Plantar soja, alugar a terra dos índios, por que? Tá tudo subvertido, os índios já foram, boa parte deles já foram convertidos aí ao modus operandi do branco, né? E é uma situação complicadíssima. Isso, se você for em Rondônia, por exemplo, os índios usam botas daquelas de cowboy, chapelão, celular de última geração, claro, né? Parte do executivo, a liderança, desculpa. Parte do executivo, e usam aquelas Hilux maravilhosas, são carros feitos pra essa região, né? Que suportam aquela… Não sou contra a tecnologia, ela existe e enfim, é inevitável, né?

ALEXANDRA - O dinheiro vem de onde?

SÁVIO - Dessas negociações de madeira, de minério, de… há portos internacionais também que. Existe muita expectativa no exterior que essas reservas indígenas sejam poupadas, porque elas são, claro, parte daquele bioma maravilhoso, amazônico e que é importante como pulmão do mundo ainda, essa história toda, né, de combater a poluição, né?

ALEXANDRA - E a sua família ainda tá envolvida com…?

SÁVIO - Todos são ou fazendeiros ou têm um sítio, uma chácara… basicamente todos. É a cultura da região, essas terras já foram todas… grande parte. Restaram, realmente, as reservas indígenas e as reservas biológicas e os parques são distintos, né?

ALEXANDRA - Sim.

SÁVIO - É o que restou.

00:04:51 - Aspectos da trilha do Pão de Açúcar / Família e vivência em Rondônia

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Partial Transcript: OCTÁVIO - E essa experiência de família em Rondônia, como influenciou? As suas escolhas depois têm uma conexão entre o que você viu, experimentou lá e o que tá fazendo agora aqui?

ALEXANDRA - Qual foi o catali…

OCTÁVIO - Catalisador…

SÁVIO - Capitalista?

ALEXANDRA - Não, catalisador.

SÁVIO - Ah, catalisador.

ALEXANDRA - Enquanto você pensa, você quer uma aguinha?

SÁVIO - Ah, eu aceito.

ALEXANDRA - Quer sentar também?

SÁVIO - Sentar aqui ou lá no banco?

ALEXANDRA - Podemos voltar pro banco também.

OCTÁVIO - Você tá cômodo?

ALEXANDRA - Aqui a gente chegou ao final da trilha.

SÁVIO - Então, continuando aqui, vamos pra face leste, é o caminho pra face leste.

OCTÁVIO - São 1250 metros?

SÁVIO - É, até aqui.

OCTÁVIO - Até aqui.

SÁVIO - 2500 na ida e volta e poderíamos continuar pra ir pra face leste. Podemos marcar um dia, né?

OCTÁVIO - Marcamos um dia pra lá e levamos mudas.

SÁVIO - Oh, excelente ideia!

OCTÁVIO - Podemos contribuir também.

SÁVIO - Excelente ideia!

ALEXANDRA - Seria quantos metros adiante?

SÁVIO - Ah... não é muita coisa, são cerca de… 500 metros mais ou menos. Só que você vai em trilhas… parece mais, mas é uns 400, 500 metros.

ALEXANDRA - Esse é o (?) que vocês falaram que estava prestes a cair ou não?

SÁVIO – Não. Também, mas o foco principal é ali. Vamos até ali?

ALEXANDRA - Tá.

SÁVIO - Então, como isso influenciou minha vida, minhas decisões aqui. Bom, é… Começou assim: eu, em Rondônia, no Mato Grosso também, claro. Eu acho isso daqui muito perigoso, aparentemente, né?

ALEXANDRA - Tá.

SÁVIO - Pode ser que as aparências enganem, mas, assim, acho que numa grande chuva de verão mesmo… é, tá vendo como já tá tudo preparado?

ALEXANDRA - Sim, mas parece que é trilha também, né?

SÁVIO - Não, na verdade, cê observa ali embaixo acúmulo de água de chuva também, talvez principalmente. Olha a rocha que rolaram, né? Então, eu nasci na área rural de uma família, né, de agropecuaristas, né? Porque meus pais criavam gado desde o Mato Grosso isso e também tinha lá uma cultura de milho, soja… porque no Mato Grosso a soja era muito comum. Soja, trigo, né? Em Rondônia o ciclo se repetiu, né? Novamente plantio, agricultura e pecuária. E eu nunca me enquadrei nessa coisa da... Eu tenho seis irmãos homens, né? E esses irmãos eram dessas áreas, né? Eu sou um dos mais novos, sou o décimo quarto, a partir de mim só tem um irmão, um caçula, e mais duas mulheres. Mas eu nunca me enquadrei, talvez por idade mesmo, já fui de outra geração, né? Entre mim e meu irmão mais velho existem 20 anos de diferença, são 20 anos, então é uma diferença muito grande, né? Eu já sou de outra geração e eu sempre gostei – Aí sim, Alexandra – de jardinagem (risos). Eu adaptei à minha maneira essa coisa do rural, da planta, né? Da natureza, e…

00:08:41 - Espécies vegetais e esgoto na trilha do Pão de Açúcar / Infância na casa em Rondônia

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Partial Transcript: SÁVIO - e… só um minutinho, por favor. Aqui teve um grande deslizamento, eram árvores aqui tudo e, numa tempestade de verão, desde lá, tudo isso escorreu pra cá, foi retirado muito material aqui…

ALEXANDRA - Essas árvores caídas no chão então?

SÁVIO - Provavelmente, não me lembro se desta aqui, mas você pode ver galhos ali oh.

ALEXANDRA - Sim.

SÁVIO - Isso tudo era como aqui, reflorestado, e desceu tudo.

OCTÁVIO - Mas foi recente?

SÁVIO - Não, já tem uns… talvez uns oito anos. Você observa que algumas árvores já estão grandes, principalmente imbaúba que é uma espécie pioneira, ela que vem primeiro, uma das que veio primeiro…

OCTÁVIO - Imbaúba?

SÁVIO - Imbaúba, é.

OCTÁVIO - Que tem as folhas… cor prata?

SÁVIO - Isso, exatamente. Outra aqui, outra ali.

OCTÁVIO - E que crescem sozinhas, né? Separadas.

SÁVIO - Tão lá num banco (?) da natureza ali.

ALEXANDRA - Que mais tem aqui?

SÁVIO - De plantas?

ALEXANDRA - Uhum.

SÁVIO - Tem a peloteira, essa aqui, que é muito comum aqui, tem várias delas aqui. Essa aqui é uma… essa eu não sei qual é. Tem um ipê ali, se não me engano. Tem uma… cacau falso aqui. Munguba… munguba ou cacau-falso ou falso-cacau, né? Ele dá uma fruta igual ao cacau.

ALEXANDRA - Munguba…

SÁVIO - Ali atrás tem um cedro, que é essa mesma aqui. Ali atrás, tá vendo? De folha meio queimada, é um cedro. Uma madeira de lei, desculpe, uma madeira de lei, né? Uma espécie muito importante da flora brasileira. De novo ali a peloteira. Enfim…

OCTÁVIO - São podadas as árvores aqui?

SÁVIO - Não, não. É linda, né? Se você olhar a copa dela, olha só, ela tem um formato muito interessante.

ALEXANDRA - Agora, na face leste, eles não crescem assim tão altos, né?

SÁVIO - Depende do trecho da face leste. Naquela parte da subida não, porque não tem solo, mas um pouco mais próximo de um mirante já tem mais solo, as árvores cresceram bem mais. E uma parte abaixo, né? Que a gente chama de grutão, lá as árvores cresceram bastante, tem um solo bem profundo.

OCTÁVIO - Ontem, falando com Pellegrini, ele contava a história de como se desenvolveu o tratamento do esgoto do Bondinho do Pão de Açúcar, que eles no início descarregavam tudo na ladeira…

SÁVIO - Na parede ali, né?

OCTÁVIO - Na parede…

SÁVIO - Eu assisti esse período, eu acompanhei. E era um cheiro ruim, você estava andando na pista e aquele cheiro desagradável. Aqui também tem um, você sabe, né? Essa aqui olha, é parte de uma estrutura de esgoto que vem aqui embaixo dessa pista e aquele cilindro que tem lá no final era o acumulador, vamos dizer assim. Aí à noite eles abriam a comporta e jogavam tudo no mar, aqui mesmo. À noite ou periodicamente, não sei direito isso, mas enfim, ia pra ali e caia direto no mar.

ALEXANDRA - Hoje em dia?

SÁVIO – Não, tá desativado.

ALEXANDRA - Tá fechado?

SÁVIO - Desativado. Isso é um absurdo! Imagina, você vir caminhar num lugar paradisíaco desses assim, né? Em termos de, pelo menos em termos de paisagem, e dá de cara com o esgoto in natura caindo ali, desaguando ali… um absurdo.

ALEXANDRA - Ainda acontece.

SÁVIO - Ainda acontece, com certeza.

ALEXANDRA - Não é difícil imaginar.

SÁVIO - Mas aqui era mais chocante, né, pelo contraste, né?

OCTÁVIO - Só que agora eles desenvolveram um método de… cabos que descem até a planta de tratamento da CEDAE na Praia Vermelha, então, todo esgoto, dos banheiros do Pão de Açúcar e do morro da Urca das duas estações descem.

SÁVIO – Sim. Sinta o cheiro, amassa ela um pouquinho. O que lhe parece?

ALEXANDRA - Limão?

SÁVIO - Não, pitangueira.

ALEXANDRA - Isso é pitanga?

SÁVIO - É.

ALEXANDRA - É azedinho.

SÁVIO - Isso dá um chá maravilhoso.

ALEXANDRA - A folha da pitangueira? Não sabia.

SÁVIO - Maravilhoso.

OCTÁVIO - E o efeito?

SÁVIO - Tem vários, não lembro agora, mas ela é medicinal. Ou você pode usar simplesmente como um chá mesmo, refrescante.

OCTÁVIO - Tá, desculpa interrompê-lo, estávamos falando…

SÁVIO - É, então, essa história de Rondônia era engraçado, porque nós, meu pai comprou um quarteirão inteiro pra família, né? E esse miolo do quarteirão, esse centro, era reservado pra uma área de lazer, foi reservado, né, pra uma área de lazer da família. E lá tínhamos muitas plantas, né? Mangueiras, coco da Bahia, enfim, muitas, goiabeiras… E o resto de um quintal mais pra frente da casa, pra lateral e pra frente, era um gramado que eu plantei. Então, plantei aquele gramado, eu… de vez em quando, eu fazia umas… estripulias lá, ia lá e podava as árvores, enfim, aquelas árvores ficavam com os galhos quase encostando no chão e as pessoas não se importavam com isso, entendeu? Aquilo era… pronto. Pra mim não, eu tinha que podar, tinha que dar um formato, tinha que dar um… abrir, né? Deixar aquilo adquirir um aspecto de… – só um minutinho aqui – um aspecto de bosque, entendeu? Então, de vez em quando, eu fazia isso, né? E sempre gostei muito desse tipo de atividade, né? Aquilo me dava grande prazer. Sente o cheiro dessa.

ALEXANDRA - Ai, que delícia!

SÁVIO - O que que lembra? Aperta um pouco mais. Um tempero que você usa muito… não?

OCTÁVIO - Canela?

SÁVIO – Alho!

ALEXANDRA - Alho!

SÁVIO - Pau-d'alho. Então, ali nós temos uma amoreira também, vocês viram? Com fruto e tudo?

00:15:45 - Escalada

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Partial Transcript: OCTÁVIO - Como podemos descrever isso aqui, o que é?

SÁVIO - Como assim? Ah, este? Este é um boulder, boulder gigante, mas é um boulder, porque ele foge daquele… não é uma parede que você escala até o cume e tal. Então, ele é, apesar de ser gigante, ele é um boulder. Essa aresta, aqui oh, é uma das mais difíceis do mundo, do Brasil, talvez seja a mais difícil do Brasil, foi um alemão que conquistou.

ALEXANDRA - Essa aqui?

SÁVIO - Esta aqui. Não parece, né?

ALEXANDRA - Por que?

SÁVIO - Uma junção de características que tornam ela muito, muito, difícil. As escaladas são graduadas, que a gente chama, né? Tem vários graus de dificuldade. Essa tá no grau máximo de dificuldade, essa aresta aqui.

ALEXANDRA - Eu tô vendo que tem… não sei como se chama, mas pinhos.

SÁVIO – É, grampos.

ALEXANDRA - Grampos.

SÁVIO - É, têm vários, mas mesmo tendo um grampo, tem duas formas de você escalar, com o grampo e sem um grampo. Se você usa o grampo, ela tem um grau mais baixo, a dificuldade diminui, se você não usa o grampo a dificuldade aumenta.

ALEXANDRA - E essa dificuldade é competitiva?

SÁVIO - As duas formas. Tem a esportiva, né? Que é… um esporte mesmo, sem essa preocupação, né? E tem a competitiva também.

OCTÁVIO - O que tem no cume?

00:17:15 - Viagem para o Rio de Janeiro / O projeto colonizador dos governos e devastação de terras / Povos indígenas e preservação ambiental / agroecologia e agronegócio

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Partial Transcript: OCTÁVIO - O que tem no cume?

SÁVIO - Tem um conjunto de plantas que é a clusia, todas nativas, né? A clusia fluminensis, que é aquela à direita, a bromélia, aquela da pontinha vermelha, né? Um tipo de bromélia, e aquele da esquerda é um antúrio. Assim, o que dá pra discernir são esses três, o resto tem uns matinhos lá.

ALEXANDRA - Tô vendo cactos também.

SÁVIO - Aonde?

ALEXANDRA - Aqui…

SÁVIO - Ah, sim, um cacto, é verdade! Todos nativos daqui, o que é ótimo, né?

OCTÁVIO - O cacto também?

SÁVIO - Também. Lá na face leste tem muito cacto. E, então, eu vim visitar o Rio pela primeira vez com 16 anos, mais ou menos, e me apaixonei pelo Rio, porque eu tinha, no Mato Grosso, tinha aquela coisa rural, né? Em Rondônia eu tinha aquela coisa da floresta, quando a gente chegou, né? Gostava muito de brincar em rio… enfim, tinha um pequeno córrego que passava dentro desse quarteirão e aquilo tudo pra mim era maravilhoso, aquela natureza ali meio que, né, tudo muito novo, muito… sendo explorado ainda, sendo de alguma maneira organizado pra moradias, né? E aí, quando eu vim pro Rio conhecer, visitei o Cristo, o Pão de Açúcar, aquela coisa, falei: “Nossa! Tem tudo aqui, aqui tem tudo. Aqui tem um conjunto..." e tem a cidade grande, né? Que eu nunca tinha conhecido a cidade grande, eu morava em área rural. Rondônia já não era uma área rural, mas era uma cidadezinha muito pequena, né? Mas minha família ligada à área rural, né?

ALEXANDRA - Vamos sentar?

SÁVIO - Vamos. (tosse) Então, o Rio é…

ALEXANDRA - Você veio com quem nessa viagem?

SÁVIO - Nessa viagem. Tem banco ali?

ALEXANDRA - Tem metade de um banco.

OCTÁVIO - Tá meio quebrado.

ALEXANDRA - Vamos sentar aqui mesmo. Água, por favor e eu vou ver o equipamento.

OCTÁVIO - Não quer tirar fotos?

ALEXANDRA - Vou, mas primeiro tem que ver se… Continua, então, você veio com quem?

OCTÁVIO - Eu sou um burro de carga.

SÁVIO - (risos) Perdão?

ALEXANDRA - Você veio com quem quando você tinha 16 anos?

SÁVIO - Ah, eu vim sozinho! Vim sozinho. Eu trabalhava no Banco do Brasil já, era office-boy e já tinha meu salário, tal... então, eu já comecei a viajar. Eu sou, gosto muito de viajar.

OCTÁVIO - Veio de ônibus?

SÁVIO - Vim de ônibus. Naquela época avião em Rondônia era muito difícil, muito difícil e caríssimo também, né? Dias, certamente. Uma irmã minha morava em São Paulo, aí de lá ela me trouxe, ela e o marido dela me trouxeram até o Rio e me apresentaram o Rio com o maior prazer, né? Aí falei: “Nossa! Essa é a minha cidade do mundo. É aqui que eu quero viver” e voltei mais umas vezes, né? Mais umas duas ou três vezes, se não me engano. Numa dessas viagens eu conheci minha ex-esposa, que era prima, era não, é prima do… do meu cunhado, né? E foi interessante, até porque foi um contato familiar, né? Assim…

OCTÁVIO - Ela era de Rondônia?

SÁVIO - Não, essa família do meu cunhado era toda do Espírito Santo, mas tinham migrado pra cá também nos anos setenta, oitenta. E… enfim, fiquei com isso na cabeça. Morei, depois que saí do banco, a primeira vez, né? Morei na capital do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, um ano e oito meses, depois o banco me chamou de novo, voltei pra Rondônia pra trabalhar no banco em definitivo, né? E… dois anos depois eu vim pro Rio. Já não queria mais saber de morar em Rondônia, já não me identificava mais com aquele… ambiente rural, eu não tinha nada a ver com aquilo, aquela história de fazenda, de gado, de cavalo, de… Não era o meu mundo, o meu universo, né? Mas, uma coisa que você falou que eu esqueci a palavra, como é que isso ficou em mim, né? É…

ALEXANDRA - Catalisou.

SÁVIO - É, é que eu precisava da natureza, entendeu? Isso, ponto pacífico, né? Não daquela forma como eles exploravam, como eles… sempre, por exemplo, me tocou muito a questão indígena, eu me sensibilizava muito a essa… esse conceito do indígena, do dono original da terra que era visto como um… quase que um… tava abaixo do ser humano um pouco pra eles, pros colonos, né? Era um ser humano, mas era um ser humano a ser dizimado, simplesmente. Melhor dizendo: ele era um empecilho.

OCTÁVIO - Hã?

SÁVIO - Um empecilho, uma…

OCTÁVIO - Um obstáculo, um impedimento.

SÁVIO - Um obstáculo, é. Ele era um obstáculo pros projetos. Afinal, as pessoas se deslocavam do Paraná, do Rio Grande do Sul, do Mato Grosso, do Nordeste, São Paulo até também, São Paulo menos. Essas pessoas, era todo um projeto de vida. Eu até entendo, né? Que elas eram estimuladas pelo governo, tinham garantias, essa garantia era: “Você vai ter a terra de graça, vai ter o financiamento do Banco do Brasil pra derrubar, pra comprar uma motosserra, mas a condição pra você ter essa terra de graça é derrubar, tem que derrubar, se você não derrubar, eu pego a terra de volta”, o governo dizia. Ou seja, essa era a visão do governo de terra produtiva ou de tornar a terra produtiva, não havia o conceito de sustentabilidade, uma preocupação com isso. Claro que tinha lá reserva legal já, entendeu? Tinha que deixar um tanto lá de mata, mas… a pessoa via lá, cortava de novo e vendia, e cortava de novo… pronto, acabou, que mata que sobrou? Sobrou uma reserva fictícia, claro, não tinha mais impacto nenhum, não tinha mais importância em termos de biodiversidade, de… impacto no clima, né? Esse era um conceito que eu entendia, eu não me aprofundava, mas eu percebia que aquilo… eu não tinha nada a ver com aquilo rigorosamente, né? Então, ao vir pro Rio, apesar disso tudo, como eu tava dizendo antes, eu precisava de novo da natureza, né? E encontrei isso tudo aqui: montanha, floresta, mar, rio, lagoa… tá tudo aqui dentro da cidade, e a metrópole.

ALEXANDRA - E a?

SÁVIO - A metrópole, que era uma coisa que eu queria muito vivenciar também, né? Então, aqui tinha tudo que eu tava buscando. Aí fui pro montanhismo como forma de viver a montanha, a floresta, a natureza, claro, né? Entrar em contato…

ALEXANDRA - Você nunca tinha feito antes.

SÁVIO - Pois é, em Rondônia não tinha essa cultura de passear na floresta, a floresta era meio de subsistência e lugar a ser explorado e as feras, as onças, os animais todos que tinham eram pra ser combatidos. Não havia nunca, esse período inicial era de colonização. Combater o índio, combater os animais, derrubar a floresta, colocar o gado, colocar o capim-colonião, colocar o capim. Vinha de avião... os fazendeiros contratavam aqueles aviões pequenos e as sementes eram despejadas de avião, entendeu? Eram plantadas, entre aspas, de avião. O capim, cai a semente aqui ele já, entendeu? Na hora certa, quando chove e tal. Aquilo é perfeito pra ele, não precisa ser plantado, entendeu? Não precisa ser cavado pra colocar a semente. Era só espalhado em cima da terra. Então, isso foi um processo muito violento. E a queimada antes disso, claro. Eu me lembro que fui visitar a família numa época em Rondônia e eu fiquei um mês em Rondônia. Não, exagero, foram 15 dias em Rondônia, nessa cidade que a minha família morava, ainda mora, na verdade. Eu fiquei 15 dias na cidade e não vi o sol nenhum dia. Você imagina o que é isso? Aquela bola alaranjada escondida atrás de fumaça. Tremendamente perturbador aquilo pra mim.

OCTÁVIO - E o ar?

SÁVIO - O ar nem tanto, porque essa fumaça sobre e ela não prejudica tanto aqui, porque é muito vasto, muito grande, mas é queimada em todo lugar, ao redor da cidade toda, toda aquela região, né? Então, naquele município, naquela região rural toda, as queimadas eram diárias, entendeu? Diárias. E aquilo foi muito perturbador, anos 90. Imagina você não ver o sol, ficar 15 dias na cidade e não ver o sol dez, quinze dias. Porque a época de queimada não é a época de chuva, claro, ela é o oposto. Você derruba na época da chuva e queima na época da seca. Na região Norte tem dois climas só, né? O inverno e o verão. No inverno a temperatura é a mesma, mas no inverno chove e no verão não chove, só essa a diferença. Não existe frio, claro. Está exatamente embaixo do trópico.

OCTÁVIO - Equador?

SÁVIO - É, desculpa, embaixo do Equador, da linha do Equador, embaixo da linha do Equador. Na fictícia, né? Fictícia não, como se chama? Ela é imaginária, né?

OCTÁVIO - É, imaginária.

SÁVIO - A linha imaginária. Ou seja, a incidência do sol é o ano inteiro, né? Então, chove muito na época do inverno amazônico e na época da seca é seca mesmo também, né? Então essas florestas queimavam assim, essas derrubadas…

OCTÁVIO - Pra que o dano seja maior, né?

SÁVIO - Pra que o dano seja maior, porque qual é o objetivo do, do… daquele sitiante que é mais pobre ou daquele fazendeiro que derrubou muito mais? É que ele não tenha trabalho depois, que a queimada já faça todo o trabalho pesado, entendeu? O que fica? Os troncos. Claro, isso não tem jeito, não vai queimar. Às vezes queima também, todo, mas na maioria das vezes vai ficar lá apenas os grandes troncos, das grandes árvores. E a madeira de lei ele tirou, quando derrubou, vendeu a madeira de lei toda, claro. Aproveitou ao máximo aquela derrubada que ele fez.

ALEXANDRA - Hoje em dia se usa veneno pra fazer o mesmo, imagino.

SÁVIO - O que?

OCTÁVIO - Os agrotóxicos…

SÁVIO - Pra?

ALEXANDRA - Pra desmatar também.

SÁVIO - Não.

ALEXANDRA - Não?

OCTÁVIO - Fogo ainda?

SÁVIO - Fogo, fogo.

OCTÁVIO - Tão primitivo, né?

SÁVIO - Sim! Muito primitivo.

ALEXANDRA - Mas os índios também usavam o fogo.

SÁVIO - Sempre! Sempre, mas numa coisa muito mais restrita. Era aquele fogo ali pra tribo, né? Pra aquela tribo pequena.

OCTÁVIO - Não precisavam grandes áreas…

SÁVIO - Não… e outra coisa interessante: os índios saíam, exploravam aqui, cultivavam, quando a terra exauria, quando os nutrientes da terra se exauriam, eles iam pra outro lugar, derrubavam, claro, mas esse trecho se recuperava, ficava lá abandonado pra se recuperar. Pra eles não servia mais, claro, então, pra que ficar perto desse trecho? Eles se mudavam, eles eram nômades, os índios eram nômades. Hoje não, claro, mas eram nômades no passado, então, eles iam explorar outra área. Enquanto isso, esta se recuperava. Então, é o oposto do humano, né, que derruba e nunca mais ele vai, pelo contrário, né? Ele até faz isso nas grandes fazendas, mas a área fica lá na posse dele, né? E ele não tem interesse que aquilo vire floresta, porque, se virar floresta, ele não pode mais derrubá-la hoje em dia, né? Desde lá, algum tempo atrás. Então, o que acontece? Ele não tem interesse que aquilo… ele vai continuar com o capim, vai continuar derrubando as pequenas árvores, arbustos, mantendo aquilo roçado sempre… entendeu? Então, assim, é uma forma, né? Modelo de exploração econômica muito nocivo, né? A agroecologia já tem essa visão muito diferente, né? Que, assim, ela visa, né, explorar, manter e realimentar o tempo todo, e nisso você precisa de uma área menor e os alimentos, em geral, não usam agrotóxicos, né? As plantações não usam agrotóxicos, né? Os insetos são combatidos com as próprias, intercalamento que a gente chama, intercalação de diferentes plantas, né? E até mesmo o adubo, ele é produzido na poda de, por exemplo, eucalipto, que é plantado só pra isso na chamada agrofloresta, né? Mas havia o conceito, assim, a ideia geral de que a agrofloresta não podia ser feita em larga escala, que ela é feita em forma de mandala, também tem todo um conceito ali, né? De equilíbrio sistêmico. Mas o filho do dono do supermercado Pão de Açúcar, já não é mais o controlador, o grupo francês Casino que hoje que é o controlador; mas eles, Abilio Diniz que é o ex controlador brasileiro, ele ainda tem participação societária lá, não é mais o controlador. Mas o filho do Abilio Diniz, também é um grande empresário, tem muito dinheiro, ele desenvolveu, numa grande fazenda em São Paulo, demonstrou que é possível fazer isso em larga escala. Plantações de laranja, enfim e outras culturas. Então tá mudando, a agroecologia tá sendo adotada já com.... pelo menos tá provado que é possível, né?

ALEXANDRA - De ir lá em cima, dos grandes fazendeiros.

SÁVIO - É. Agora, é difícil você convencer. Ele é um jovem, esse rapaz, né?

OCTÁVIO - É uma iniciativa privada de um mecenas que tem a terra pra poder experimentar, porque o Estado não faz, faz o contrário, né?

SÁVIO - Sim, exatamente. O Estado não estimula isso de maneira nenhuma. Quem é o nosso Ministro da Agricultura? Entende? É o maior, um dos maiores talvez, acho que é o maior criador de soja, pelo menos naquela região ali do Centro-Oeste. É o maior, com certeza, o individual, né? É o maior plantador de soja, foi achado um avião com cocaína na fazenda dele e ele não sabe, não viu, não sabe de onde veio, como assim? Quer dizer, como assim? Imagina que tipo de pessoa é essa, né? Se ele vai pensar em agroecologia, ele acha isso o conto da Carochinha, né? Ele não quer saber disso. Quanto esse cara ganha com venda antecipada da produção da soja? Porque são os commodities que são negociados, né? Tem uma terra X, quanto isso produz, então aquilo vira moeda de troca. Ele vai, recebe antecipado aquilo, garante a produção, enfim, aqueles comércios que são feitos à base de commodities, né? Então, assim, é um negócio muito grande e hoje, já de longo prazo, já antecipadamente, pra mexer nesse modelo, não se mexe nesse modelo, é modelo vigente e economicamente, altamente rentável.

OCTÁVIO - Mas, então, é um pouco como a parábola bíblica do Davi de Golias, né? Que é a luta desigual entre o enorme fazendeiro, o Ministro de Agricultura, de um país imenso, contra um pequeno plantador que acredita no reflorestamento.

SÁVIO - Na preservação

OCTÁVIO - Na preservação.

SÁVIO - Na exploração sustentável.

OCTÁVIO - Que é individual, que são grupos divididos, que são as associações…

SÁVIO – Associações, exatamente, é.

OCTÁVIO - Mas uma luta desigual.

SÁVIO - Muito desigual. É uma luta titânica, né? Porque do outro lado realmente é um titã, né? E de cá são os pequenos que. Um outro exemplo disso, bem assim contundente, é a Monsanto com seu monopólio das sementes todas, né? E os pequenos aí que lutam bravamente pra manter as sementes crioulas, que a gente chama, né? São aquelas sementes nativas mesmo que não foram modificadas geneticamente pela Monsanto e agora pela Bayer, parece que comprou a Monsanto, que é outra gigante mundial. Então, assim, essas pessoas produzem essas sementes, foram buscar em grotões, né? E elas lutam bravamente pra ter essas sementes, plantar estas sementes e distribuir pras suas cooperativas, pras suas redes de produção familiar, estas sementes nativas; porque, claro, são um ponto de resistência, né? Eles resistem contra o grande capital, e isso é maravilhoso, porque você tem um alimento de grande qualidade, né? Tá aí os orgânicos, né, que provam isso. São mais caros ainda, mas, é claro, né? Tem uma garantia que são alimentos de grande qualidade, livres de agrotóxicos, né? A estatística diz que a gente come, consome um quilo, se não me engano é um litro, acho que é a mesma coisa nesse caso, de veneno por ano. Imagina, um litro ou um quilo, enfim, acho que é um quilo de veneno por ano! É uma loucura, uma brutalidade com o corpo da gente, né?

00:36:35 - Botos da Baía de Guanabara

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Que me lembrou das botas da Baía de Guanabara que dizem que são os botos, são os mais, os peixes mais contaminados.

OCTÁVIO - Não são peixes.

ALEXANDRA – Desculpa. O bicho mais contaminado.

SÁVIO - Morreu um semana passada, você soube, né?

ALEXANDRA - Morreu.

SÁVIO - Foi achado morto.

OCTÁVIO - Estão acabando.

SÁVIO - Estão acabando.

ALEXANDRA - Mas parece que eles estão tentando descontaminar a Baía. Então, eles ficam aqui nadando, poderiam sair, não saem e são altamente contaminados. Então, morreu uma mãe e um filhote.

SÁVIO - Triste demais isso, porque…

OCTÁVIO - Outra luta desigual.

SÁVIO - Desigual demais.

00:37:18 - Caravanas e migrações colonizatórias em Rondônia / O projeto do Marechal Rondon

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Você pode descrever, mais uma vez, a caravana chegando em Rondônia, como é que era? Vocês carregavam armas?

SÁVIO - Sim, íamos com armas, porque minha família sempre morava em área rural, tinha uma chamada carabina que era uma arma de cano longo, né? E tinha também revólver pequeno, né? E a caravana demorou, se não me engano, 15 dias ou 20 dias, eu não lembro direito, mas é algo parecido com isso. Com paradas, claro, em Campo Grande, em Cuiabá, enfim… Até, assim, pra não ser uma viagem única, direta, né?

OCTÁVIO - De ida só?

SÁVIO - De ida, é. E teve quase que um acidente na serra chamada, é... Serra Furada? Não, esqueci agora. Antes dessa estrada que existe hoje entre Campo Grande e Cuiabá, existia uma outra serra que, Caixa Furada, que a gente passava por essa serra chamada caixa furada, que era uma serra, não era muito grande, mas era uma serra, né? A inclinação não era muito abrupta, mas era uma serra. E, em algum momento nós paramos nessa serra pra dormir, e em algum momento o caminhão começou a descer, alguém acordou desesperado e corre, corre, bota a pedra, não sei o que e tal, ou seja, ia acontecer um acidente terrível, todas aquelas pessoas dormindo dentro do carro e toda a mudança, né? Então, assim, conseguimos, conseguiram, né? Eu era muito criança, mas os adultos conseguiram evitar o pior, né? Mas ia acontecer um acidente terrível. No Mato Grosso, essa caravana, como eu disse, a terra era de chão, não era asfaltada, né? E a gente atravessava por áreas que eram de areia, né? Então, assim, outro processo muito complicado, aqueles caminhões andando naquela terra arenosa, né? Muitos caminhões saíam da estrada, porque não valia nem a pena, porque era campo, né? Ali no Mato Grosso tem uma grande região que é campo, né? E o cerrado, né? Árvores todas pequenas. Aquilo ali, você pega o caminhão, sai por ali sem… pelo meio daquele campo sem maiores problemas, a não ser um cupinzeiro, uma coisa que você tem que desviar, um arbusto maior, né? Muitos faziam isso e muitos se perdiam, não conseguiam mais voltar pra estrada. Alguns, né? Muitos não. Outros eram pegos por assaltantes, a gente escutava histórias assim, né? Índios, outros se encontraram, sem querer, na tribo indígena, na tribo não, grupo de índios, e esses índios levavam um susto também, né? “O que esse caminhão faz aqui no meio do nada, né?” e os índios entraram em conflito armado com eles, né, enfim. A gente escutava muitas histórias dos assaltantes que amarravam o motorista num tronco de árvore e levava o caminhão, as formigas vinham e matavam… enfim, muitas histórias assim.

ALEXANDRA - Mas a família, até tentando pintar, você pintou pra mim uma imagem da família entrando com o intento dominador, né?

SÁVIO - É, de colonizador. Exatamente. Esse era o objetivo, né? Meu pai e um irmão meu foram um ano antes, em 72, e organizaram essa ida através do governo, de trabalhar, conseguir algum dinheiro também… e as terras, demarcar as terras, que eram terras do governo todas, né, basicamente, ou que o governo entendeu que eram terras devolutas, mas não era, eram grandes seringais que tinham sido… como é que se diz? É… desativados, porque aquelas não produziam mais a quantidade de látex.

OCTÁVIO - Da época da borracha?

SÁVIO - Isso, essa região toda, tanto no estado do Amazonas, quanto de Rondônia, do Acre, Pará, eram grandes seringais no passado, antes da borracha ter sido levada para as Filipinas, acho, e lá se cultivou fora do ambiente nativo dela, né? A produção foi excelente, muito mais barata do que ficar dentro de floresta nativa coletando uma, depois você anda um quilômetro, até a outra é outro quilômetro, e lá não, foi plantação intensiva, né? Cultura da borracha, então, derrubou a Amazônia. A produção da Amazônia acabou, não tinha mais sentido aquilo de ficar dependendo do seringueiro nativo, uma produção artesanal. Então, essas áreas todas de Rondônia, eram áreas de seringais e o governo, com os seringais desativados, aquilo viraram terras abandonadas, basicamente. Tinha um ou outro seringueiro lá ainda que morava e tal, mas o governo quis, como eu disse antes, colonizar aquilo. Minha família foi nessa migração colonizatória e, sim, nós, essa migração da família foi pra isso, depois, um ano depois, pra tomar posse dessas terras e torná-las produtivas, né? Nessa visão do governo aí, né? Do Governo Federal.

OCTÁVIO - E um território que recebeu o nome do Rondon, né? Que foi um explorador militar.

SÁVIO - Exato.

OCTÁVIO - Não foi?

SÁVIO - Foi. O Rondon foi um grande… engenheiro, vamos dizer assim, dessa parte de telecomunicações, o objetivo dele era esse: estabelecer as linhas de telégrafo, montar uma linha de telégrafos, comunicação, né? E a ideia dele era nunca matar um índio, nunca, sempre… e nunca matou. Interessante isso, né? Eu li biografia do Rondon e te digo, assim, que era um caso único da história. O Rondon foi cogitado pra receber o Nobel da Paz, não sei se vocês sabem disso.

ALEXANDRA - Não.

SÁVIO - Na época, havia muito pouca divulgação do que realmente o Rondon fazia, né? Mas chegou até a academia sueca essa possibilidade, mas imagina, isso foi nos anos 40, talvez.

OCTÁVIO - Ou antes até.

SÁVIO - Ou antes, né?

OCTÁVIO - Ele foi guia dos Roosevelt, né?

SÁVIO - Sim, depois.

OCTÁVIO - Depois.

SÁVIO - Aí sim uns 40 talvez, não? Ou 50?

OCTÁVIO - Até antes, eu acho.

SÁVIO - Até antes? Pode ter sido.

OCTÁVIO - Ele já tinha sido presidente.

SÁVIO - Já tinha sido.

OCTÁVIO - Foi antes da guerra.

SÁVIO - Antes da guerra? Então, anos 20 ou 30, né? 30 talvez…

OCTÁVIO - É, 30.

SÁVIO - Então, sim, foi na década de 10, talvez…

OCTÁVIO - Início do século.

SÁVIO - Início do século, exatamente. Cê imagina, no início do século, Brasil, que era um país quase que exótico assim, visto como país exótico, e você falar de um cara que tinha feito uma obra inacreditável, gigante. Você sair do Mato Grosso, ir até quase o Acre cortando floresta virgem, nativa, assim, cheia de índios, feras e…

OCTÁVIO - Doenças.

SÁVIO - Doenças, exatamente. Você sabe como era a alimentação deles? Tinha um grupo da expedição que ia com as mulas, saindo de Cuiabá inicialmente, né? Levando charque, comida…

OCTÁVIO - Seca.

SÁVIO - Seca, carne seca e outras coisas. E, bom, eles estavam avançando, né? Essas mulas, esses muleiros, essa parte da equipe voltava de cada vez mais longe, então, chegavam um ponto da expedição em que eles demoravam muito pra chegar com a comida. E aí? Tem que comer, tem que caçar. E chegou um momento da expedição que eles, as mulas, demoravam demais pra chegar, demais mesmo, semanas pra chegar ali com a comida e também sob o risco de índios, de feras, de tudo, que eles eram outro… a retaguarda da expedição, mas corriam os mesmos riscos. Claro, menos, né? Porque eles estavam explorando, estavam abrindo, né? E… e eles não chegavam a tempo. E teve um momento da expedição que eles não conseguiam caçar, não achavam nada pra caçar, e a comida também não chegava, então, comeram urubu, pra você ter ideia. Que o Rondon conta na biografia dele, quer dizer, contam na biografia do Rondon que ele dizia – porque tem os diários da expedição – que foi a carne mais terrível (risos) que ele já comeu, porque era uma carne muito dura e não cozinhava de jeito nenhum, aquilo não adquiria. Acharam um bando de urubu e saíram matando um monte de urubu, né? Enfim, as dificuldades eram imensas, ele foi um grande pioneiro de grande valor humano, porque eles, o propósito dele era não matar, contactar e não matar, tornar os índios parceiros dele, amigos. Então, isso foi um grande feito naquela época em que os índios eram vistos pelo resto dos militares, pelo governo e pela população em geral, como inimigos, foi um… entende? Uma missão que ele cumpriu com grande louvor.

OCTÁVIO - A escravidão tinha apenas acabado. Canudos tava próximo ali…

SÁVIO - Exatamente, bem próximo. Então, assim, eu considero Rondon, na minha concepção, Rondon é um dos grandes heróis do Brasil, mas ele não é visto assim não ainda. Deram o nome dele pra Rondônia, Território Federal de Rondônia, depois mudaram pra estado de Rondônia, quando acabou o território federal em 1980, por aí, setenta e pouco, oitenta, virou estado, né? Década de 80, eu acho. Mas é só, você acha um busto dele não sei aonde, mas ele não está naquela galeria que deveria estar, um herói da pátria. Os heróis da pátria são, em geral, os militares, os grandes guerreiros, vamos dizer assim, né?

OCTÁVIO - Matadores.

SÁVIO – Matadores, mas é uma pena, porque, assim, ele é um dos grandes da pátria, na minha concepção, que ele deveria receber todas as honrarias. Morreu muito idoso, acho que com quase cem anos ou beirando cem e era visto como uma figura meio exótica, “Quem é esse cara aqui?”, “Que isso?”, fazer a coisa toda sem matar nenhum índio? Tudo bem e tal, mas, assim, a elite militar do Brasil, que de fato sempre foi dominante aí, até pelo menos na época de 80, 90, eles sempre viram Rondon como uma figura meio exótica, assim, né? Tem valor o que ele fez? Claro que eles reconhecem que tem valor, mas é um valor menor, vamos dizer assim, entende?

ALEXANDRA - Você já conhecia, admirava, quando vocês mudaram pra lá?

SÁVIO - Sim, porque a principal avenida da cidade é a Avenida Marechal Rondon. Lá existe uma estação antiga dos Correios que Rondon construiu que hoje é o Museu Rondon, mas é um museu, nossa! Triste, aquela coisa assim tipo: “Deixa aí”.

OCTÁVIO - Qual é a cidade?

SÁVIO - Ji-Paraná, era Vila de Rondônia, depois virou Ji-Paraná. Sabe aquela coisa assim “Deixa aí”? Tá lá no centro, lá no coração da cidade, mas “Deixa aí, deixa e vai levando aí… Se tiver caindo alguma coisa a gente conserta e tal”, e eu mesmo doei a biografia de Rondon pra esse museu.

OCTÁVIO - Que não tinha.

SÁVIO – Não, absolutamente. A biografia, imagina, não tinha no museu.

ALEXANDRA - Quem escreveu essa biografia?

SÁVIO - Eu não me lembro agora. Mas a biografia que eu comprei num brechó, né?

OCTÁVIO - É.

SÁVIO - Ainda tinha lá dedicação de um político e tal… pra um outro político. Enfim, o livro foi passando… Era um livro importante, porque eram políticos, apesar dessa qualidade política que nós temos e esses eram dessa qualidade, era um livro com duas dedicatórias, né? Enfim, se você falar hoje, o livro não existe, eu te garanto, entende? Então, assim, é uma tristeza, o Brasil é uma tristeza, é lamentável.

00:50:33 - Migrações na década de 1970 / Transamazônica e Rodovia Manaus–Porto Velho (BR 319)

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Partial Transcript: OCTÁVIO - E eu pensava também, porque contemporaneamente que a sua família tava indo do Mato Grosso pra Rondônia começou a construção da ponte Rio-Niterói.

SÁVIO - Sim, foi nessa época.

OCTÁVIO - Foi 72.

SÁVIO - É.

OCTÁVIO - E isso também trouxe muita imigração do Nordeste. As pessoas que iam pra São Paulo, que vinham pro Rio, tinha muita migração contemporaneamente no país, indo pra colonizar, indo pras grandes cidades, pra indústria da construção, a modernidade do Brasil…

SÁVIO - Pro Pará, muita migração pro Pará.

OCTÁVIO - Pro Pará…

SÁVIO - Muita, Pará recebeu…

OCTÁVIO - Mas por causa do que, do minério?

SÁVIO - Não, por causa da terra, porque nessa época também foi construída a Transamazônica, lembra?

OCTÁVIO - Claro.

SÁVIO - A BR-364 cortava o Brasil, o Centro-Oeste e o Norte de leste pra oeste, vamos dizer assim, a grosso modo. E a Transamazônica... Desculpa, é leste e oeste? É, desculpa, desculpa, sul e norte. Imagina, leste e oeste, eu pensei na Transamazônica. E a Transamazônica de leste pra oeste. Então, assim, essa Transamazônica era pra ser asfaltada, era pra ter todo um… o projeto era esse, entendeu? Mas as terras se mostraram muito inférteis e ali não era como Rondônia, por isso que Rondônia recebeu essa leva muito maior, porque a terra lá era muito mais produtiva, entendeu? Então, assim, foi a época da Transamazônica também. A BR-319, que é a BR que vai de Rondônia a Manaus, que foi outro fracasso, até hoje essa BR não funciona, porque é uma região…

OCTÁVIO - Por causa do clima também?

SÁVIO - Por causa do clima e imprópria, são terras baixas que alaga muito, e você tem parte do asfalto que é feita com sacos de cimento inteiro. Nada dava certo ali. Eles começaram a colocar sacos de cimento inteiro puro, o cimento puro, né? Eu fiz essa BR uma vez a passeio, pra conhecer, e é uma coisa fantástica, porque em alguns trechos da BR a floresta pegou a BR de volta, é algo incrível de você ver, incrível assim. A força da natureza e a luta titânica do homem, do colonizador, com a força da floresta amazônica.

OCTÁVIO - Eu me pergunto que papel deve ter tido o Instituto Militar de Engenharia naquela construção de…

SÁVIO - Importantíssimo, sem dúvida, sem dúvida, fundamental. Porque a formação dos militares era, era não, é ainda, mas naquela época com as grandes construções existiam os batalhões de engenharia e construção, os BECs que a gente chamava; e na minha cidade tinha sede do quinto, 5º BEC. Esse 5º BEC fez história, ele era uma instituição fundamental, assim, de grande importância, estava lá estabelecida, está ainda, no coração da cidade. Ele foi, não é mais, mas já foi o motor da cidade, assim em termos de infraestrutura, entendeu? Porque era um território federal. Então, assim, era o Governo Federal mesmo que dizia, que decidia tudo, né? Depois, com a criação do estado, aí mudou, deslocou o poder local, vamos dizer assim, deixou de ser o Governo Federal pra ser o Governo Estadual, mas o 5º BEC continua lá ainda, ainda tem uma importância relativa, mas naquela época de território federal, ele fundamental aos batalhões, os vários que tem no Brasil inclusive, né? Batalhões de Engenharia e Construção. De engenharia e construção, então, veja você: é um… tá dizendo tudo já, né? Eles que realmente definiam a infraestrutura, né? Realizavam, definiam e realizavam, né? Decidiam tudo.

OCTÁVIO - É, planejavam e executavam.

SÁVIO - Planejavam e executavam, exatamente. Esses são os termos. Então…

00:54:56 - Montanhismo, ambientalismo e o projeto de recuperação ambiental do Pão de Açúcar

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Como é a sua vida hoje, então?

SÁVIO - Eu fiz carreira no Banco do Brasil, né? Me mudei pro Rio em 1985 e me aposentei em 2014.

OCTÁVIO - Temos tempo?

SÁVIO - Temos umas meia hora ainda. E me aposentei em 2014. Como eu disse antes, eu sou montanhista desde a década de 80, desde que me mudei pro Rio (tosse), desculpe. Paralelamente a essa atividade de montanhista, em 2002 eu adotei essas áreas pra reflorestamento, por entender que o montanhista também causa um impacto negativo. Convenci o meu clube de montanhismo como diretor que eu era de, passei a ser diretor do meio ambiente do meu clube, convenci eles a incluírem no currículo das formações dos novos montanhistas, chamados cursos básicos de montanhismo, a incluir essa… matéria, vamos dizer assim, de mínimo impacto em ambientes naturais, porque o montanhismo, basicamente, ele é praticado em ambientes naturais, em parques, em… unidades de conservação em geral. E… enfim, a gente ajudou a mudar um pouco esse conceito de que o montanhista tem que se responsabilizar também pelo cuidado, pela preservação das áreas naturais, ele não pode ser simplesmente um “usufrutário” e um causador de danos ambientais. Porque, quando você pega uma via de escalada, você tem que limpar ela toda da vegetação, não há outra alternativa. Se você não limpar na hora de... tudo, né? Que uma parte sempre vai ter que limpar na hora da abertura da via. Se você não limpar tudo, você tem que depois aquele movimento da corda caindo, subindo, descendo, subindo e você rapelando, depois o montanhista fazendo isso, ele vai destruir o resto. Então, havia, se você olhar essa parede do Pão de Açúcar, por exemplo, na face sul aqui, vai ver as linhas delimitadas das vias de escalada. Então, eu, paralelo a esse trabalho, a essa minha atividade de montanhista, eu comecei o trabalho de como ambientalista também e tive ajuda dos clubes de montanhismo, enfim, a partir de 2004 eu comecei a abrir os mutirões que eu fazia apenas com os montanhistas antes, eu comecei a abrir os mutirões para pessoas que não eram montanhistas, pra dar a oportunidade dessas pessoas de darem uma contribuição para o meio ambiente e se sentirem também participantes desse cuidado com a natureza, vamos dizer assim. E é muito interessante eu ter grande prazer nisso. Eu tava fazendo uma conta agora, por exemplo, esse ano já passaram pelos mutirões até outubro, já passaram este ano 750 voluntários pelos mutirões de plantio mensais, que é uma vez por mês. Então, você vê, as pessoas querem participar, as pessoas se sentem hoje mobilizadas, incomodadas de não fazerem nada, então, elas querem participar, elas sentem… importantes também quando levantam do sofá no domingo, da rede, e vão lá plantar uma árvore, uma muda de árvore. Esse movimento, mesmo que essa pessoa só venha uma vez e só faça isso uma vez na vida, tá bom, ela fez o movimento, ela foi lá e executou um movimento em prol da natureza, em prol do meio ambiente, e isso causou um impacto nela, eu penso que isso acontece, né? É pouco? É claro que é pouco, mas, assim, é o que ela pode dar, o que ela consegue dar e ela fez o movimento e muitos não fazem movimento nenhum. Então, o projeto, ele é um projeto voluntário desde 2002, então ele tem 15 anos e meio e nesse momento eu tô assumindo uma outra área lá na Prainha, uma área de 40 hectares, se não me engano ou vinte e poucos hectares, eu não lembro direito, mas é uma área grande, o Morro do Caeté, a adoção já tá sendo preparada na prefeitura.

OCTÁVIO - Prainha é onde?

SÁVIO - É depois de Grumari, uma praia que tem um selo verde, maravilhosa, isso… E esse projeto vai exigir um pouco mais de esforço e vai exigir recurso financeiro também, porque é uma área muito maior, né? Ainda a gente tá começando a buscar, eu junto com uma ONG que tá me auxiliando nessa parte legal, burocrática, porque eu, apesar de executar esse trabalho e ter um nome oficial, eu nunca tive recurso pra criar uma ONG, pra administrar isso, pra enfrentar essa burocracia e preferi manter... não legalizar o projeto, apesar de eu ser o adotante oficial junto à prefeitura, eu sou adotante como pessoa física. Então, o projeto não tem recursos próprios, a gente vende camiseta, vende essas canecas, vende uma mochila, vende, enfim, um boné e tal e vai conseguindo levar o projeto desde 2016. Com essas vendas eu tenho recursos próprios pra bancar o ajudante e outras despesas, mas até 2015 eu colocava dinheiro do bolso, além do trabalho, eu também colocava recursos próprios no projeto. A prefeitura é parceira fornecendo as mudas e alguma estrutura, e o projeto tem sido um sucesso, a gente, as áreas possíveis de reflorestamento foram reflorestadas aqui na face leste e face sul do Pão de Açúcar. Nós estamos aqui na base de uma das áreas que a gente reflorestou, que é o chamado Paredão Lagartinho, a gente pode subir por aqui ou contornando que é melhor. Essa área lá em cima foi reflorestada e mais três faces, áreas na face leste do Pão de Açúcar. Considero que o projeto é um projeto vitorioso, vamos dizer assim, é um projeto que cumpriu o que se propôs ao longo desses anos. E eu queria destacar também, assim, que muita gente faz esse tipo de trabalho, inicia esse tipo de trabalho, mas por circunstâncias diversas, que às vezes pode ser até questão de saúde, fora do controle dele, dessa pessoa, eles abandonam o trabalho. Ao abandonar o trabalho, muito do trabalho, senão todo dependendo do estágio em que ele é abandonado, muito do trabalho se perde, literalmente falando, o capim volta a tomar conta e, enfim, o propósito não se cumpre. Uma das qualidades desse meu trabalho é que eu estou nele permanentemente desde 2002, a perenidade desse trabalho fez toda a diferença, aliás, como em qualquer projeto, eu diria assim, em qualquer projeto, seja social, seja ambiental, né? A perenidade faz toda a diferença. Não que no caso, por exemplo, social é um pouco diferente, porque, se você trabalha um ano com criança, você vai ter um resultado relativo; mas, se você fizer esse mesmo trabalho em um ano ambiental, a possibilidade de reversão é muito maior, talvez também com criança, não sei, mas eu acho que é um pouco diferente, porque fazer a substituição da espécie exótica pela nativa e obter esse resultado, que é um resultado de médio-longo prazo, realmente só a perenidade trás. Então, uma das qualidades desse trabalho e fundamental pro resultado é essa perenidade de 15 anos que é devidamente reconhecida por alguns prêmios, já foi concedido pelo projeto, e claro, é uma alegria pra mim. Uma felicidade eu estar hoje lá na face leste debaixo de árvores que eu plantei, onde antes eu trabalhava no sol pleno, eu trabalho hoje na sombra fazendo a manutenção… ver os pássaros de volta, os próprios micos que infelizmente também se mudaram pra essa nova área. Tem o lado negativo e tem o lado que pode-se dizer positivo, por que eles se mudaram? Porque existe um ambiente agora propício pra esses animais, negativamente porque eles matam os filhotes de pássaros, comem os ovos, mas positivo, porque ele é um indicador de que aquela área se tornou uma área possível de uma família de micos sobreviver. Então, assim, eu tenho esses indicadores que corroboram isso que eu estou falando da perenidade, do resultado, do céu ali que já tem, das copas das árvores, né? A interrupção do ciclo de perda do solo, né? Eu esqueci o nome agora que se usa, da erosão, né? A interrupção do ciclo da erosão e já estamos numa segunda geração de plantas, porque as próprias plantas já deram flores, já deram frutos, já produziram semente e, embaixo de um pau-brasil que já tá com uns três metros lá de altura, eu vi vários filhotes de pau-brasil. Isso é incrível, assim, né? Pau-brasil, pitangueiras, pitangão, que a gente chama, que é uma pitangueira diferente, né? Enfim, eu considero que é um projeto vitorioso, modéstia à parte, deixa ela quietinha aqui. Enfim, é um reconhecimento pessoal de algo que eu faço com muito prazer e com muita satisfação e me considero, nesse sentido, um cidadão que faz algo pequeno, numa área pequenininha, pro meio ambiente da cidade que eu vivo e que eu amo, que eu adotei, né? E um dos objetivos desse meu trabalho é justamente esse, né? Demonstrar que o cidadão comum pode fazer algo em prol da sua cidade, não precisa ser uma coisa grande, não precisa… porque, se cada um fizer uma pequena parte, a cidade vai ser diferente, vai ser melhor, e a sua cidadania vai ser exercida com mais consistência, mais importância pro ambiente que você vive, pra cidade que você vive. É isso.

ALEXANDRA - Terminou seu trabalho aqui?

SÁVIO - Não, esse trabalho nunca termina (risos).

OCTÁVIO - Falando em perenidade, né?

SÁVIO - Eu posso dizer, assim, que... eu poderia dizer que atingi o objetivo que eu queria atingir dentro desse meu projeto, né? Mas absolutamente não. A gente chama de estágios sucessionais, né? A sucessão biológica ali, né? Eu planto inicialmente um tipo de árvore que cresce rápido pra ela sombrear logo, essa árvore que cresce rápido, ela morre rápido também ou ela é fraca, o vendaval derruba ela, quebra galhos, enfim, ela sofre muito com a competição das outras e… Então, assim… depende do que se quer, do objetivo que você tem. Existe as primárias, as secundárias, as secundárias tardias e depois é que você tem as chamadas espécies clímax, que são aquelas grandes árvores tipo jatobá, tipo jacarandá, o pau-brasil… são espécies de madeira mais densa e que demoram mais a crescer e que as... Na natureza elas só aparecem quando têm um ambiente bom, propício pra elas aparecerem, né, pra elas sobreviverem, pra elas germinarem. As sementes estão lá nos bancos de dados às vezes, né? E elas só vão germinar dentro de uma condição ambiental ideal pra elas. Então, assim, se quiser trabalhar 50 anos num projeto desse, você tem trabalho consistente pra fazer durante 50 anos, trabalho de qualidade. Então, assim… mas eu diria que o objetivo básico do projeto está cumprido, o que vai exigir agora é essa manutenção, essa… trabalhar esses estágios sucessionais, um capim residual, entendeu? Uma… um trabalho de educação ambiental, por exemplo, que eu faço também, nesses mutirões tem esse aspecto de educação ambiental, de primeiro contato das pessoas com atividade de plantio, né? Enfim, muitas dessas pessoas que vêm ao mutirão nunca plantaram uma muda, vivem uma experiência que pra elas é extremamente gratificante, como eu disse antes, porque eles saem de casa no domingo, resolvem, tomam a decisão de ir participar de um mutirão num ambiente natural, colocar uma muda no chão, plantar aquela muda, e isso tem um impacto na vida dela importante.

OCTÁVIO - Simbólico, né?

SÁVIO - Simbólico, sim! E psicológico. E ela se sente, sente que ela fez algo pela natureza. Mesmo, como eu disse antes, que ela faça uma única vez. OK, ela se levantou do sofá domingo e veio plantar uma muda. Eu acho isso positivo, como eu disse.

ALEXANDRA - O Exército já entrou também?

SÁVIO - Já, eles já contribuíram umas vezes com transportes de mudas e… enfim. Eu preciso até retomar isso, é bom que eles participem mais vezes, mas já são…

ALEXANDRA - Precisa de muitas pessoas.

OCTÁVIO - Muitos recursos humanos, né?

SÁVIO - Sim, sim. São receptivos a esse… enfim, dão outros tipos de apoio também, apoio administrativo, né? Enfim…

01:09:56 - O futuro do projeto de recuperação ambiental do Pão de Açúcar

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Se você quiser já começar a andar de volta, a gente pode.

SÁVIO - OK. Vou tomar mais um gole de água.

ALEXANDRA - Beber água, isso. É… Puxa! Essa conversa é tão boa! A gente pode continuar conversando por muito tempo, né?

SÁVIO - Temos uma tampa? Temos, né?

OCTÁVIO - Aqui. Eu tava pensando também, falando em perenidade, né?

SÁVIO - Eu lembro. Vocês perceberam que estamos num bosque de pitangueiras aqui?

OCTÁVIO - Sim.

SÁVIO - Sim, perenidade?

OCTÁVIO - E informação.

SÁVIO - Aham.

OCTÁVIO - Qual é a sua visão, como imagina daqui a 20, 30, 50 anos?

SÁVIO - O que?

OCTÁVIO - Vai ter alguém que vai continuar o seu trabalho, pra que o projeto continue, pra… ou é um projeto intimamente ligado com você?

SÁVIO - Olha, eu diria que esse projeto, ele é muito pessoal no sentido de que é um compromisso meu. Pode ser que surja uma pessoa que resolva assumir o projeto quando eu não estiver mais em condições ou se eu me for, enfim… nessas situações. Mas eu não sei se… É difícil dizer se alguém assumiria nesse nível de responsabilidade, de compromisso, melhor dizendo, nesse nível de compromisso, porque isso envolveria uma série de questões, né? Tipo: compromisso, esforço físico, disponibilidade de tempo, sentir o prazer de fazer isso… pode ser que surja, mas não tem como saber, acho. Até porque, assim como eu disse, o objetivo inicial foi cumprido e não sei se encontraria outra pessoa com olhos, com esse olhar pra natureza nesse nível, né? Nesse…

OCTÁVIO - Um filho?

SÁVIO - Não, não sei. Meu filho participou. Um filho, né? O mais velho participou já de várias atividades, nos dois últimos mutirões inclusive, mas, como eu disse, é muito pessoal, né? As pessoas têm seus projetos de vida, jovens, em especial, têm as suas atividades de lazer, né? E tem uma outra coisa assim que eu acho que, no meu caso, como eu fui criado em área rural, eu tenho, ou intuitivamente, ou na prática, tenho um esforço físico, uma coisa de saber usar as ferramentas, de administrar até um ajudante, um auxiliar de campo, que, assim, eu sei se o cara tá me enrolando ou não, se ele tá trabalhando, entende? Não tem como, assim… Já aconteceu algumas vezes isso, da pessoa se dispor a ir trabalhar, ganhar uma diária, mas você chega lá, o cara não, sabe? Não tem… não rende, quer dizer. Aquela pessoa não irá mais, é claro, porque eu tenho que ter alguém que trabalhe, que faça o trabalho de campo pesado, né? Atualmente. No início eu fazia tudo, mas, assim… são coisas… até administrativas, como essa, por exemplo, que se você não tiver uma experiência, tanto de vida, quanto de prática mesmo, né? De observação ou de vivência, que não funciona, né? A pessoa vai ficar ali numa… marcando passo e não vai desenvolver o trabalho, não vai conseguir e ainda vai se desgastar, às vezes.

(Toque de celular)

SÁVIO - Não, é o despertador avisando que eu tenho consulta às dez horas.

OCTÁVIO - Ainda bem que já acordamos, né?

SÁVIO – É.

01:14:40 - Ilha Cotunduba e Prainha

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Partial Transcript: OCTÁVIO - Cotunduba.

SÁVIO - Cotunduba. Uma outra, uma outra… possibilidade também de trabalhar.

OCTÁVIO - Tá contemplada como possibilidade?

SÁVIO - Sim, há muitos anos.

OCTÁVIO - Então, por que Prainha e não Cotunduba?

SÁVIO - Porque a Prainha é… está pronta, vamos dizer assim. Até mesmo o projeto a prefeitura já fez.

OCTÁVIO - A prefeitura de?

SÁVIO - Do Rio. E até mesmo… o acesso. Aqui não, depende de barco, de uma estrutura cara. Cada vez que for e voltar… é de barco, né? Enfim.

OCTÁVIO - Curioso, porque é mais próximo.

SÁVIO - Em termos, né? Porque eu tenho que sair lá do… “ancorador”, como é que chama, pra acessar. E numa situação de emergência, como é que você sai? Liga pro barco, o barco tem que vir correndo… É uma estrutura diferente, né? Exige uma outra estrutura. Mas, também, havia uma grande quantidade de capim ali que hoje tá bem recuperada.

OCTÁVIO - Alguém fez ou foi natural?

SÁVIO - Não, a regeneração natural.

OCTÁVIO - É possível também…

SÁVIO - Há dez anos tinha muito capim do lado de cá, mas, enfim…

01:16:09 - Reflorestamento do morro da Babilônia / ONGs

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Partial Transcript: SÁVIO - Isso aqui tudo também era um grande capinzal, vocês sabem dessa história?

OCTÁVIO - Não.

SÁVIO - Tudo isso era um grande capinzal. O único resíduo que tinha era ali naquele grotão, né? E lá perto do forte e aqui.

OCTÁVIO - O Forte do Leme?

SÁVIO - É, e essa mata mais verde aqui embaixo. O resto todo foi replantado.

OCTÁVIO - Por quem?

SÁVIO - Por uma cooperativa que tem lá no Leme, naquela comunidade da Babilônia, né? Chama-se Co-babilônia e bancada pelo Rio Sul. Eles ainda bancam isso aí. Foi um ataque que a gente chama, né? Em termos de ajustamento de conduta, coisa assim, porque eles cortaram a rocha sem autorização da prefeitura, aí eles tiveram que fazer um compensação, e essa compensação deles foi pagar, bancar o projeto aí de reflorestamento do morro da Babilônia e desses outros dois morros aqui. Terminou o trabalho, a obrigatoriedade deles, né? E eles continuaram voluntariamente, continuam ainda.

OCTÁVIO - As empresas têm que lavar a imagem também, né?

SÁVIO - Ah, com certeza.

OCTÁVIO - A culpa…

SÁVIO - Hoje em dia esse é um diferencial muito valorizado pelo consumidor, né?

OCTÁVIO - E também uma oportunidade pra projetos que precisam de financiamento, né?

SÁVIO - Ah, com certeza, isso é fundamental.

ALEXANDRA - Pão de Açúcar doa?

SÁVIO - O Pão de Açúcar não.

ALEXANDRA - Ele também patrocina?

SÁVIO - Pro meu projeto, você diz?

ALEXANDRA - É, o supermercado.

SÁVIO - Ah, o mercado?

ALEXANDRA - É.

SÁVIO - Eu não procurei isso, fui instigado várias vezes por voluntários, né, a… Pode deixar que eu levo, ou você que usar?

ALEXANDRA - Não, não.

SÁVIO - Fui instigado várias vezes a procurá-los, mas… Não sei, eu fico em dúvida, porque esse projeto aqui, qualquer patrocínio que eu vá buscar, por exemplo, eu não posso ser pessoa física, tem que ser pessoa jurídica, uma ONG, né? E, como eu disse antes, assim, eu não sei se vale à pena, aqui não precisa de tanto recurso assim, e eu teria que entrar na burocracia do contador, de criar uma ONG e fazer aquelas, todos aqueles recolhimentos… a velha burocracia, né? E eu fujo dela, porque, assim, eu detesto essa parte assim. Se não for estritamente necessário, eu vou fugindo dela, eu vou deixando… eu vou evitando a burocracia, né? E no Brasil a burocracia é um elemento (risos) complicador ao extremo, né? Tanto pra você abrir uma ONG, quanto pra você fechar. Quer dizer, porque a ONG é uma empresa, você abre como empresa e depois ganhar o selo de ONG, né? Junto ao Ministério da Fazenda.

01:19:33 - Residência em Botafogo / Espécies vegetais / Pássaros

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Sávio, você já morou na Urca?

SÁVIO - Não, morei em Botafogo, ali em frente ao Rio Sul.

ALEXANDRA - Tá.

SÁVIO - Esse aqui era o meu quintal praticamente, né?

OCTÁVIO - Você morava no (?)?

SÁVIO - Não, embaixo, na rua debaixo, ali na General Goes Monteiro, quase na esquina ali, quase em frente o Rio Sul.

ALEXANDRA - E outra pergunta que ficou comigo era se, qual é a relação, então, entre a vegetação Pão de Açúcar e a Baía de Guanabara, tem alguma? Ou o mar…

SÁVIO - Relação?

ALEXANDRA - É…

SÁVIO - Mas de que tipo de relação?

ALEXANDRA - São… são biosferas diferentes ou um depende do outro de alguma forma completamente distintas?

SÁVIO - São distintas. Vou te mostrar um negócio aqui, pra vocês. Isso é um cacto nativo raro, tem poucos, pouquíssimas espécies aqui, na verdade só conheço dois: um aqui e outro lá na face leste. Ele é muito diferente do… dos cactos tradicionais que você vê aqui na Orla em geral, né? Na beira mar. Mas eu acho muito bonito.

ALEXANDRA - É lindo!

OCTÁVIO - Parecem folhas.

SÁVIO - Sim.

ALEXANDRA - Tem nome?

SÁVIO - Não sei o nome dele. Não é bonito? Pouquíssimos espécimes, só conheço dois. E aqui, infelizmente, é a leucena, que é uma praga aqui. Uma espécie exótica de novo, invasora, extremamente competitiva. Essas todas aqui. Todas…

OCTÁVIO - São?

SÁVIO - Leucenas.

OCTÁVIO - Leucenas?

SÁVIO - É, é uma espécie que vem lá do México, América Central.

OCTÁVIO - Alguém plantou?

SÁVIO - Alguém plantou, é, saiu distribuindo. Isso aqui, anos 80, tinha nada, era tudo raspado aqui. E aí alguém jogou essas sementes aí e virou esse bosque de leucenas. Elas estão todas sendo retiradas, serão retiradas, né? Pela adoção que o Bondinho fez pra fazer o manejo das espécies exóticas invasoras, e aí todas elas serão retiradas, tá aqui a foto de uma delas, né? E a outra foto é da jaqueira, que também é uma espécie exótica, né? É da Índia, uma espécie asiática. Índia, Ásia, nem sei, me confundi agora. Enfim, é da Índia.

ALEXANDRA - Indiana.

OCTÁVIO - E onde que eles vão levar?

SÁVIO - Ah, isso vira lixo, né? Composto orgânico, né? Mas o trabalho tem que ser feito aos poucos, porque obviamente não pode causar impacto muito grande, né? Se não os frequentadores acham que você tá tirando a floresta, né? Eles não entendem, ou melhor, dizendo, têm muita dificuldade de entender isso, porque, assim, “Ah, é uma espécie exótica”, “Mas, pô, já tá aí, já cresceu, já tá dando sombra já, os pássaros estão fazendo ninho, os macacos, os micos estão…”, né? E aqui a gente tem um bosque, quase um bosque de chichá.

OCTÁVIO - Chichá?

SÁVIO - Chichá é essa espécie aqui, oh. Aí aquelas árvores que você vê de tronco mais branco, mais uma no meio, tá vendo? São todas de chichá. Ali tem várias, tá vendo? Pequenas, médias… Então, outras ali…

OCTÁVIO - Nativas?

SÁVIO - São nativas. Outra aqui, outra aqui. Não, essa não é não. Ali, tá vendo? Olha lá uma outra maiorzinha. E a mãe é aquela grande lá. Nativa, chichá é nativa. Ele dá um fruto desse tamanho assim, sabe? Que se abre em dois, e aí a semente tá ali no meio.

OCTÁVIO - Não é comestível.

SÁVIO - Não. O Bondinho tá fazendo esse trabalho, né? Nas laterais da pista Cláudio Coutinho. Uma adoção, também, que eles fizeram. E na trilha do Morro da Urca, que foi toda recuperada também.

OCTÁVIO - Sim, a Roberta é responsável por isso, né?

SÁVIO - Isso, é… exatamente. Pelo Bondinho ela é a coordenadora. Mas esse é um cantinho especial do Rio, não é?

OCTÁVIO - Muito especial.

SÁVIO - Olha outro deslocamento que teve aqui, esse foi mais recente.

OCTÁVIO - Foi mais recente, eu lembro.

SÁVIO - Derrubaram algumas árvores. Um grande temporal também.

ALEXANDRA - Esse lado aqui, qual é?

SÁVIO - Aqui é…

ALEXANDRA - Já é o Morro da Urca?

SÁVIO - O morro da Urca e esse aqui é o Paredão Lagar… Descoloridos. Tem várias vezes escalada, cada uma tem o nome de uma cor. Azul, vermelho. Inclusive tem uma cor que é uma cor rara, cor de burro quando foge (risos).

OCTÁVIO - Como é?

SÁVIO - É uma cor indefinida, quase uma piada brasileira, mas tem uma via com esse nome. A via é a “cor de burro quando foge”. Olha, nós estamos ainda na primavera, né? Olha como tá tudo seco. Caiu uma pequena chuva esse fim de semana, né? Deu uma… quebrou esses, mas não foi o suficiente, claro, né? E depois vem o verão. Uma das dificuldades que a gente enfrenta lá na face leste é justamente essa dificuldade: plantar em áreas com pouco solo e fazer, conseguir fazer, achar as espécies certas pra que mesmo com o sol inclemente, salinidade forte, vento forte e pouco solo, pra que ela consiga sobreviver. Então, você tem trechos lá que têm grande quantidade de bromélias assim, porque é uma das únicas espécies que conseguem sobreviver em costões rochosos. Essa aqui também.


OCTÁVIO - Tem como levar água pra lá?

SÁVIO - Não, isso… isso não adiantaria também, porque você molha, quando você rega a planta, né? Molha, você dá melhores condições pra ela sobreviver. Vamos dizer que isso aconteça, por exemplo, numa época que chova bastante também, a planta vai crescer mais num ambiente muito rústico, muito… difícil pra ela sobreviver como ambiente natural. Bom, ela vai crescer um pouco mais, se ela vai crescer um pouco mais do que cresceria naturalmente, ela vai precisar de mais água, e como que você vai fazer? Vai ficar colocando cada vez mais água? Não tem como. Vai chegar um momento em que ela vai precisar sobreviver sozinha. Então, esse é um processo muito difícil. Ou a planta sobrevive conseguindo… / Bom dia! Tudo bom? / Ou a planta sobrevive conseguindo, vamos dizer assim, se equilibrar ali naquele meio ambiente, naquele ambiente ou ela não serve pra aquele ambiente. Não adianta criar um artifício, né?

OCTÁVIO - Expectativa.

SÁVIO - É, porque em algum momento ela vai ter que sobreviver sozinha, e nesse momento seguramente você vai perder uma planta grande, teu processo vai todo recomeçar do zero. Eu vi isso muitas vezes acontecer. Tem algumas que são realmente guerreiras, né? Que a gente chama. São plantas de grande capacidade de adaptação, como essa aqui, por exemplo, são nativas e elas são capazes de estabelecer na própria rocha, nascem na fissura da rocha, lançam a raíz, ou por dentro, ou por fora, e, como num milagre, elas vão buscar nutrientes na menor reentrância que elas encontrarem na rocha, né? E… eu considero quase que um milagre, uma planta dessas sobreviver.

OCTÁVIO - Que planta é?

SÁVIO - É uma figueira, figos, que é essa aqui também, né? Da esquerda. Aquela grande ali também mais abaixo, né? Em cima tem uma jaqueira, mas essa é mais, de galhos mais horizontais. São apenas uma figueira, se eu não me engano, só ou duas, não sei. Duas, são duas, mas viram um gigante, né? A planta é muito grande mesmo. Mas olha isso, como é que pode esse tronco estar, ele entrou atrás da rocha, tá vendo? Ele tá abrindo aquela rocha ali, ele tá abrindo. Com o tempo, uma força da planta, da raiz dela, ela vai soltar esse. Tá vendo? Já tá tudo rachado aqui em cima, então, tá criada a situação pra essa fazer como essa aqui também, se soltar a placa superficial da rocha; mas ela vai sobreviver de qualquer forma.

OCTÁVIO - E que pássaros têm lá agora que tem…

SÁVIO - Aqui nós temos muitos pássaros nativos, né? Olha outro exemplo aqui, olha o que ela faz.

OCTÁVIO - Também figueira?

SÁVIO - É, é impressionante a força e a capacidade de adaptação dela, mas ela nasceu na rocha pura, a semente caiu lá, germinou e foi lançando suas raízes. Nós temos muitos pássaros que são residentes, né? Vamos dizer assim. E pássaros também que são…

OCTÁVIO - Migratórios.

SÁVIO - Migratórios ou, então, assim, vivem mais ali, vêm aqui também e tal, mas não são residentes mesmo, moram aqui por perto. Tem o… mais bonito, que eu considero aí, que é o tiê-sangue, que é um pássaro muito vermelho, muito bonito. Nós temos a jacu, jacutinga, desses dois, que é um pássaro grande que parece uma galinha assim, um frango, né? De papo vermelho assim, muito bonito também. Urubus, né? Alguns tipos de sanhaços também… Rolinhas… são muitos tipos. Saíra…

OCTÁVIO - Fragatas?

SÁVIO - Fragatas sim, mas elas não…

OCTÁVIO - Não param.

SÁVIO - Não param aí, elas sobrevoam, mas elas ficam lá nas Ilhas Cagarras.

OCTÁVIO - Ah, ficam lá?

SÁVIO - É, são…

OCTÁVIO - Não na terra firme?

SÁVIO - Não em território assim, só nas Ilhas.

01:32:31 - Educação ambiental em parceria com escolas

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Partial Transcript: OCTÁVIO – A ver aqui a horta da escola Gabriela Mistral.

SÁVIO - Tá bonita, olha só.

OCTÁVIO - Desde nova tá ensinando às crianças…

SÁVIO - Aquele?

OCTÁVIO - A gente fez canoagem com eles…

SÁVIO - Legal! Muito legal esse trabalho, né?

ALEXANDRA - Cê tá levando criancinhas assim também?

SÁVIO - Já levei algumas vezes, poucas vezes, porque…

OCTÁVIO - Pequeninhas tipo creche ou não, são muito pequenas?

SÁVIO - Não, são muito pequenas. Há um certo risco de você levar crianças assim para à área natural. Quando vão, vão com os pais, claro, não posso me responsabilizar.

OCTÁVIO - E às vezes elas vão com os professores?

SÁVIO - Sim. Foi feito um mutirão agora em Setembro com a Escola Santa Marcelina, Colégio Santa Marcelina, fica lá no Alto da Boa Vista, mas eram adolescentes.

01:34:01 - Encerramento

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Partial Transcript: ALEXANDRA - Espero que nós não cansamos você demais…

SÁVIO - De forma nenhuma.

ALEXANDRA - Você falou tão bem!

OCTÁVIO - Você tem uma voz ótima também.

SÁVIO - Eu sou montanhista, tenho o que?

OCTÁVIO - Uma voz ótima!

ALEXANDRA - Sei, montanhista tem… / Olá, tudo bem?

SÁVIO - Bom dia! Tudo bom?

OCTÁVIO - Tudo bem? Montanhista tem história, é isso?

SÁVIO – Iracema é voluntária aí. Não, mas tem dificuldade para caminhar, não tem dificuldade.

ALEXANDRA - Como é que se diz?

OCTÁVIO - Resistência.

SÁVIO - Resistência.

ALEXANDRA - E paciência.

SÁVIO - (risos) É um prazer, é um projeto muito interessante o de vocês.

OCTÁVIO - A próxima vez vamos ir pra lá, vamos entrar.

SÁVIO - Ah, vamos!

OCTÁVIO - E vamos levar, se tiver mudas, a gente leva uma cada um.

SÁVIO - Sim, exatamente o que eu pensei.

OCTÁVIO - Contribuirmos.

SÁVIO - Ótimo, excelente! Será um prazer! Eu achei que fosse, porque vocês falaram, que fosse um projeto só de som, só de áudio.

ALEXANDRA - É, na verdade é, principalmente. A gente tá tirando foto pra…

OCTÁVIO - Como complemento.

ALEXANDRA - Pra ter um pouco de material visual se usarmos site, alguma coisa assim. Tudo que a gente tem, eu passo pra você.

SÁVIO - E eu queria uma foto de nós três.

ALEXANDRA - Eu também acho muito bom. Vamos tirar agora?

SÁVIO - Pedir pra aquele rapaz ali do samba talvez tirar, o que você acha? Dá samba isso, não dá?

ALEXANDRA - Com licença, você poderia tirar uma foto nossa? Deixa eu só ver aqui…

OCTÁVIO - Você quer que tire o microfone, tudo isso?

ALEXANDRA - É, pode ser.

OCTÁVIO - Garrafas de plástico.

SÁVIO - Vai aparecer a marca como patrocinador.

OCTÁVIO - Não… (risos)

SÁVIO - Manda a foto com o patrocínio aqui oh (risos)

ALEXANDRA - É, com água, com tudo.

NÃO IDENTIFICADO - Bateu umas três.

ALEXANDRA - Tá bom.

SÁVIO - Obrigado!