Narração: Izaias Augusto Santos dos Anjos, 2021.04.22

Territorios: Baia de Guanabara
Água!nabara - Território Urca é uma realização do Instituto Urca, da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal através da Lei de Incentivo à Cultura com o patrocínio da Companhia de Navegação Norsul.
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00:00:00 - Apresentação

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Partial Transcript: Alexandra - Eu tenho um projeto que se chama Água!nabara. Agua-nabara. E a ideia é que a gente tá gravando histórias de vida de 400 pessoas aqui na Urca só como exemplo pra ver se dá certo, que na troca das histórias de vida das pessoas bate mais empatia, bate mais é…desejo de trabalhar juntos, fazer alguma coisa do bem, não é? Como você…

Izaias - Em respeito da Baía de Guanabara.

Alexandra - Em respeito da baía da Guanabara. E que daqui a gente iria pra outros bairros em torno da Baía de Guanabara e descobrimos assim, herois, pessoas que estão fazendo coisas fantásticas e aqui compartilhamos um pouquinho a sabedoria deles. Só que é a história de vida da pessoa, não precisa ser… como é que você chegou a trabalhar com bombas de água, limpando caixas de água, mergulhando, tudo isso.

Izaias - Eu vou tentar, a gente, eu vou tentar explicar isso tudo, como cheguei à profissão hoje, como surgiu…

Alexandra - É muito casual assim, uma conversa.

Izaias - É, uma conversa.

Alexandra - Geralmente a gente até começa com o nome.

Izaias – É, não, eu vou começar me apresentando.

Alexandra - Seu nome.

Izaias - Minha idade, o bairro da onde eu vim, como comecei, a profissão, como comecei o mergulho…

Alexandra - Onde é que você está agora, o que você está fazendo…

Izaias - O que que eu tô fazendo…

Alexandra - Isso é só áudio, apesar de daqui a pouco eu vou pegar o meu celular e tirar uma foto de você também.

Izaias - Já tá gravando?

Alexandra - Já tá gravando, porém eu não to escutando.

Izaias – Não, então vamos começar, que aí eu já vou começar me apresentando.

Alexandra - Peraí, peraí.

Izaias - Se quiser gravar vídeo também, não tem problema, pra mim é até bom, que to a fim de dar um tempo agora, é…eu vou até ver se com o Geraldo Carneiro, a senhora sabe, né? Que eu atendo esses artista todo, né?

Alexandra - Sim.

Izaias - Eu vou mostrar pra senhora. Agora são 24 artista que tá no meu…de televisão. Artista, conhecido, e fora desembargadores, juízes, delegados que eu atendo. Eu tenho um celular aí, bem assim, minha cartela de cliente hoje, né. É bem…

Alexandra - Bem extensa.

Izaias - Bem extensa, muito extensa, porque através dessa minha profissão, graças a Deus… tá gravando?

Alexandra - Tô gravando.

00:02:22 - Formação como técnico hidráulico

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Partial Transcript: Izaias – Então, vamos lá. É, eu sou Izaias Augusto Santos dos Anjos, um técnico hidráulico, por que técnico hidráulico? Porque comecei muito cedo na profissão, na construção civil e me tornei hoje, com 44 anos, um técnico hidráulico, mas comecei como…na construção civil como ajudante, então fui pro SENAI estudar Hidráulica, estudei Hidráulica durante 4 anos no SENAI, depois estudei mais 1 ano Elétrica, então uma formação de 5 anos dentro do SENAI, aonde era a maior escola profissionalizante que existia no Brasil, que hoje, infelizmente, devido às política mudou, então não tem mais curso profissionalizante para menores no SENAI que era muito interessante, porque realmente formava profissional. Hoje, pra se formar um técnico hidráulico, como eu, você tem que ter, no mínimo, 3 profissões junta, porque primeiro você tem que entender de bombeiro hidráulico, depois de elétrica e depois de equipamentos. Então, se você não souber hidráulica, não tem como trabalhar com aquecedor, se você não souber elétrica você também não tem como trabalhar com hidráulica, porque a hidráulica hoje ela modificou. Antigamente, nos anos 80, a Hidráulica, ela era feita de um jeito, hoje com as modernidade das torneiras, chuveiro, equipamento como aquecedores…então a hidráulica ela se modernizou. Então, torneira de monocomando precisa de pressão, então a hidráulica ela se modernizou, como tudo na vida se modernizou e, muitas vezes, na construção civil, a galera ainda não acordou pra isso, continua fazendo hidráulica. Então, todas hidráulica que se faz com projeto dos anos antigo, no final, vem dar problema. No momento eu me encontro aqui na Urca, fazendo um serviço, num conserto de um pressorizador. Sei que é coisas nova, quando se fala em pressorizador hoje muitas pessoas não vão saber, mas é muito comum na casa das pessoa, nessa hidráulica que modificou que é nova, né? Então, esse pressorizador ele faz uma pressão na água, então pessoas que moram em casa, último andar, cobertura e até no antimupenúltimo andar precisa de um pressorizador, porque senão o resultado final não vai ser um banho legal, a água não vai ter aquela satisfação que a pessoa, às vezes, espera, faz uma obra tão cara e no final dá errado.

00:04:57 - Experiência como mergulhador na Baía de Guanabara

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Partial Transcript: Izaias - Então, eu voltando, já apresentei minha profissão e quero me apresentar um pouco mais. O que acontece, eu muito cedo morava em Santa Teresa, então o quintal da minha casa, era a Urca, Praia do Flamengo, então conhecia uma turma de amigos e foi maravilhoso conhecer essa turma de amigos, que me tirou do círculo vicioso, né? Que era uma turma de amigos de mergulho, então eu acharia projeto igual a esse tinha que ter, porque isso ajuda muito jovem, crianças que as vez não tem, não conhece outra coisa e acabam indo pro mundo das drogas, por falta de conhecimentos. Então eles vê nas drogas um caminho mais fácil, um jeito de se alegrar e assim foi. Eu não, eu tive essa sorte de conhecer essa turma, então a gente era uma turma de mergulhador, que a gente começava nas pedras, caçando cocoroca e outras coisas assim, peixe, lula, alguma coisa que a Baía de Guanabara, há uns 20 anos atrás, ainda a gente ainda conseguia encontrar bastante fruto do mar com mais facilidade. Hoje, a Baía de Guanabara a gente encontra pneu, encontra sofá, encontra lixos variado. Agora, fruto do mar realmente, a gente quase não encontra. Até os mexilão, até os marisco, hoje diminuíram e, eu cheguei aqui na Urca…pessoas também… encontrar ostra. Hoje se você encontrar ostra na Urca e comer você vai morrer, porque a ostra tá contaminada; porque, graças a Deus, quando entra uma água do oceano, você ainda encontra uma água limpa, mas quando essa maré desce e baixa, aí é que vem a água lá de cima, vem uma água super imunda e aí a Baía de Guanabara realmente tá doente e no CT, assim, num estado muito grave. O estado hoje da Baía de Guanabara, quem mergulha, quem conhece o fundo, vê que se encontra…não sei nem se consegue hoje se recuperar a Baía de Guanabara pelo que se encontra dentro dela. Graças a Deus, aqui na Urca, como é o começo da Baía de Guanabara, você, quando entra nessa água, você ainda consegue ter uma visibilidade. Agora, no Flamengo, ali no aeroporto, é muita garoupa que tinha ali, imensa. Hoje é difícil você ir por ali, por quê? Água muito suja, água muito turva, então fica impossível você praticar esse tipo de esporte. É, inclusive, a gente sabe que a nossa bandeira do Rio de Janeiro é um golfinho, por quê? Porque tinha muito! Hoje você não encontra mais nada aqui na Baía de Guanabara, os bichos tiveram que se migrar pra outros lugares, então, assim, é uma situação, hoje a Baía de Guanabara é difícil, até mesmo, entende? Eu tenho amigo meu que não entra nessa água, eles prefere não arriscar a saúde, entende? Participei de alguns projetos sociais aqui na Urca, mas não me agradou, eu vi muitos interesses pessoais e me afastei, mas continuo mergulhando, assim que posso, cato muita pilha porque a pilha no mar ela é terrível, ela mata corais, mata tudo, porque ela tem uma química muito forte. Então, às vezes, os pescadores eles usam a pilha pra lanterna, pra aquelas bolinha luminosa e no final ou deixa cair sem querer ou joga no mar, eu não sei esse lance, eu não sei qual é, só sei que se encontra bastante pilhas no mar. Então, a galera aí que pesca, se puder evitar jogar pilha no mar eu sempre peço, porque a pilha no mar ela é terrível, ela causa…e já temos a poluição, né, dessa Baía de Guanabara, que é sofá, essas coisas que demora muitos anos, pneu, demora muito tempo pra sumir no mar.

Alexandra - É, fala do seu nome Izaias.

Izaias - É, igual me apresentei no início, meu nome é Izaias Augusto Santos dos Anjos, tenho 44 anos e desses 44 anos, 32 foi dentro da Baía de Guanabara, porque eu mergulho desde 12 anos de idade, igual eu falei no início que eu conheci esse pessoal de mergulho muito cedo, acompanhei eles, tenho amigos meus até hoje, filhos de amigo meu que começou comigo e a gente tem um grupinho de mergulho chamado Amigos de Mergulho e tamo nessa caminhada tentando. A gente não tem como limpar, mas alertar o povo, né? Como se encontra hoje a Baía de Guanabara, muito doente, muito doente mesmo, a Baía de Guanabara hoje tá no CTI.

00:09:47 - Microempresa

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Partial Transcript: Alexandra - Izaias, seu nome hoje faz parte do…

Izaias - É, hoje eu tenho essa empresa chamada Anjos do Lar Serviços, que é uma empresa, um micro, né, muito pequena, micro empresa chamada Anjos do Lar Serviços, que eu usei o meu nome, né? Que o meu nome é Izaias Augusto Santos dos Anjos, então usei o meu nome nessa micro empresa, assim como inspiração, né, que se chama Anjos do Lar, devido ao meu nome ser Izaias Augusto Santos dos Anjos, aí eu usei o meu nome nessa micro empresa. Graças a Deus, eu não mudei, deu muito certo, porque eu acho que o principal, se alguém quiser abrir alguma coisa, é você ser honesto, igual essa minha cliente aqui da AAS, outro cliente que por um acaso a gente se encontramo aqui no prédio, foi uma coincidência, um prédio até que não é grande e mostrar que o mundo é pequeno. Então, tem que ter muita honestidade e aí você vai ter muito sucesso. Qualquer coisa que você fizer que você botar a honestidade na frente, o teu sucesso é garantido, entendeu? Então, graças a Deus, hoje eu tenho uma cartela de cliente bastante variada; eu atendo muito artista, escritores, juízes, delegado, assim, atendo uma clientela bem variada, aqui pela zona sul, às vez atendo zona oeste, às vez zona norte, só não vou muito pra longe, porque não tenho como atender muito, porque hoje infelizmente a mão de obra também nesse país ela é extinta, então a mão de obra qualificada, como eu expliquei, que precisa fazer 3 cursos, se formar em 3 profissão pra ter uma, a galera, infelizmente, por falta às vezes de oportunidade, de financeiramente, não consegue concluir os cursos. Então, a mão de obra, ela é muito carente, aqui nesse… principalmente no Rio, é muito carente, então falta muito profissional. Então, não adianta eu também crescer muito e não ter profissionais qualificado, honesto, pra atender os meus cliente. Então, assim, eu levo muita honestidade comigo, então às vez não tem como crescer muito por falta de mão de obra. Hoje não é nem por falta de clientes, graças a Deus! Tamo no meio da Coronaviru, eu tive hoje 5 atendimento e tô vendo que empresas, como a Amoedo, não tinha 6, então, pra mim, eu me sinto, sabe, assim… não vi crise, graças a Deus, mas, é isso, o que eu levo comigo é a minha honestidade. Eu tento fazer o meu trabalho bem transparente, eu não levo bomba pra casa dos outros, assim pra minha casa, desmonto na casa do cliente, mostro realmente qual é o defeito, tudo direitinho, entende? Pra ser transparente para o cliente e poder manter o cliente, que normalmente eu não venho aqui pra ganhar o dinheiro do cliente, eu venho ganhar o cliente, pra mim poder ter sempre o cliente, porque quando a gente pega e pensa no dinheiro automaticamente você vai ganhar o dinheiro, só que você ganha e gasta, e aí? Da onde vem mais? Então é onde eu penso assim, eu penso que eu preciso ganhar o cliente, aquele dinheiro ali, normalmente, eu já saio da casa do cliente com o dinheiro já gast… porque hoje a gente vive assim, né? A gente ganha e paga as conta. Eu, por exemplo, sou assim, não tenho muita grana; eu tenho felicidade, amor no coração e tento usar o meu dinheiro da melhor forma possível, que não é muito, porque nesse país se você for honesto, você não ganha muito dinheiro, mas, porém, você consegue deitar, descansar sua mente, sem aborrecimento, isso pra mim é muito importante. Eu não ter, assim, aquela preocupação que enganei alguém ou que você, sei lá, nada, nada disso. Eu, e assim… e o mundo é pequeno, é um cliente, eu mesmo quase não tenho cartão, meus cliente são todo indicado, um vai indicando outro, uns cliente me indica com a maior emoção “não, pode ligar pro Izaias, que ele é bom”, então eu fico até triste se caso eu decepcionar essa indicação do cliente. Então, eu sempre trato os cliente com a maior honestidade possível, tá?

Alexandra -Tá ótimo.

Izaias - Então eu agradeço a todos aí que me ouviu, alguma coisa, desejo a todos aí saúde e paz e leva isso: honestidade! Isso aí é o principal em tudo.

00:14:14 - Origem e família

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Partial Transcript: Alexandra – É, onde é que você nasceu?

Izaias - Olha, eu nasci no Rio de Janeiro, tá, mas no município de... Nilópolis, Nova Iguaçu, na verdade, né? Entre Nova Iguaçu e Nilópolis. Agora, eu não sei muito a minha origem, assim, muito sobre, porque eu fui abandonado muito cedo pelos meus pais, então eu fui criado por terceiros. Então, assim, entre família eu, minha família, assim, são as pessoas que tão sempre próximo a mim, são as pessoas que me transmite carinho, paz. E assim, sou feliz, se eu falar também que não sou…

Alexandra – Você tem uma história de adoção.

Izaias – Isso! Eu bem dizer, eu fui adotado por uma senhora que não tinha muitas condição financeira, ela tinha muito amor e carinho, mas condições financeira pouca. Então eu fui pra obra muito cedo, foi aonde eu tive que ir pra obra com 12 anos, entende? E não tô triste não, eu acho que o trabalho ele não mata, ele enriquece. Não só dinheiro, ele enriquece o homem em caráter, em personalidade, em responsabilidade. Então, eu sou a favor do trabalho, não tô triste, nem um pouco, de ter trabalhado cedo.

Alexandra- Você tem 3 filhos?

Izaias - Tenho 3 filhos. São 2 meninas que é Laura e Carolina e um menino que chama Lucas que tem 21 anos. A Carol tem 14 e a Laura tem 4.

Alexandra - Ela já tá com 4!

Izaias - Já tem 4 anos, Laura já tá com 4 anos. Passa rápido, né, dona Alex? O tempo que a gente se conhece! O tempo ele voa, o tempo é uma coisa impressionante, ele é a cura também de muita coisa, né? Que a única coisa que cura tudo, na verdade, é o tempo. O tempo ele é um remédio, assim, que eu observei nesses anos, muito legal! Ele cura a dor, ele cura o amor, ele cura tudo! Uma vez um amigo meu perguntou o que era mais forte do que o fogo, né? Por que o fogo é uma coisa impressionante! Ele seca a água, ele derrete aço, ele…o fogo, ele é terrível! Mas o tempo, eu respondi pra ele, que mais forte que o fogo é o tempo, porque o tempo ele apaga o fogo, ele vai ficar queimando ali 1 ano, mas uma hora, o tempo, ele vai acabar com esse fogo, porque a substância vai acabar e o fogo vai ter que apagar. Então, a única coisa que cura tudo, apaga tudo, é o tempo.

Alexandra - E a água que você conhece tão bem?

Izaias - A água, com o fogo, ela seca, por incrível que pareça. É, dependendo da quantidade de, de…pode ver, tem… poços de petróleo que pega fogo e a água não apaga dependendo do fogo a água não vai apagar. Só quem vai apagar o fogo é o tempo. Então, a hora que acabar ali o petróleo, acaba. Pode demorar mil anos, mas, exatamente… agora, jogar água ali não apaga, por incrível que pareça, a água…o fogo… ele…ele…seja ser mais forte do que a água.

00:17:38 - Felicidade no trabalho e amor pela profissão

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Partial Transcript: Alexandra - Eu lembro uma vez, que você tava aqui pra limpar a caixa da água, você…era 40 graus aquele dia, um calor absurdo, você tava…como é que se chama aquele poço lá embaixo?

Izaias – É, ali é a cisterna.

Alexandra - Você tava dentro da cisterna.

Izaias - Da cisterna.

Alexandra - Por horas e horas e você saiu alegre!

Izaias – É, porque, olha só, eu acho que o trabalho ele enriquece o homem, como eu tinha falado, né? E assim, se você tá trabalhando, por pior que seje, você tem que agradecer a Deus. Assim, agradecer a Deus, porque quando você tá trabalhando é que você tá com saúde, é que você tá levando coisas boa pra dentro de casa. Então, por pior que o serviço for, você não pode ver um serviço como coisa ruim, você tem que ver o serviço como coisa boa, como coisa próspera. Então ele pode ser aquele serviço mais pesado que for, mas eu tenho certeza que, como eu, se a pessoa gosta de trabalhar, ela vai trabalhar feliz. A gente vê o exemplo do gari, né? Às vezes o gari ele tá ali, cara, um serviço pesado, por quê? Porque carregar caçamba de lixo, jogar num caminhão é pesado, perigoso, porque as pessoas, às vezes, bota vidro, seringa de qualquer jeito! Eles não lembra que ali tem um ser humano e o cara tá cantando, ele tá correndo ali na rua, ele tá trabalhando numa alegria; porque ele, pra muitos seria vergonha, seria pesado, mas pra ele não, aquilo ali, assim, é um ganha-pão dele. Eu tenho certeza, se você entrevistar qualquer gari, eles vão dizer “eu tô feliz, eu tô feliz aqui”, porque assim…é o que Deus, sabe, destinou pra você. Então, eu digo assim, na Terra eu aprendi, eu ouvi, isso aí eu ouvi de uma pessoa muito sábia que eu não vou citar o nome, mas muito sábia, que todo mundo aqui que trabalha é importante, seja ele um astrofísico como um varredor de rua, mas precisa do astrofísico como precisa do varredor de rua. Então, acho assim, que a pessoa, quando ela ganha uma missão pra fazer, ela tem que tá feliz igual a eu. Eu amo minha profissão, eu tive conversando com a dona Lilia Cabral, a atriz, tá até fazendo o Pereirão agora, eu falei “ó, dona Lília, eu sou feliz na minha profissão, eu não me sentia bem na sua profissão, porque a vida da senhora é muito exposta, a senhora não consegue sair na rua tranquila, a senhora tem que sair na rua de óculos, porque o dia que a senhora sair na rua e a senhora não tiver feliz, queima a imagem da senhora. Faz de conta, o dia que a senhora não quer tirar uma foto na rua a pessoa acha que você tem que tá ali sorrindo, porque se você não sorrir ali ela vai botar que você não presta. Então, assim, eu não, eu saio na rua ninguém me aborda pra tirar uma foto, uma selfie ou um autógrafo, não. Então assim, eu me sinto bem, sabe, nessa profissão. Eu tô aqui nesse momento consertando um pressurizador. Se eu te contar, muito feliz, muito, não trocaria minha profissão hoje por outra, inclusive que através dessa minha profissão as pessoas que eu passei a conhecer, os conhecimento que eu estive, pra mim, sabe, é muito legal, é muito legal! Porque eu conheço muitas pessoas hoje, graças a Deus, graças à minha profissão, sabe? É muito importante na sociedade, conheço muitos, fiz amizade hoje com muitas pessoas, então eu agradeço a essa profissão, então foi o que Deus me destinou, sabe? Essa profissão, então eu vou fazer ela com amor, com o maior carinho! Se eu tiver que quebrar uma pedra, igual que você me encontrou dentro de uma cisterna com mais de 40 grau, eu feliz, porque, sabe, eu acho que a pessoa tem que fazer o que gosta e tem que ser feliz com que é o que Deus destinou, sabe? Pra cada um. Então assim, eu sou feliz realmente, seja com peso de 20, 30, 40 quilos nas costas, seja no que eu normalmente, esses pressurizadores são instalados no sótão, então o sótão sempre é quente. Eu já estive em sótão com 70 grau, tinha que entrar e sair, entrar e sair… que era muito quente! 70 grau é um forno! Então, assim, teto de alumínio, debaixo, com sol de 40 grau, a sensação térmica é imensa! Igual aqui em cima mesmo no prédio quando tá 40 grau que eu vou consertar um pressurizador aqui, é muito quente, mas nem por isso a gente tem que ficar triste não, sabe? Acho que você tem que amar a sua profissão.

00:22:19 - Prazer em mergulhar

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Partial Transcript: Alexandra - Eu fico pensando que tem é…uma conexão entre esse mergulho na Baía de Guanabara, né? Quando você mergulha, qual é a sensação?

Izaias - Ah, a sensação quando eu to de mergulhando é assim…é prazerosa! Eu já eu não tenho como trabalho, aí eu já eu tenho como hobby. Até já usei, já fiz muito trabalho, porque às vezes me aparece embarcação pra limpar, aí eu não vejo como trabalho, aí eu vejo como divertimento. Eu já tive alguns, já me gerou alguns benefícios, alguma renda, que às vezes tem barco que eu vou limpar o casco por baixo, tem piscina que eu faço também, trabalho de troca de azulejo, aí eu tiro como um passeio, tiro como alegria, sabe? Aí eu já nem vejo como trabalho, eu vejo como um momento, assim, de distração, um momento de paz, porque quando você tá no fundo é um mundo diferente, né? É um mundo de paz, eu acredito que o fundo do mar é um momento de paz, é um momento muito diferente, sabe? É sensacional o fundo, porque…são coisas que ninguém vê. Tem pessoas que vai passar a vida inteira, vai ver pela televisão ou por imagem que não é igual, né? Você sabe, quando você vai num lugar, nunca é igual quando você vê na televisão. Então quando a pessoa vê o fundo do mar pela televisão é uma coisa, quando a gente vê aquele silêncio ou talvez algum ruído, alguma coisa assim é completamente, é um universo diferente, né? É tão diferente que o homem conhece mais o espaço do que o fundo do mar, isso é verdade, sabia? O homem conhece mais o espaço do que o nosso próprio planeta, que é o fundo do mar. Então, tem muita coisa no fundo do mar que o homem ainda não sabe, mistérios e mistérios.

00:24:08 - Relação humana com a natureza / Piscinão de Ramos e Ilha de Paquetá

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Partial Transcript: Alexandra - Qual é o papel que você acha que o homem tem é…com a natureza mesmo, assim…

Izaias - Olha, o papel que o homem tem com a Natureza é…o homem é totalmente independente da Natureza. Eu acho que o papel, o homem, eu acho que ele não faz o papel que ele deveria fazer com a Natureza, de cuidar de verdade, né? As pessoas, às vezes, tem grande educação, faz faculdade, isso e aquilo, mas vai na praia e joga o papel, joga o canudo; e já foi provado cientificamente que as tartaruga, elas não bebe água de canudo! Já foi provado cientificamente que as tartaruga não fuma cigarro e a galera vai lá e joga. Nem tartaruga, nem peixe, nenhum deles nem fuma cigarro, nem bebe água de canudo e toma a galera jogando lixo! Então, assim, e já foi provado que no mar também não tem trabalho de limpeza de Comlurb! A Comlurb, por exemplo, as empresas que faz limpeza urbana, elas também não tem trabalho que faz. Então, assim, o ser humano, ele perante a natureza, ele é bem irresponsável, né? Então, assim, eu acho que ele não faz o que o papel, nem sei quem é irracional, se é os peixes que só pensa…o peixe, ele só tem uma memória de 5 segundo, então o peixe já foi provado por alguns cientistas que o peixe ele só pensa por 5 segundo, então ele, o que ele, por isso que você não consegue amestrar um peixe, porque ele esquece, dá cada 5 segundo o que ele lembra agora, a cada 5 segundo, ele já esqueceu. Então, ele lembra e esquece, lembra e esquece a cada 5 segundo! Então já foi provado que o peixe não tem como fazer limpeza, então, assim…existe peixe chamado cirurgião,mas já vem na genérica dele que ele até faz, sabia? Tem um peixe que ele faz um trabalho de limpeza nos outros peixes, como o frade, é um peixe que ele limpa os corais, é um peixe que não pode ser morto, porque ele é o cirurgião dos corais. Ele que faz o trabalho de limpeza dos corais. Então, assim, mas isso é… já é a genérica do peixe, não é que o peixe aprendeu isso. O peixe ele, ele, ele…pelo que eu vi…pode ter sido, pode já existir outros estudos, isso aí eu não quero abrir questão, né? Isso aí já tá longe de mim, mas o que eu entendi de um cientista, que o peixe ele só lembra 5 segundo, então não tem como limpar o mar. Então o homem é que deveria fazer esse papel, né? Igual à Baía de Guanabara aí, ó! Tá totalmente imunda, totalmente! Quando vai ali pro bairro de Ramos, tinha uma praia, né? Não sei se a senhora já ouviu falar, praia de Ramos, foram obrigado a fazer um piscinão do lado da praia porque a praia não tinha como as pessoas entrar mais. E é uma praia que ela não tá tão distante da entrada aqui da Baía de Guanabara, né? Não é tão assim, tão distante lá de Ramos, você consegue até ver a entrada quase da Baía de Guanabara aqui entre os 2 morros, né? Que é o morro…é o Forte São João e o Forte Santa Cruz. Ali é a entrada da Baía de Guanabara, né? Então, assim, imagina quando você vai pra Magé, ali pra trás de São Gonçalo, porque a Baía de Guanabara é muito intensa, né? Tinha um lugar, não sei se a senhora conheceu, chamado Ilha de Paquetá, muitas pessoas conhecem. Ilha de Paquetá hoje, infelizmente, é uma tristeza muito grande você ir pra lá, porque a água você vê que não tem condição de você entrar, sabe? A água bem suja, a água bem…e era uma ilha, né? Tão glamurosa, muita gente ouviu falar na Ilha de Paquetá. Hoje tenho certeza que, assim, a galera aí tem 40, 50, 60 anos, foi em Paquetá, passeou, passou um domingo e hoje, eu tenho certeza, que a galera aí de 16, 18 anos não sabe o que que é Paquetá, porque não tem graça você ir pra lá, então você vai pra lá prum esgoto? Então a galera não vai mais, é triste!

00:28:12 - Mergulho com os filhos

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Partial Transcript: Alexandra - Você leva o seu filho pra mergulhar?

Izaias - Olha, eu levo, às vezes, a gente vai sim, sabe? Agora, por incrível que pareça a minha filha de 14 anos ela gosta mais do que meu filho. A minha filha de 14 anos ela já gosta mais do que esse meu filho de 21, ela já foi…ela já tem até uma roupa aí, que ela já se aventurou já a cair, tá? Então, como é menina e às vez vai muito homem, então tem hora quando eu vou com pouca, assim, pessoas, aí às vezes eu vou. E quando eu vou também, eu passo muito tempo dentro d’água, então…aí, às vez eu não levo ela por causa dessa causa: não tem companhia pra ela, então…mas meu filho, assim, por que mergulho, né, esporte é dom, né? E o mergulho é um dos esporte mais perigoso que existe. Então, assim, é dom, tem gente que olha o mar e tem medo, né, de entrar, porque é perigoso. Eu digo: mergulho é um esporte perigoso, eu já tive algumas aventuras graças a Deus que eu tava com uma faca, porque eu fiquei preso. Eu fui arpar um peixe, eu faço caça submarina e a corda enrolou na minha perna e eu não conseguia desamarrar e a lança presa na pedra. Sorte que eu tava com a faca, cortei e subi. Já tive amigo meu que teve apagão dentro do mar e eu consegui tirar. Por isso que é sempre aconselhável mergulho em dupla, mergulho não é aconselhável sozinho. É perigoso mesmo. Então o mergulho tem que ser em dupla.

00:29:58 - Lembrança do primeiro mergulho

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Partial Transcript: Alexandra - Você lembra da primeira vez que você mergulhou?

Izaias - Ah, lembro! Assim, as primeira vez é sempre interessante. A primeira vez foi ali na Praia do Flamengo em frente aqui à Urca, né? E foi ali no restaurante Rio’s, era restaurante Rio’s, então eu tava ali, foi quando eu comecei, um amigo meu…eu tava de bicicleta, aí tinha uns amigo meu caçando cocoroca com um arpão artesanal. Eu parei perto deles com a bicicleta e comecei a conversar e aí um me emprestou, eu lembro muito bem, que era uma máscara de nadar, era um óculos de nadar, não era nem…e aí eu não tinha snorkel, não conhecia, aí que eu comecei. Eu vi as cocorocas no fundo, olhei ali a praia do Flamengo, aquelas eu achei interessante, já me fascinou e dali pra frente eu já conversei com os caras, um cara falou que tinha uma máscara pra emprestar e eu não tinha roupa, era bem assim…mergulhava bem estilo pré-histórico, né? Com arpão, um arpão feito de vergalhão num elástico, de bermuda, sem roupa. Na verdade, o primeiro pé de pato, não era um pé de pato, era nadadeira da Redley que era pra surfar. Eu comecei assim: com um óculos, uma nadadeira que era de pegar surf, só isso e com arpão, né? Tinha peso, descia num……e assim foi. Aí conheci mais uns amigos e aí dali nós fomos se aperfeiçoando. Hoje, graças a Deus, eu tenho todo o equipamento de mergulho, câmera, tenho um arpão de verdade, roupas…graças a Deus! 3 conjuntos de roupa, meu equipamento, graças a Deus, é bem farto hoje, graças a Deus, né? Mas já vai fazer aí 30 e poucos anos de mergulho. Conheço bastante ponto de mergulho, já fui em bastante lugares bem interessantes pra mergulho.

00:31:51 - Curso de fotografia submarina

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Partial Transcript: Alexandra - Você estava me falando que está fazendo as aulas, né?

Izaias - É, agora eu fiz um curso de fotografia, de fotografia normal, é…no Ateliê da Imagem, aqui mesmo na Urca e…comecei um curso de fotografia submarina, mas devido a esse coronavírus… e o curso que eu conseguia é em Cabo Frio, então eu… Cabo Frio tá fechado e eu só consegui fazer, infelizmente, uma aula prática. Fiz algumas teóricas e uma prática, então, esperando passar esse coronavírus pra ver se completo esse curso aí de mergulho subaquático. É, curso não, mergulho não, é…curso de fotografia subaquática.

00:32:34 - Pandemia da Covid-19 e heroísmo

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Partial Transcript: Alexandra - E o que você pensa desse coronavírus, hein?

Izaias - Olha, esse coronavírus, eu normalmente eu sou até meio suspeito de falar, mas… sabe, eu acho que as coisas vão piorar, tanto financeiro como de saúde mesmo, né? Pode lavar ali?

Alexandra – Pode.

Izaias - Água fria lava rápido, né?

Alexandra - Eu fiquei pensando que você tá aqui de outra máscara, né?

Izaias - Oi?

Alexandra - Você está aqui de outra máscara. Você estava falando de máscara de mergulho…

Izaias - É… a máscara de mergulho, mas como assim, dona Alex?

Alexandra - Você tá usando outra máscara agora…

Izaias - Agora estou usando a máscara do coronavírus, né? Mas… eu gostaria de usar a máscara de mergulho, porque essa aqui eu não tô me adaptando não.

Alexandra - É, esse aqui tá complicado!

Izaias - Agora, a partir da manhã é lei, decretado, né? O... decretou lei e aí vai ter que usar. Eu acredito, não sei, né? O que que vai ser, não sei como é que vai se comportar o povo, né? Que a galera não tá tendo educação, a galera… não sei se não acredita, não sei, só sei que a galera tá na rua, passeando, tomando cerveja. Eu tô… eu só saio na rua porque realmente sou obrigado, entendeu dona Alex? Assim, trabalho com equipamentos, vazamento de gás… então, assim, o meu serviço é um serviço essencial, né? Porque se não atender, vai explodir. Então, se a galera não morrer de um jeito, vai morrer de outro. Então, o meu trabalho eu sei que é essencial, que é gás, é água, então é obrigatório.

Alexandra - Você está se sentindo mais um heroi do que antes?

Izaias - Olha, não, não, eu acho que essa sensação, de você, quando você se sente heroi, você para de fazer as suas... obrigação. Porque uma pessoa, eu tô vendo “ah, a galera da…da…da saúde é heroi”, não! Eu acredito assim: a pessoa escolheu a profissão, então, se você escolheu essa profissão, você sabe que você vai lidar com pessoas contagi… é igual à minha. A senhora perguntou “Izaias, você tava feliz, mais de 40 grau, todo sujo, dentro de uma cisterna. Você tava rindo, brincando”, igual o gari! O gari também vai se contaminar. Todo mundo hoje que sai na rua passa esse risco. Então, assim, foi a profissão que a pessoa escolheu. Então, assim, quando a pessoa, ela se sente heroi, você começa a ficar um pouco superbo. Você começa a deixar que aquilo ali, sobe na sua cabeça. “Ah!”, não, não existe heroi, cara. Heroi é aquelas pessoas que fazem o que tem que ser feita, a sua obrigação. Então, todo mundo é heroi. Você cumpriu a sua obrigação? Você é um heroi! Então assim, não pode num momento desse você querer crescer. Eu respeito, eu acho que a galera tá botando mermo o peito. Respeito, respeito, mas essa sensação de heroi, cara, sabe…é um pouco ruim, porque você começa…eu acho que uma pessoa também que tá isolado dentro de casa é um heroi, porque você ficar dentro de casa preso não é fácil! E você não escolheu aquilo ali, você tá fazendo uma coisa obrigado. Agora, a pessoa quando cresce, ela… escolhe a profissão, sabe? Então se escolheu trabalhar com a saúde, você já tava sabendo. Igual aos bombeiro, que, poxa, cara! Às vezes eu tô no mar, os bombeiros entra em cada mar, em cada situação pra salvar uma vida. Heroi? Não! É a profissão, sabe? É uma profissão nobre? É! Um médico que opera um coração é um heroi? É, mas foi o que ele escolheu. Então, assim, sabe, eu acho que a pessoa tem que ganhar um (?) sim, um parabéns sim, mas ser um heroi é uma coisa assim, eu acho que heroi é uma coisa muito alta, sabe? Uma coisa assim… pro cara se considerar heroi, ele tem que, sabe? É uma coisa assim muito diferencial, sabe? Uma coisa assim bem diferencial. Um heroi é uma coisa é uma bem diferencial. Eu, eu sou assim, se a pessoa escolheu uma profissão, ela tem que fazer aquilo ali da melhor forma possível, é o que eu volto a dizer: pode ser um astrofísico ou um gari, os dois, pra mim, são heroi. O gari que lava, que varre a sua rua, bem limpinha, que arca com a sua responsabilidade, ele é um heroi e o astrofísico que estudou, que entende também é um heroi porque… e um médico?, É um heroi, mas foi o que ele escolheu e a oportunidade que ele teve, né, também, porque…não basta só tu escolher uma profissão, você tem que ter é... você tem que ter sorte, né? De você conseguir completar aquilo ali, de você se formar naquilo ali, então, assim, vai um pouco de sorte também na vida da pessoa.

00:39:20 - Aprendizados da vida

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Partial Transcript: Alexandra - De quem você mais aprendeu nessa vida?

Izaias - Nessa profissão?

Alexandra - Não, na vida mesmo.

Izaias - Olha, a vida me passou muitas escola, sabe? Mas eu acho que é onde eu volto a dizer, eu acho que ninguém na vida é mais responsável por você do que você mesmo. A pessoa que se põe na situação que se encontra. Eu tive ajuda de muita gente, então seria até ruim eu falar de uma pessoa, sabe? Eu tive essa senhora que me adotou, eu acho ela, pra mim, foi uma heroína, assim. Foi uma pessoa bem…porque me deu o ponto de partida. A pessoa que me ajudou a aprender a profissão, que não foi poucos, eu tive ajuda de muita gente pra aprender essa profissão. Então, assim, e eu me sinto um pouco responsável por mim mesmo, né? Porque a pessoa é que se põe, hoje, na situação que se encontra. Se a pessoa não quiser, não adianta, não adianta você botar ela numa boa escola, não adianta você botar ela num bom emprego, porque é da pessoa, eu acho é cada um que se põe na situação que se encontra. Se a pessoa hoje se encontra num presídio, ela se colocou lá ou se a pessoa se encontra na cadeira da presidência, ela é que se colocou lá, porque, sabe…é assim…você pode ajudar a pessoa mas, se a pessoa não quiser, não vai, não vai andar, concorda um pouco?

Alexandra – Concordo.

Izaias - Que a pessoa é que…

Alexandra - Pra presidência não sei, não parei pra pensar.

Izaias – Eu vou ser sincero porque você vê o Obama ali, né? Uma vez a esposa do Obama, ele olhou pra esposa dele, essa conversa foi séria e ele falou assim pra ela “olha, lembra seu ex-namorado? Se você tivesse ficado com aquele namorado, você ia ser uma mulher de um dono de restaurante”, porque a mulher, o ex-namorado da esposa do senhor Obama, presidente dos EUA, ele tinha um restaurante. Eles chegaram e encontraram lá o cara como ela, ele olhou pra cara dela e falou “tá vendo? Se você tivesse casado”. Aí ela falou pra ele “não, ele seria o presidente da República. Ele não seria o dono do restaurante, ele que ia tá no teu lugar, eu não ia tá ali não”. Porque realmente, cara, eu acredito, sabe? Eu acredito muito, eu tenho um amigo meu que morava na praia do Flamengo, mergulhava comigo, hoje ele é piloto da America Espranje e nunca teve pai, nunca teve mãe…ele morou na praia do Flamengo e hoje é piloto de avião da America Espranje, dos EUA! Voou pela TAM e foi, foi. Então, assim, eu acredito cara, eu acredito, porque eu já passei muita necessidade na vida, então, assim, eu acredito! Tudo que eu quis, eu já tive moto de 80 mil reais, eu tenho hoje todo o meu equipamento de mergulho que vale aí, aproximadamente, quase 10 mil reais. Então, assim, pra quem não tinha um óculos de mergulho, eu tenho um equipamento. Então, assim, eu acredito cara que as pessoas ela tem o poder de ir muito mais longe do que você acha que não pode mais. Quando você acha que não pode mais, você pode muito mais do que você acha. A gente, cara, é um universo em miniatura, então a gente pode muita coisa nessa vida, eu acredito, eu acredito! Que se uma pessoa ela quiser, ela sai do esgoto e vira presidente da República. Eu seria muito, assim, ruim se eu falar que isso não é capaz. Então, conheço pessoas que veio da roça e hoje é presidente de empresas, eu conheço pessoas que não tinha nada na vida, zero, e hoje tem uma condição financeira muito grande. Esse meu amigo que ele morava numa barraca na praia do Flamengo e hoje ele mora nos Estados Unido, ele tem uma cobertura na Praia do Flamengo, olha só que interessante! Ele tem uma cobertura na Praia do Flamengo e ele morava na praia! Então, houve um pouco de sorte, mas ele também procurou, lógico, um pouquinho de sorte é bom, um pouquinho de sorte, mas você tem que ter muita força de vontade, muito querer! E você também pode nascer numa cobertura e virar mendingo,que eu conheço isso, sabia? Eu conheço, eu fui com um amigo meu, um cliente, amigo meu, buscar o filho dele na Cracolândia. Olha só a situação! Que chegou lá e tu não conhecia aquele garoto, tão rico, mas naquele momento, ali na Cracolândia, ele era um mendingo. Pode ver, na Cracolândia existe muitas histórias de pessoas… que era “o cara” e hoje… por que? Ele se colocou naquela situação ali. Eu sou assim: cada pessoa que se põe na situação que se encontra. Então, eu, eu, eu, eu tiro por mim. Eu nunca tive vida fácil, trabalho desde 12 anos, trabalho! Não é brincadeira não, eu trabalho mesmo, desde 12 anos, com horário, com salário, desde 12 anos e provo isso! E hoje conheço pessoas maravilhosas, hoje eu tenho esse micro, entendeu? Vivo uma vida sadia, moro aqui em Santa Teresa. Então, assim, tenho uma família legal, passeio, curto… então, assim, eu acho que a pessoa pode mudar, porque se eu fosse reclamar da vida, acho que nem vivo aqui eu taria, né? Porque a minha vida não foi fácil não, foi bem complicada, cheguei até morar no cemitério, sabia?

Alexandra - Que história!

Izaias – É, morei no São João Batista. Cheguei a morar lá, porque morar na rua é perigoso. Quem já morou na rua sabe, você dorme 2 minutos na rua, perde tudo. E quem te rouba é os próprio morador de rua, um rouba o outro, isso aí…dormiu, perdeu a bolsa. Então, eu preferia dormir no cemitério que eu ia acordar…eu trabalho na feira, vendendo limão e alho, né? Também…eu tive essa…eu tive essa oportunidade. Não trabalhei muito tempo na feira, mas trabalhei uma vez na feira vendendo limão e alho. Então, antes de conhecer essa senhora - porque meus pais morreram muito cedo - eu cheguei dormir uns dias, assim, uns 3 meses dentro do São João Batista e me sentia bem, sabia? Eu não tinha medo não. Gostava. Preferia lá do que na rua, ser roubado ou morto. E nessa época, é…teve um mendingo que foi tacado fogo, né? Teve a história do índio também que foi tacado fogo. Então eu tinha muito medo da galera tacar álcool e me matar, então eu preferia dormir no cemitério. Nunca vi nada não, o único que me assustou lá foi os gótico e um gambá que puxou o meu…uma alimentação que eu tinha, do resto não tinha medo não e por ali, eu levo qualquer um e mostro. Fiquei lá uns 3 meses e acho que faria de novo e toda minha vida, hoje… se perguntassem se eu queria viver, eu viveria tudo de novo, porque foi bem…esses 44 ano aí foi legal, cara. Tive umas aventuras maneiras e boas amizades, sabe? Eu tenho bons amigos e… sabe, é muito legal. E os bons amigo é a família, né? É quem você escolhe, porque família, normalmente, você não escolhe não. Filho, irmão, você não escolhe não, vem no destino; agora, amigo você pode escolher, agora, família, filhos, assim tu não escolhe não, vem no vento, né? Mas amigo tu escolhe e eu tive bons amigos, então minha vida eu não reclamo não, foi uma aventura legal. Talvez, se eu tivesse pai e mãe, não teria vivido essa aventura, talvez não taria nem aqui contando história, né? Porque as vez a pessoa tem pai e mãe, se segura nisso, acha que o pai e a mãe é obrigado a sustentar em tudo, não procura um trabalho, não procura estudar, não procura se desenvolver na vida, e aí quando os pais morrem, não sabe fritar um ovo. Aí fica no maior desespero. Que eu tenho um cliente assim, sabe? Teve uma cliente que o pai morreu, ela tinha 29 ano, uma senhora e aí a tia que teve que vim pra ajudar, porque ela ficou numa cobertura em Ipanema, sem saber fazer 1 ovo, sem saber como pagar empregada, e aí começa, né? Os oportunista aproveitar disso. Então, quando você tem conhecimento, é tudo! Tudo que na vida você precisa ter é conhecimento! Aí você consegue sobreviver nesse mundo.

00:47:32 - Clientes

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Partial Transcript: Alexandra – Obrigada. Você lembra da Lara, né?

Izaias - Tudo bem? Tirar um pouquinho essa máscara. Ai, essa máscara é terrível!

Alexandra - É terrível! Falar muito nessa máscara deve ser …

Izaias – Pô, tu começa...

Alexandra - A funigar, né?

Izaias - E o nariz está escorrendo, não posso fazer nada.

Alexandra - Mas a gente sabe que não é coronavírus não.

Izaias - E aí, tá estudando muito ou pouco?

Laura - Mais ou menos.

Izaias - Tem que estudar! É o que que eu falei aqui.

Alexandra - Izaias, ela tá tocando muito! A música tá fluindo dela.

Laura – Ah, agora eu lembro dele!

Alexandra - Você lembra dele agora?

Izaias - Ah, música é tudo! Eu trabalho com aquela galera do Rappa, né? É, Marcelo Lobato.

Alexandra - Ah, sim.

Izaias - Falcão, Marcelo Falcão, Xandão... Xandão você conhece, né? O Rappa todo! É que agora eles abriram um pouco, né? Continua amigo, mas a banda parou e só tá o …só quem tá na ativa é o Falcão, Marcelo Falcão. Mas, gente boa! Tudo aqui, pessoal ali…

Alexandra – É.

Izaias - Cara, eles são, eles são muito engraçados…

Alexandra - Demais!

Izaias - Eles sempre, a música é sensacional.

Alexandra - Alguma coisa deles, aquele que você não gostou sobre o Cristo.

Izaias - O Rappa?

Alexandra – É, não, era Falcão, eu acho e os outros…

Izaias – O Falcão é o moreno que ele está cantando agora sozinho. O Marcelo Lobato é aquele gordinho, é o Marcelo Lobato. Xandão é aquele moreno, escurinho. Cara, mas eles são legais mermo, sabe como é? Eu tenho…artista que não é nada daquilo. Tem pessoas aí, milionários, que eu não gosto muito, não atendo mais! Tem artista que eu não atendo, como Christiane Torloni. Eu pedi pra ela mermo “eu não quero atender a senhora não”. Eu falei pra ela “por favor, eu não quero atender a senhora”. “Não, seu Izaías”. “Não quero”. Assim, eu sou livre, outro dia eu expliquei pra ela, “eu sou livre, atendo às pessoas que eu quero atender. Por favor, eu não vou atender à senhora”. Eu falei pra ela, pra dona Christiane Torloni, porque são coisas que acontecem do privado dela que eu acho que não é legal, entendeu? Então, assim, tipo esse cara também o Pedro Cardoso, eu não atendo mais. Não vou me prejudicar à toa. Então, tem clientes assim que eu, graças a Deus, eu consigo… me afastar. Igual hoje, sabe que horas eu cheguei aqui hoje? Eu fui num cliente, eu vinha aqui cedo... ele é meu cliente há 20 anos, eu trabalhando, ele saiu e me esqueceu dentro de casa.

Alexandra - Ah, não acredito que você ficou trancado, na casa dele!

Laura - Caraca!

Izaias - Fiquei sozinho trancado lá! E aí? Ele tem Alzheimer, eu não sabia que ele tava com Alzheimer. E a pessoa com Alzheimer, quando você conversa com ela é normal! Você não diz que a pessoa tem Alzheimer, que a pessoa conversa contigo normal, ela é forte mesmo, então… aí me esqueceu!

Laura - Gente!

Izaias - E aí, passa meia hora, passa 40 minuto... ele foi pra filha almoçar. Ele me deixou lá 10 horas, 9 e meia da manhã pra 10 horas e foi almoçar!

Jair - E aí?

Izaias - Boa tarde!

Jair - Tudo bem?

Izaias - Dá licença, Jair.

Jair - Acho que você que é um heroi, cara!

Izaias - Eu nada, sou heroi nada, heroi é…não existe heroi, não existe heroi. Heroi são as pessoas que fazem o que tem que ser feito.


Jair - Heroi na vida que estou falando.

Izaias - É, mas se você começar assim, você começa a ficar muito superior aos outros. Eu sou um heroi, eu sou o maior! Aí você começa a perder a humildade da vida, a essência da vida. Olha, o Geraldinho Carneiro, se você ver a humildade desse cara! Geraldinho Carneiro, diretor, salário de 400 e poucos mil na Globo, vitalício! Ele não é…a Globo não pode mandar ele embora, porque o contrato dele é vitalício. 400 e poucos mil, né? Acho que é um salário…bem bom.

Alexandra - Bem bom!

Jair - Um pouquinho bom!

Izaias - Né? Tá na Academia Brasileira de Letras, você conhece? Já ouviu falar no Geraldinho Carneiro?

Jair - Já ouvi falar dele.

Izaias - Academia Brasileira de Letras, é…os (?) novela, tá passando agora Avenida Brasil.

Alexandra - Tá passando?

Izaias – É, ele era o diretor e escritor da novela. Então, um cara poderoso! Mas a humildade dele, cara, a simplicidade desse cara eu acho… extrema! Eu tô lá “Ó, Izaias, vamos comer uma tapioca. Vou fazer uma tapioca aqui, pra mim e pra você”. Ele não manda a empregada ir fazer. Ele tá no escritório, ele quer um copo d’água, ele desce, vai lá e bebe a água dele. Três empregada. Então, assim, ele é um cara assim… ser humano. Ele ganhou um prêmio e eu falei “pô”, ele me chamou, né, pra ir. “Quer ir, Izaias?” Eu falei “poxa, doutor Geraldo, eu tô trabalhando, de repente eu falo que vou, bota lá meu nome, tiro a vaga de uma outra pessoa, pra mim não dá". Então, assim, como cidadão carioca, alguma coisa carioca. Eu falei “doutor Geraldo, o senhor é mais do que digno”, porque…

Alexandra - Você foi?

Izaias – Não. Eu não fui porque faltou tempo, me faltou tempo de ir, como eu falei pra senhora, me faltou tempo. Então, assim, ele é uma pessoa extrema, maravilhosa. E eu vou em casa de pessoas tão simples, que é tão arrogante, mas tão arrogante, que você fala assim “poxa, essa pessoa é como a gente”.

Laura - Não quer ligar a luz aqui da cozinha, não?

Alexandra - Liga.

Izaias - a minha maior tristeza…

Alexandra - É que a gente fica falando até escurecer.

00:53:25 - Religião

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Partial Transcript: Jair - E qual a sua religião?

Izaias – Não, hoje, eu vou ser sincero, não existe mais religião nesse país, porque a religião hoje… o senhor vai me desculpar, num tô criticando religião não, mas hoje a religião ela virou uma indústria, ela virou uma empresa de tirar dinheiro de pessoas… porque, hoje, cada um fala o que é bom pra si. Se você entrar hoje numa, qualquer igreja evangélica, você vai ver que eles querem tirar teu dinheiro. Primeira coisa que você tem que dar é os 10% e os 10% tá escrito na Bíblia, 10% é, mas 10% de você! 10% de você, você faz a obra, ninguém pode fazer obra, no céu não se compra terreno. Então, tá vendendo terreno no céu porque, se você não der os 10%…

Jair - Você vai para o Inferno.

Izaias - Não, você tem que sair da igreja, você tá roubando a Cristo. Eles bota na sua cabeça que você tá roubando a Deus. Se você não der os 10%, então você não é crente/ então você não tá acreditando na palavra, porque não quer dar os 10%, não tá acreditando no pastor. Então, você fica, você pode ser convidado, você vai na igreja convidado. Na hora que você vai ser batizado e que você diz lá e toda hora ele quer te batizar, por quê? Porque quando você diz que você tá batizado, você é obrigado a dar os 10%, mais as ofertas, principalmente! Não tô criticando. Tem uma ali que, meu Deus do Céu, não dá pra você ir. Você é pedido dinheiro, eu fui, em todas essas eu fui. Você é pedido dinheiro do início ao fim! Aí vai pedir dinheiro como? Vamo lá: “vou te orar com óleo", um absurdo. Aí falou assim mermo “vamo orar com óleo, vem aqui na frente um de cada vez, mas venha quem tem 10 mil reais primeiro”, juro por Deus! Quero ficar cego! Aí apareceu, cara! Eu falei "ninguém vai”, aí apareceu dois. Aí foi, olha só, aí bota o cara lá no altar, fala isso, fala aquilo. "Agora quem tem 5 mil”, aí apareceu mais quatro. Aí foi, aí depois mandou assim “Agora eu quero saber aquele miserável que não tem 2 reais”, de 10 foi quase a igreja toda! Eu fiquei lá na minha "eu não vou dar nada não”, olhava pra minha cara “miserável!”. Aí todo mundo viu que eu não fui, aí a moça “o senhor quer 2 reais pra ir lá?”, aí me encheu de vergonha. Aí fui lá, tive que entrar na fila e dar os 2 reais. Aí em seguida “você quer um live?”, tem um live e tem o jornal. Você tem que comprar o jornal a 10 reais pra você escrever o milagre que você quer em cima de um pedacinho e rasgar e ficar ali orando com ali. Se você não comprar o jornal a 10 reais e não escrever o nome ali, você não tem como ter um milagre. Aí, eu era católico, não tô dizendo que não deixei de ser, eu acredito muito em Cristo, acredito em Deus. Deus, pra mim, é tudo na vida. Deus! Nem é Cristo. Deus! Eu boto Deus na frente de tudo! Ó, Deus, eu vou, eu vou voltar. Ó, Deus, eu vou pagar seu…Deus! Eu boto Deus, Deus existe. Ninguém tá aqui, com tantas religiões, mas na verdade falam em Deus. Se você vê lá em Israel, é um Deus. Aí vão e criaram umas história, desde a Igreja Católica, pra poder realmente tirar dinheiro. Como é que era antigamente? Você fazia um pecado, ia lá, falava com o padre, dava um dinheiro pro padre, o padre te orava, você tava livre! Aí criaram uma igreja protestante por que?, o…Martins…é…Luté…Martinho Lutero! Por que que ele criou? Pros pobres, mas pra que? Porque ele, normalmente, o cara não tinha dinheiro pra casar, casar é caro! Você não tinha dinheiro pra batizar, batizar era caro na igreja católica. Então, Martinho Lutero criou o que? A igreja protestante, não precisa pagar nada; mas hoje, a igreja protestante, ela já cobra mais do que a igreja católica! Eu te juro por Deus, a senhora pode entrar em qualquer igreja evangélica e você vai ver que é só pedindo dinheiro e começa a criticar a vida dos outros.

Alexandra - Todas as igrejas.

Izaias - E começa a criticar que você vai pra isso, que você é isso, que você… gente! Deus não tem isso com ninguém! Deus te deu alivre arbíto, você sabe o que é ruim e você sabe o que é mal. Se eu vier aqui te roubar, esse dinheiro vira maldição, porque eu já não tenho caráter, eu vou pegar esse dinheiro aqui, daqui a pouco eu uso com droga, daqui a pouco eu uso na prosti…eu tenho muito, aí eu acho que eu tenho muito, que eu ganhei fácil, eu posso gastar fácil. Então, esse dinheiro ele começa a virar maldição na sua mão. Aí você perde a sua família porque a sua esposa descobriu que você foi no lugar errado, onde você não deveria ir. Você começa a beber muito, chega em casa embriagado, então a esposa... daqui a pouco você perde a sua família, automaticamente, porque você pegou um dinheiro maldiçoado. Você começou, agora, quando você ganha o dinheiro honestamente, você sabe que aquele dinheiro foi difícil, você vai dar mais valor, você vai saber ampliar melhor. Então, assim…é o seu propósito com Deus. Por isso é que te digo: cada um que se põe na situação que se encontra! Se eu sair daqui e for encher a minha cara, daqui a pouco eu vou perder a minha família. “Pô, perdi minha mulher”, mas você procurou isso, cara! Então, assim, hoje eu já não tenho uma religião, sabe? Eu gostaria muito de ter, mas hoje não tem como ter, porque você sabe que tudo ali tá corrompido, cara, é mentira.

Alexandra - Agora, isso é uma filosofia de vida, né? O que você acabou de falar.

Izaias - Eu prefiro uma filosofia de vida.

Alexandra - E isso vem de onde? O seu, você sabe?

Izaias - Olha, eu procuro assim…meus amigo, sabe? Eu procuro, eu tenho amigo de todas as religiões. Eu tenho tanto amigo, maçom, eu tenho amigo pastor, eu tenho amigo é…espírita. Outro dia eu fui mergulhar, cara, aí eu levei uns amigo. Tinha um que era pastor, tinha outro que era pai de santo! Eu falei “e agora? Isso aqui vai dar confusão!” (risos), mas foi tão legal! Sabe por quê? Um respeitou o outro, mas naquela pescaria mesmo nós não falamos em religião. Um ajudou o outro eu achei aquilo ali…super legal! Um apertou a mão do outro e ali feito uma família; não teve discussão…quem tava certo, que tava errado, quem tava com isso ou quem tava com aquilo. E foi um dia bom, não sei quem orou, se foi o pai de santo ou se foi o pastor, mas só sei que nós pegamos peixe (risos). Foi bom, foi bom! A pescaria foi boa, rapaz! Eu falei “alguém orou aí, alguém orou?” (risos). Foi legal, sabe como é que é? Então, assim, isso…foi o que a gente pediu.

01:00:11 - Política e organizações criminosas

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Partial Transcript: Izaias - Eu tinha um grupo de mergulho que a gente também não poderia falar nem de religião e nem de política. É igual hoje, política, cara, fica difícil você hoje falar de política, você cria inimigo. E todos ali é bandido! Se existisse alguém falar “vou fazer uma reforma política, acabar câmara de vereadores”. Câmara de vereadores tinha que acabar, que já tem deputado federal. É muita gente mandando. É igual aqui, se muita gente mandar aqui, no apartamento da senhora vira bagunça!

Alexandra - Já é bagunça.

Izaias – Desculpa.

Alexandra - Não, não (risos).

Izaias – Não, mas se muita gente mandar aqui vira bagunça! Bota 5 síndico aqui pra você ver, no prédio. Um manda no outro. Então, assim, hoje a política, eu gosto de falar. Esse presidente, a senhora sabe o que acontece? O presidente ele não é corrupto, mas ele é bandido, ele é miliciano, ele mata, ele exturca as pessoas que não têm o dinheiro. É provado que o Bolsonaro é miliciano. Como é que acontece? Ele ganha, cada casa, só o Rio das Pedras, só o Rio das Pedras, só a favela. Eu não to falando Muzema, não tô falando Tijuquinha, não tô falando no Anil, tô falando só o Rio das Pedras! Gera 1 milhão pra ele por mês! Ele precisa tirar dinheiro de empreiteira? Mas ali ele exturca. Toda casa é obrigada a pagar 45 reais de Associação, você tem que pagar! Toda casa! Você é obrigado a assinar o gatonet, você é obrigado a assinar a televisão a cabo, porque se você não assinar, você não pode botar teu carro na rua, eles começa a cortar tua luz, que a luz tudo é gato! Então eles sobe lá no poste, quando você chega, tu tá sem luz dentro de casa. Aí você não pode subir no poste, eles já tem os cara deles pra subir. Aí o cara “não, só amanhã” e você ainda vai pagar os cara deles, foi ele que cortou, tuas coisas tá estragando, aí começa essa implicância. Você tá pagando a Associação, mas você não tá assinando a Net, você não assinou a Sky e os caras “você não quer uma televisãozinha a cabo, aí não, cara?”, “por que você… não tá boa não? Nosso canal é o melhor, nossa internet é a melhor”. E realmente a internet deles é boa, a assinatura deles é a melhor, porque são cento e poucos canal. Então, quando você assina aquilo ali tudo, por mês, cada casa, eu tô dizendo cada casa! Tem prédio que tem dez moradia, em cada casa gera aí em torno de 140 reais por mês pra eles. Cada casa que você vende, você tem que dar 20% da sua venda da sua casa. Se você vender esse apartamento aqui, você tem que dar 20% deles e quem compra dá mais 10%, aí ele leva 30% de cada venda de casa. Comprou hoje e vendeu amanhã? Você já ganhou. Então, ali o negócio e eles sabem quando muda de morador, eles sabem, vai mudar o papel na Associação. E se você fizer sem eles souber aí a coisa piora e você pode perder a casa ou perder a vida, entendeu? E é uma renda, só um ponto de van dá 280 mil, cara. Agora eles botaram um sistema de barco, transporte de barco, você chega na barca na Barra, tem uns portozinhos, você pega um barquinho e ele leva até o Rio das Pedras. Então e é melhor de passageiro que tá usando aquilo ali, já virou um…então, aí você vê, ele não é corrupto, mas ele exturca pessoas que não tem! Às vezes a pessoa não tem, cara! E o gás? Cada bujão de gás é 10 reais a mais pra eles, entendeu? Ou 10 ou 20. Que antigamente eles começo no gás. Exemplo: quem tem mercado, ali, aí é o dinheiro da segurança que você paga. Só que você tá pensando que a milícia tá só no Rio das Pedras? A milícia já chegou aqui na Urca! Você sabia? Sabia ou não?

Jair - Não, não sabia.

Izaias - Vou te explicar: o que quer dizer milícia? Depois vocês olham na Internet. Um segurança clandestino patrocinado por um paramilitar, ele é o miliciano, miliciano é isso, o significado de miliciano é isso: é um segurança clandestino apoiado pelo militar. Então, o que acontece: esse segurança que você via aqui na Urca, fazendo segurança em porta de botequim, em porta de farmácia, são segurança clandestino. Estão uniformizados? Não! Eles têm um crachá? Não! Eles têm um… faz parte de uma empresa de segurança? Não! Então, eles são um segurança clandestino! Por exemplo: Copacabana, Botafogo, cada ali tem o bairro, então, na polícia chama "direito de defesa”. Isso um delegado, amigo meu, que explicou. É o direito de defesa do policial. Então, o policial ele ganha pouco, então ele ganha, ele compra aquele quarteirão ali todo, entre… compra ali aquele… é meu, a segurança é minha, eu não quero mais, eu quero me aposentar, eu vendo pra tu. E ele vende o quarteirão ali todo. Então, todas as lojas ali é obrigado a me pagar, toda semana. Tem loja que é 100, tem loja que é 150, tem loja que é 300, tem loja que é 500… e se, caso eu sou dono de loja e falo “não, eu já pago à polícia, não vou pagar aqui não!”, você pode esperar que o ladrão vai vim, você pode esperar que o ladrão vai vir na sua loja. Leblon tá todo assim, Copacabana tá toda assim. Se você não pagar “cadê o segurança?”, aí tu paga, toda semana, mas tem dia que o segurança nem passa na rua, mas se você não pagar, você vai ser roubado.

Alexandra - Você disse que você era del…gado, delegado?

Izaias - Oi? Um delegado me explicou, é meu cliente.

Alexandra – Ah, um delegado explicou…

Izaias - Ele me explicou como funciona a milícia, é assim! Então você é obrigado. Tem condomínio hoje, ali pelo Itanhangá, os condomínio, todos eles é obrigado. Ele chega no síndico e fala “meu amigo, assim, quantos moradores tem no prédio?”, “dez”, "dez apartamento. Ó, a pa partir do dia 05 você bota mais, hein, do condomínio, não precisa falar com os morador não. Bota 20 reais a mais, não, bota aí 50 reais a mais de cada morador. Então aqui tem dez? Dia 05 vai passar aqui os cara da segurança e você tem que dar 500 reais. Se você não der, aí a gente vai conversar.

Jair - Não é só aqui agora, é no Brasil todo, né? A milícia é no Brasil todo.

Izaias - Concorda?

Jair – Uhum.

Izaias - E a milícia, dona Alex, a milícia é uma coisa!

Jair - Ela trabalha com a morte, né?

Izaias - Uma coisa! Eles pega assim, empresários, matam! Eles fazem uma coisa assim, eles são terríveis! São pior do que o tráfico de drogas! Some com um pai de família assim, ó, instantâneo! Teve um amigo meu da Amoedo, ninguém sabe dele. Ele deu um soco na cara de um que mexeu com a mulher dele, ele era nervoso, pernambucano, já vai fazer 9 ano, ninguém sabe cadê ele, ele sumiu. Eu sei, virou comida de jacaré, naquele ponto ali do Rio das Pedras, entendeu? Não mexeram com a mulher, não mexeram com ninguém. A mulher dele, inclusive a mulher dele agora casou com um miliciano. E aí?

Jair – É complicado, né?

Izaias - Cadê a Mirelle?

Jair - Cadê quem?

Izaias - A Mirelle…

Jair - Mirelle é a mulher do…

Izaias - A vereadora!

Jair - Ah, a vereadora?

Izaias - Quem matou?

Jair - É, ninguém sabe, né?

Izaias - Ninguém sabe? Você viu os mandantes que foi preso?

Jair – Vi.

Izaias - Com 30 fuzil?

Jair – Aham.

Izaias - Que acaso, né?

Jair - Mas quem mandou? Quem mandou é que ninguém sabe, né?

Izaias - Ninguém sabe? Tem certeza? Ninguém quer é falar, né?

Jair - Ninguém quer falar!

Izaias - Mas todo mundo sabe que foi o Flávio, pô! Todo mundo sabe que foi o Flávio, Flávio Bolsonaro.

Jair – Uhum.

Izaias - Todo mundo sabe, pô! Onde trabalhava o cara? No gabinete dele, pô! Tem um outro policial que morreu agora lá, queima de arquivo? Mataram ele por queima de arquivo lá na Bahia. Agora aí, tu viu? Aí mandaram a perícia. A perícia “não!”! Quem faz a perícia? É os próprios policiais! Olha, eles mata, o próprio policial que matou ele que vai lá, “poxa, xô vê se isso aqui tá certo”. Você vai ficar caguetando? Seja sincero!

Jair - Na verdade foi queima de arquivo mesmo, né? Ele não podia ficar vivo, né, senão ele…

Izaias - Você vai falar? O problema da Mirelle foi que ela foi bater de xingar o filho do Bolsonaro, que era lá dentro do negócio, aí ele “ah, você quer bater de frente? Tu tá pensando que tu é o Marcelo Freixo? Fica tranqüilo”. Os cara que foram preso, o cara que mandou, mora do lado da casa do Bolsonaro, tudo assim, ó, tum…tum…tum… e alguém acha?

Alexandra - Sinistro!

Izaias - Alguém fala? Agora, se fosse eu ou o senhor que tivesse matado, a gente estaria já preso ó…

Jair - Há muito tempo!

Izaias - Poxa, mas alguém fala? Não vai. É o presidente, cara! Quando ele sair, se ele perder esse mandato, aí pode acontecer de botar ele preso, ele, o Flávio. O Flávio, ele é o presidente, ele é o pai da facção ali, Rio das Pedras, Muzema. Até o Barra Shopping hoje paga milícia. Quer ver, vou dar um exemplo, se vocês forem ao Barra Shopping, vocês vão ver na porta do New York tá lá o segurança da milícia, um de um lado, outro de outro. Segurança tudo fortão, tudo armado, ninguém é polícia, aí tem 4 seguranças na porta do Barra Shopping, tudo clandestino. Quando eles pega, ó, o ladrão ali, eles matam. Aqueles moleque ali da Cidade de Deus, matam e jogam lá no rio que corre atrás. Cabou o roubo? Diminuiu! Na porta, porque o Barra Shopping, pronto! A minha sogra…

Jair - Isso com os administradores do Barra Shopping,todo mundo sabendo, né?

Izaias - Todo mundo, pô! O Norte, pronto, a minha sogra…

Jair - Acordo com eles.

Izaias – Tudo acordo com eles. Tá lá na porta do New York, o que que acontece? A minha sogra, ela tem uma fábrica de salgado lá no Nova América, perto doNorte Shopping, né? Perto do Norte Shopping. Aí, eles vão lá buscar 300 reais por semana. Aí, meu sogro, esse dia tava emburrado, aí perguntou pra ele “por que que eu tenho que pagar 1200 reais por mês? Eu não tô conseguindo nem...”. Aí o cara pegou simplesmente falou “ó, pergunta lá no Norte Shopping por que que eles fazem. Sabe de uma coisa? Eu não vou nem receber contigo hoje, vou me embora". De manhã parou 2 carros lá e uma mulher “pô, o que que tá acontecendo que não quiseram pagar a Associação?”. A minha sogra “não, desculpa, agora, vou pagar". Por que? O risco de ir lá e tacarem fogo na fábrica inteira, o risco de dar um tiro no meu sogro, quem deu? Quem deu? Quem vai fazer a perícia ali? É o próprio policial que matou, gente! Foi o que um amigo delegado falou. “Izaias, eu vou falar o que? Se eu for investigar a milícia, eu perco o meu cargo de delegado, cara”. O negócio começa muito alto, o negócio tá muito alto, chegou a presidência. Quem patrocinou a campanha do Bolsonaro? Quem foi?

Jair - A milícia.

Izaias - O Flávio Bolsonaro! Pode ver se não foi ele, que pagou a campanha.

Jair - Dele e da família toda, né?

Izaias - Quem vai se meter com o presidente?

Jair - E os militares que eram…

Izaias - Quem?

Jair - mais respeitados, né?

Izaias - Pra tu ver, ele ia liberar a milícia, ele queria. Por que que ele quer liberar o porte de arma? Pra qualquer um andar armado, que aí o miliciano que é o soldado, ele vai poder ficar mais tranquilo, entendeu? Então a coisa é meia assustadora nesse Rio de agora. Eu não sei, assim, ainda fora, mas com certeza o Bolsonaro tá levando essa milícia pro Brasil inteiro. Começou no Rio das Pedras, a milícia começou no Rio das Pedras, hoje já tomou assim, zona oeste? É só milícia! Então assim, é muito dinheiro que isso gera! É muito dinheiro! Porque toda empresa é obrigada a pagar o imposto deles, paga o imposto do governo e o imposto deles, no bairro inteiro! Ali, é, Campo Grande, aqueles mercado tudo ali tem que pagar, tudo! É assustador. Chega a ser assustador, mas é a pura verdade, é a pura verdade. Então, você fica assim, assustado, sabe? Graças a Deus, onde eu moro ali, por enquanto não tem, não tem milícia nem trafico não, tá mais ou menos.

01:13:11 - Dia de trabalho / como conheceu a esposa

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Partial Transcript: Alexandra - Tô pensando que esse foi um dia estranho pra você, você ficou preso num apartamento a manhã toda…

Izaias – Não!

Alexandra - E agora…

Izaias - Eu fiquei triste porque eu tava preocupado em vim aqui.
Alexandra - A tarde toda.

Izaias – Não, é meu trabalho! Eu amo fazer isso aqui. Ih! Olha, posso falar? Eu tô é atrapalhando a senhora pelo horário, mas pra mim, olha, agora eu vou embora agradecendo a Deus “muito obrigado, ganhei meu dia, tô com meu trocado no bolso, tô com meu cliente garantido!”, porque eu penso assim, eu tenho que manter meu cliente, porque se eu perco a senhora?

Alexandra - Não, mas não é isso. É, como é que você conheceu a sua mulher?

Izaias - Essa minha esposa?

Alexandra - Uhum.

Izaias - Olha, a gente foi maior interessante! Eu ia ser padrinho de uma criança e ela também, aí nós, cabô que ficamos juntos. E ela é muito gente boa, trabalhadeira, então a gente cabô que ficou junto, mais por isso, porque ela ia ser madrinha. Um amigo meu de infância, ele teve um filho e a esposa dele era amigo dessa minha esposa, e ele me convidou pra ser padrinho e a esposa dele, e a gente fomos se conhecendo e acabou que ficamos juntos, mas foi assim.
Alexandra - E são padrinho e madrinha dessa criança.

Izaias - Somos padrinho e madrinha dessa criança do João Miguel, é o João Miguel, João Miguel, o João Miguel é nosso. Agora eu vou montar aqui, bico venturi. Ó, sem isso aqui, se o cara perder isso aqui, o aquecedor não funciona mais, ele trabalha aqui ó, chamado “bico venturi" de aquecedor eu. Tô dando curso também, sabia, né?

Alexandra - Ótimo!

01:14:47 - Outros serviços

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Partial Transcript: Izaias - Eu peguei um contrato com uma empresa chamada a Rheem, então eu sou autorizado dessa empresa chamado Rheem. Então, tudo que tem palestra dela aqui no Rio, ela é de São Paulo, quando tem palestra aqui no Rio a respeito de aquecedor e treinamento, é eu que vou fazer pros cara, de aquecedor novo. Não é assim um curso profissionalizante, é curso pra quem já é técnico de aquecedor, então é uma apresentação do aquecedor, entendeu? Porque tem algumas coisas que é diferente dos outros. Então quando o técnico tem dúvida, ele liga pra mim.

Alexandra - Poxa, foi muito bom ouvir você falar!

Izaias - Depois eu vou mostrar pra senhora, o celular vai carregar um pouquinho, eu vou mostrar depois essas pessoas pra senhora que eu já falei.

Alexandra – Eu acho que você já mostrou.

Izaias - Já mostrei, num já?

Alexandra – É, já

Izaias - Eu tenho zap, tudo direitinho.

Alexandra – Sim.

Izaias – Depois (?)

Alexandra – Sim, sim, sim.

Izaias – (?) ele é um dos caras do trem-bala.

Alexandra – É.

Izaias - E nem parece também, né? Eu conheci ele, ó, há muitos anos! Primeiro do que a Samara.

Alexandra - Ah, é?

Izaias - Ele não era (?) foi depois.

Alexandra - Então faz mais do que 25 anos.

Izaias - Oi?

Alexandra - Faz mais que 25 anos, eu acho.

Izaias - Muito! Ele era mais novo, muitos anos!

Alexandra - Você também! Era garoto.

Izaias - Muitos anos! Na primeira reforma dele, é a segunda reforma, a senhora sabe, né? Já tem uns dez anos a segunda reforma, muitos ano! E é gente fina, tá?

01:17:43 - História do amigo piloto de avião

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Partial Transcript: Izaias - E ela, vai gostar de música? Será que vai ser uma cantora aí, cara?

Laura - Não sei.

Alexandra - Ela tá tocando direto, cantando.

Izaias - Acredita no sonho que no sonho vira realidade. O maior exemplo pra mim é esse amigo meu de avião. Ele falava, ele ficava ali na praia do Flamengo, aí os avião passava. Aí, muito tempo, uma vez, “vou ser piloto de avião". A gente ali, tudo moleque, falei “Ah, ô!”. E ele gostava muito de avião esse garoto, sabe? Muito, mas muito de avião. Então, ele começou, ele já sabia ler, né, ele começou ter livros de avião. Ele jogava muito futevôlei e começou a ler, ler, ler sobre avião, sobre avião, sobre avião. Então tinha um coroa que jogava futevôlei que já tinha sido piloto de avião e tava aposentado e a gente chamava ele até de coronel, porque ele já tava aposentado e esse garoto jogava muito futevôlei, aí ficava ali, na beira da praia, de conversa,isso e aquilo. Aí o coroa falou assim “se tu voltar a estudar, eu vou te ajudar!”. Ah, ele não pensou duas vez. Arrumou um jeito de se matricular, só que ele não tinha muita moradia, esses negócios. Aí teve um amigo nosso também que levou ele pra morar lá no morro aqui doTavares Bastos, fica aqui em frente. Aí, ele ficou lá morando, mas não deu certo por causa da mãe, de tio, o que que ele fez? Voltou pra praia. Então ele morava numa barraca na praia do Flamengo. Como é que funcionava a barraca? Vou explicar pra senhora: de dia a barraca, pode ver na praia do Flamengo, de dia a barraca funcionava vendendo água, refrigerante, isso e aquilo, e ele trabalhava na barraca pra ganhar um dinheiro. E à noite, a barraca fechada, botava assim uma lona e ele dormia ali dentro e estudando. Então ele ficou nessa aí, morando e estudando, morando e estudando, e o coroa gostou dele, o que que o coroa fez? Aí, quando ele acabou o segundo grau até numa escola boa, chamada São Vicente de Paula, ali no Cosme Velho, o coroa falou “olha, cara, o que eu falo, eu prometo! Sou um homem de palavra e sabe quanto custa 1 hora de piloto de avião?” Aí ele “pô , cara, eu sei que é caro”, ”então você vai fazer”. Aí o filho do coroa até ficou contra o pai e ele não. Em seguido , esse senhor, mas isso tudo meu amigo ó, correndo atrás! Ele passou lá, o cara falou "velho, eu nunca vi um garoto que entende tanto de avião, um aluno que chegou aqui que entende tanto de avião, como esse cara aí! Esse cara, ele pilota! Ele já pilota o avião sozinho, quando chegou na aula". Aí o cara “não, mas eu tô pagando pra isso”. O cara ignorante assim mesmo, “quartel, né?”, “não, tô pagando pra isso”. Sabe o que aconteceu? O próprio cara lá da aula botou ele, quando acabou o curso, pra ser sub-piloto desse aviãozinho Pampa, sabe qual é o Pampa? Que faz anúncio na praia, carrega esse letreiro. Ele ficou 1 ano trabalhando de graça, voando de graça. Só pra fazer horas de vôo, horas de vôo e morando na praia do Flamengo. Aí o que é que aconteceu? Um fazendeiro lá do Rio Grande do Sul, levou ele pra pilotar avião pra jogar agrotóxico. Ele voava com os avião lá no meio do mato, lá dentro de uma roça. Então ele trabalhou, ele parou, ganhou os horários de vôo, ganhou a carteirinha pra viajar, aí ele foi, mudou da praia do Flamengo, fizemos uma festa, na maior alegria. Foi pro Rio Grande do Sul trabalhar jogando agrotóxico. Vinha com o avião, mas parou de estudar? Não! Continuou estudando, estudando, aí eu nunca mais vi ele, perdi ele de vista. Um dia eu tô, uns dez anos atrás, eu tô ali na Senador Vergueiro, parado com a minha motocicletazinha, daqui a pouco vem um Mustang, a senhora sabe, esses carro Mustang? Vem na minha traseira da minha moto, assim “ROOMM”, tudo preto! Um carro lindo, cara! Falei “pô, esse playboy aí querendo arrumar confusão comigo, me atrapalhando”. E encostando o carro assim na minha traseira". Aí eu saí da frente dele assim, todo mundo me olhando, eu já meio chateado. Daqui a pouco me sai, cara, aquele cara com aquele cabelinho enrolado do carro. Quando eu olhei pra cara dele, assim, falei “André, é você, cara?”, ”Pô, sou eu!” e começamos a conversar ali, todo mundo ficou olhando, ele parou o carro no meio da rua assim, aquele carro preto abriu, depois veio um PM, da cabine de polícia “o que que houve aí?”, pensou que nós tava brigando porque ele começou a me abraçar, não sei o que! Aí o PM, posso falar? O PM ficou tão impressionado com o carro dele que não quis nem pedir documentos, nem mandou ele tirar o carro da rua, o cara “posso dar uma olhada no teu carro?”, “eh, cara, pô, esse carro aí, não sei o que” e começou a conversar. Aí, ele falou “pô, Izaías, eu to nos Estados Unido, morando nos Estados Unido, que eu tô estudando, eu era da TAM, fui pra (?) e consegui entrar na TAM, tava fazendo o vôo, é... São Paulo-Bahia”, ele falou o número, ele me falou “só não consegui vir pro Rio". Aí depois começou a pegar vôo pro Rio, pela TAM, “agora tô indo pra America, tô estudando que eu vou pra essa empresa American (?) fazer vôo internacional. Eu vou voar internacional agora, tô quase lá, cara! E você?, tá fazendo o que?”.“Poxa, tô com essa (?) aí”. E começamos a conversar ali, “pô, maneiro, hein?”, "pô, muito sofrimento", não sei o que e eu perguntei até “pô, e o seu Nel, coronel?”, aí ele falou "o coronel faleceu, maior tristeza da minha vida que ele faleceu, mas tenho contato com o Gabriel, que é o filho dele", não sei o que. "Hoje, o Gabriel é meu amigo, vai na minha casa. Ó meu filho aqui”, aí mostrou o filhinho dele com uma loura, a esposa, foi maneiro pra caramba. “Que me lembra da praia do Flamengo, fala aí, maior frio, maior sofrimento, isso e aquilo”. Eu falei “pô, maior alegria, não acredito!”. Ele falou ”não falei que ia ser piloto de avião? Sou piloto agora de um Boeing, meu amigo, parapente nada!”.
Falei "André, ô, cara, você André, queria escrever um livro, você é um cara do cara! Porque você foi muito mais longe, quando a gente achava que não tinha mais, porque, pô, cara. Enquanto outros que tá, já vi outros na Cracolândia que devia…já vi outros que tinha condições financeiras chegava na praia cheio de dinheiro e mora na comunidade, porque…

01:25:28 - Trabalho: compromisso e autonomia / Água limpa para mergulho na Região dos Lagos

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Partial Transcript: Alexandra - Eu tô te vendo, eu tô vendo a sua camisa Anjos do Lar e eu tô pensando que você tá só contando histórias de anjos hoje.

Izaias - Que nada! Eu não sou anjo, não existe isso, como é que eu falo: a gente é assim…é você ter um sonho, cara e correr atrás dele. Meu sonho era isso, tipo assim, eu poder trabalhar pra mim mesmo, ser livre…porque eu ser empregado, eu acho muito ruim. Eu gosto de ser livre. Por exemplo, de eu falar assim “hoje eu não vou trabalhar”, e eu poder não ir, não ter ssim aquele compromisso. Eu tenho compromisso com os meus clientes, mas não quer dizer assim, por exemplo: se você é empregado e você diz que não vai no outro dia tu tá desempregado, então você não é livre. Você, na verdade, continua sendo um escravo, por mais que teu salário seje alto, mas você não é livre, você não é dono de tu. Eu não, você sabe…eu gostaria de ser livre. Tem dia que eu me sinto mal, ligo pros clientes e digo “não consigo ir hoje, tô indo embora pra casa” e vou embora pra casa. Já teve dia de eu passar na praia, a água amanhã é capaz de eu ir pra Urca mergulhar, porque a água tá roxa, a água tá boa. Então eu falo "amanhã só vou trabalhar depois de meio-dia", porque eu sou livre, agora se eu tenho um emprego de carteira assinada, um emprego fixo, eu sou obrigado a cumprir aquilo ali, porque é até uma questão de ética, né?

Alexandra - O que significa a água tá roxa?

Izaias - A água tá roxa quando a água tá clara, totalmente limpa, limpa, limpa, limpa, com a visibilidade muito boa, aí a gente, como mergulhador, no nosso sotaque, a gente fala que é água roxa e quando a água tá suja a gente fala que é “caldo de cana”, que não vê nada. "Ah, a água tá igual caldo de cana, hoje”, que a água tá verde, preta, suja, você não tem visibilidade nenhuma. Quando a água tá com uma visibilidade muito boa, que você consegue enxergar mais de 3 metros de distância, a água é roxa, a gente chama de água roxa, uma água perfeita pra mergulho. Porque a gente em mergulho tem isso, né? O único lugar que a gente acerta encontrar água boa é Cabo Frio, né? Porque ali, a senhora sabe que Cabo Frio, são 3 correnteza que entra em Cabo Frio, né? Não existe um mar mais limpo do que Cabo Frio, não existe. Arraial, né? Arraial e Cabo Frio, Cabo Frio, né, porque Arraial é um distrito de Cabo Frio, então assim…região dos Lagos, né, na verdade. Então, aquela área ali, ainda acho melhor do que Angra. Angra é muito bom, só que a água em Angra é uma água esverdeado , o mar de Cabo Frio é um mar completamente azul, principalmente a praia do Atalaia, a senhora já foi?

Alexandra - Tenho que conhecer.

Izaias - Se existe um lugar no mundo que a gente deve conhecer antes de morrer é Arraial do Cabo.
Alexandra - Ah, eu já fui, já levei a Lara pra Arraial, aquela praia eu acho que eu não conheço, mas a gente…

Izaias – A da Atalaia? Onde tem uma escada?

Alexandra - É…eu pulei do barco, eu fiquei na água, naquele dia a gente não foi pra praia. Não, mas eu tava no barco em frente pulando na água, água azul.

Izaias – Azul, é um azul, a senhora foi naquela ilha que é…o barco sempre faz esses passeios, ele te leva numa ilha que eu esqueci, numa praia que é…praia de preservação, você não pode levar nada na praia, só o celular. E se você jogar um palito ali, a Marinha ela vê e te multa.

Alexandra - E lá tem um cemitério, naquela praia.

Izaias - Naquela praia, né?

Alexandra - Tem um cemitério antigo.

Izaias - E você sabe porque ilha do Japonês? Já ouviu falar, em Cabo Frio, na ilha do Japonês? Um lugar lindo que você devia ir também, conhecer, porque Arraial do Cabo é uma cidade histórica, né? Você sabe que ali morou Dom Pedro I, foi ele que criou aquilo ali e, a ilha do Japonês, não morou japonês nenhum ali, sabe? Aquela ilha ali, ela foi construída artesanalmente pra abate de baleia, então era uma ilha muito sangrenta (?). Como ali, Cabo Frio é o lugar que mais tem fruto do mar, uma variação de mais vida marítima, é em Cabo Frio! Então não existe outro lugar no mundo que tenha mais vida marítima variada, por incrível que pareça, nem Fernando de Noronha, tão ou igual a Cabo Frio, porque Cabo Frio é o encontro de 3 correnteza. Vem correntezas ali de 3 lugares diferentes, então é uma água sempre limpa. Então isso gera muito fruto do mar, uma vida marinha, igual aqui na Urca, né? Que não tem mais quase nenhuma vida marinha devido à poluição. Já em Cabo Frio, graças a Deus, tem muito, porque ali a corrente marítima ali são 3, então vem de 3 oceano, então é uma água sempre limpa. Cabo Frio você…eu já cheguei em Angra e encontrei água suja, em Cabo Frio eu nunca encontrei a água suja, em Arraial, então, meu Deus do Céu, aconselho, quem gosta de mar, quem gosta de praia, conhecer a Região dos Lagos, um lugar bem…

Alexandra – Maravilhoso!

Izaias - Maravilhoso! Eu digo pra senhora e assim, não é tão caro, né? Como em Angra, Angra é muito mais cara. Essas ilha eu conheço todas também, né? IIlha das Cagarras, que que acontece nas ilhas das Cagarra? A senhora sabe por que os peixes acabou nas ilhas da Cagarra, não?

Alexandra – Não.

01:31:36 - Ilha Cagarra e pesca industrial

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Partial Transcript: Izaias - Porque, o que que acontece? Na ilha da Cagarra, tinha muito peixe, chegou ter muito peixe, muitos corais, mas, porém a galera, os pescadores mau-caráter, dinamitou muito! Botavam dinamite pra matar peixe em lote, então ali eles acabaram muito com a fauna ali. Hoje o Ibama junto com a Marinha, estão fazendo um trabalho muito legal, mas, ainda longe da preservação, muito longe do que precisa, porque ainda vem muitos barcos pesqueiros de outros estados com redes elétrica, então o que que eles fazem: eles passam a rede, com a malha muito fina, tá? Eles vem, passam uma rede muito grande, é uma rede que são barcos, não é pesca artesanal, não é rede artesanal, são pesca industriais, são barcos de pesqueiro industrial, pescam com grande rede com uma malha muito pequena, então o que eles fazem? Eles vêm passando essa rede, esse arrastão, quando eles vê que a rede está com certa quantidade de peixe, eles dão um choque, então esse choque mata tudo que tem ali, todos os peixes. Então, tem muito peixe que eles não aproveitam, porque são peixes pequenos, mas matou. Então, assim, eles pegam um cardume de peixes pequeno, esses peixes pequeno, eles faz duas coisa: tanto eles vai crescer como eles serve de alimentação para outros tipos de peixe. Então eles matam aquilo ali tudo. Na verdade eles aproveitam uma tonelada de peixe bom, que é do interesse deles, e jogam 4 toneladas de novo no mar, mas morto, e isso causa um… entende? Essas traineiras que a senhora vê parar aí, grandonas, isso aí tudo é …é mar, isso aí não é um negócio. Isso vem do Rio Grande do Sul, vem de outros estado, que eles já não encontra peixe pra lá e vem aqui pra perto do nosso litoral passar essa rede e dá choque, é incrível, cara, tem que ver! As vez a gente para perto e fica olhando jogar fora…é muito peixe que eles jogam fora! Por exemplo: eles vão pescar…é, vamos lá…tem uma certa espécie de peixe que eles querem, eles passa ali, pega aquele cardume. Os outros peixes que entrou ali pode até…que não é do interesse, que não é da espécie que eles querem, eles lançam de novo no mar, mas morto. Então assim, toneladas e toneladas de peixe morto.

01:34:26 - Os beneficiados com a poluição da Baía de Guanabara, a história do dinheiro misterioso e a divisão social dos piscinões

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Partial Transcript: Alexandra - Quem aproveita com a Baía suja?

Izaias - Ah, os político. Os político, com certeza, a senhora não vê?

Alexandra - A milícia também?

Izaias - A milícia não, porque o que que acontece? A milícia, ela não aproveita não, mas ONG, ONG aproveita! Eu já fui vitima, já. A senhora desculpa, mas eu fui vitima de ONG. ONG, esses político, e assim…porque sai uma verba pra limpeza da Baía, como tentaram na ilha do Governador ali, fazer um centro de tratamento ali daquele canal do Cunha. Só que tá lá parado, né? Milhões e milhões, tá lá parado. Então, com certeza, aquilo ali foi uma obra superfaturada e tá botando. Por exemplo, agora nas Olimpíadas, né? Entrou milhões aí pra limpar a Baía de Guanabara, dinheiro suficiente que até dava, mas cadê o dinheiro? Sérgio Cabral sabe, ele jogou aqui, eu até peguei um dinheiro aqui, sabia?

Alexandra - Pegou? Ah, conta!

Izaias – Peguei, só que eu peguei pouco, foi 150, mas uma de 50 eu não consegui trocar não, porque a nota tava metade, mas a de 100 tava boa. E amigo meu chegou a pegar, teve um barqueiro que ele pegou 15 mil reais, foi um dos primeiros e chegou a pegar mais de 15 mil reais. Diz ele que foi 15, mas teve gente que, que ele comprou um barco, uma traineira de 30 mil.

Alexandra - Conta essa historia do Cabral que ninguém contou ainda.

Izaias – É, não, é, surgiu aqui na praia da Urca, no quadrado muito dinheiro, tá? E o Cabral junto com o seu Eike que andava com a lancha aqui. Então, há essa…eu não posso
afirmar, né, porque eu não vi, mas há pessoas que alegou que esse dinheiro estava escondido com o Cabral e como ele ia ter uma revista na casa dele ele veio aqui e jogou esse dinheiro, porque ninguém vai jogar, né? Era muito! Porque, só um amigo meu, ele disse que pegou 15 mil, mas tem suspeita, que foi mais, porque em seguida ele comprou um barco de 30 e poucos mil, uma traineira, então, assim, e ele não tinha dinheiro, né? Porque pescador não tem…

Alexandra - As pessoas estavam mergulhando.

Izaias - Muitas pessoas, eu por exemplo, só consegui pegar 150, mas na verdade só fiquei com 100, porque, mas eu soube assim, já tinha 10, 15 dias depois, então a água mexeu muito, mas teve muitas pessoas que pegou muito dinheiro aqui no quadrado da Urca, chegou a pegar muita coisa, teve pessoas, porque muita gente vindo. Agora, teve sujeira, então como a água é um pouco turva, te atrapalha, tinha dinheiro boiando…esses 100 eu achei assim, raso, porque a água tava um pouco turva. Quando a água clareou, ainda teve gente que achou muito dinheiro! Então, assim, muito suspeito! Agora, todo mundo, que tava ali, disse que esse dinheiro veio da origem do Sérgio Cabral, né? Tem muita, tem muita coisa que parece, né? Muita…é bem… eu não sei, mas…

Alexandra - Eu costumo dizer que a Baía de Guanabara não precisa de dinheiro para ser revitalizada, porque quando eles jogam ela cospe de volta.

Izaias - De volta, é, exatamente. E dinheiro assim em espécie não vai limpar a Baía de Guanabara, né? Tem que ter investimento racional, a pessoa tem que pensar como vai fazer um trabalho de limpeza ali. Existe, acredito, mas tá muito sabe, debilitada… e pode ter certeza, daqui a 20 anos as coisas quem vai ali pro lado de Ramos. A senhora sabia que em São Gonçalo tem uma praia linda? Só que e só lama! Você entra na praia, a praia é bonita, mas quando tu bota o pé na praia. A gente não precisa ir longe não, eu quero saber quem conseguiu entrar na praia de Botafogo, Zona Sul. Quem conseguir entrar naquela água ali, porque é lama! Já tentou entrar ali? É lama, a praia não é praia, é lama, galha, é muito estranho. Você entra assim, parece que tá pisando, é sujeira mesmo! Chega a ser nojento! Eu já pesquei ali, nem como peixe dali, porque é nojento! Você entra assim, dá uma sensação, praia de Botafogo, tô falando zona Sul, mas Baía de Guanabara, entende? É bem complicado. Se for pro lado, lá pra cima, subindo ali pra Magé, porque Magé é Baia de Guanabara, né? É terrível, cara, é terrível!

Alexandra - Mas lá tem uma APA, já é, já é mais limpa.

Izaias - Aonde? Magé? Não!

Alexandra – Magé.

Izaias - Magé? Não!

Alexandra – Guapi, Guaripa, Guapimirim.

Izaias - Guapimirim? É, Guapimirim eu não sei se é Baía de Guanabara, mas Magé é entrada, porque a Baía de Guanabara só tem uma entrada que é entre o Forte Santa Cruz e o morro de São João, que é o forte de São João. Só essa a entrada. Então toda água entra e sai por ali, então vai até Magé. Então, quando chega lá, lama puro, é igual o piscinão de Ramos, né? Que era a praia de Ramos, eles foram obrigados a fazer uma piscina do lado, essa piscina também não é porque é bonzinho não, é porque… o que que acontece, aquele piscinão de Ramos ali, ele segura a galera da Baixada Fluminense toda, então não há interesse também do governo que a galera da Baixada venha sujar a praia da Zona Sul não, entendeu? Então eles já fizeram aquele piscinão ali pra segurar a galera ali e a galera não não vim aqui pra Zona Sul, fazer bagunça, né? Porque, quando vem, realmente, a galera vem lá de cima pra fazer bagunça. Então prende no piscinão de Ramos e a galera não vem pra Zona Sul, pra não haver essa inclusão, né? Há essa divisão. Então a praia de Ramos, na verdade, é isso, eles fizeram essa piscina, como fizeram a de São Gonçalo, só que a galera de São Gonçalo não vem pra praia da Zona Sul. O piscinão de São Gonçalo acabou, porque eles sabem que a galera não vem. Então, ficou pra lá, tá parado, agora o piscinão de Ramos tá funcionando é por causa disso, porque se não funcionar o piscinão de Ramos, a galera é próxima, aí vem aqui pra praia de Ipanema, vem pra praia do Leblon. O morador do Leblon, na verdade não gosta muito da galera não, porque a galera quando vem, ela vem, vem quebrando ônibus, vem comendo frango assado na areia, é aquela bagunça, né? Joga areia nos turista. Então isso não é legal pro governo. Então o governo fez o piscinão de Ramos pra dividir essa turma, a verdade é essa. Na verdade o piscinão de Ramos é isso, não é que o governo é bonzinho não, mas fez um piscinão, pelo menos existe um piscinão lá e a galera se diverte pra caramba, é animado. Eu acredito, bem animado, quem quiser conhecer um pouco da vida suburbana e um pouco de vida assim diferente é ir curtir o piscinão de Ramos. Se prepara, vai se assustar um pouco, mas é bem divertido e não tem roubo lá no piscinão de Ramos não tem roubo não, sabia? A senhora pode deixar a bolsa que ninguém rouba não, agora aqui na praia de Ipanema…

01:41:38 - Organizações criminosas no Rio de Janeiro e no entorno da Baía de Gunabara / O assalto ao banco da Urca

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Partial Transcript: Alexandra - Faz tanto tempo que eu queria gravar você falando, você sabe de tudo, né?

Izaias - É, porque assim, eu fui criado na rua, né? Então a gente é obrigado, se você quiser viver nesse Rio de Janeiro, você se antenar em bastante coisa, porque, por exemplo, eu tô na Urca, eu vou sair da Urca e vou pra outro bairro, então eu tenho que saber se esse bairro é dominado por milícia, eu tenho que saber se o bairro é dominado pelo tráfico, qual é a hinarquia do tráfico, porque no tráfico existe 3 facções, né, que é Comando Vermelho, Terceiro Comando e o A.D.A. Então, uma palavra errada a senhora sabia, dona Alex? Por exemplo, se você tiver num lugar, que tem uma facção e se você falar uma gíria ou palavra errada você é cobrado, sabia? Por exemplo, se você tiver num morro e ele for dominado pelo Comando Vermelho e você falar “a gente", você apanha, você tem que falar “é nóis”, você não pode falar é “a gente”. Se você tiver num lugar que é o Terceiro Comando e você falar que “é nóis”, você também apanha. Então, assim, você tem que tá antenado porque…e hoje, não tem lugar certo não. Ó, aqui na Zona Sul tem uma rua chamada Sacopã, a senhora conhece? No final, aqui na Lagoa, no final da Sacopã é a boca de fumo. Primeiro que é passar pela policia, a 100 metros, você chega na boca de fumo. Então ali é uma rua de casas chique, tem casa de 30 mil reais.

Alexandra - E na Baía, tem muito tráfico?

Izaias – Tem! A Baía de Guanabara, hoje, é dominada pelo tráfico, né? E tem história, que muito entorpecente, entra pela Baía de Guanabara. Existe história que o avião passa pra pousar no Galeão e antes dele pousar ele larga sacos de droga. Existe história que vem de navio, já teve navio nos anos 80 que largou muitos quilos de maconha na Baía de Guanabara, né? Foi a maior aparição, uma tal de maconha que veio na lata, teve um navio que botou mais de uma tonelada aí na Baía de Guanabara, foi lata de droga pra tudo que é lado, lata de maconha pra tudo que é lado. Então, assim, a Baía de Guanabara hoje, o tráfico ali, ele domina ali, cara. Inclusive, teve uma invasão aqui no morro do Leme que os bandidos ficou escondido aqui na Urca, mas eles vieram lá do complexo da Maré de barco pra invadir o morro do Leme. Isso foi pouco tempo, agora, os policia até matou os bandidos aqui na Urca, porque a Urca eu acho hoje é o bairro mais seguro no Rio de Janeiro, por que? Por ser um bairro militar, não é? Um bairro militar e só ter uma entrada, então o cara que entra aqui, ou ele sai de barco ou ele é obrigado a sair por essa entrada que ele entrou. Então, assim, passa a ser um pouco seguro o bairro da Urca, né, porque o ladrão sabe que se ele roubar aqui, ele tem que sair lá na frente ou sair de barco ou nadando. Já teve um assalto nesse banco aqui que os caras fugiram de lancha.

Alexandra - Ah, eu não sabia. Eu sabia que teve um assalto no banco, eu não sabia como eles fugiram.

Izaias - É, eles fugiram de lancha. Agora, por isso que o que aconteceu? Hoje, a Marinha, ela já se policiou pra não acontecer mais isso, entendeu? Então eles têm bastante hoje. A polícia não esperava isso, dessa façanha, inclusive porque os bancos hoje não têm mais roubo, isso foi há uns…

Alexandra - Tem 2 aqui.

Izaias - Isso foi há uns 20 anos atrás, esse roubo, mas eles levaram muito dinheiro, né? E foram embora, pegaram a lancha aqui em frente aqui, roubaram o banco ali, vieram correndo, entraram na lancha e foram embora e foram embora mesmo, levaram a grana, cheios de dinheiro. Agora a Marinha, depois disso, e, tipo assim, os bancos agora tem uma segurança muito grande, né? Essa porta giratória, detector de metal, então hoje a segurança do banco aumentou, né? E outras tem os cofres, tem um sistema hoje que o próprio banco ele não tem muito dinheiro, às vezes, se você for fazer um saque acima de 10 mil, não, acima de 5 mil tem que fazer uma reserva 1 dia antes. Antes não, o cofre do banco ficava sempre cheio, né? Então, assim, hoje diminuiu muito o roubo a banco, hoje o roubo é tudo virtual, como fui roubado virtual, né? Hoje os roubo é virtual, não é mais direto.

01:46:22 - Aprender com quem sabe menos que você

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Partial Transcript: Alexandra - Obrigada, viu? Pela conversa, pelas lembranças e a sabedoria que você tem muito.

Izaias - Então assim, a gente acaba, se você quiser viver, você tem que saber…

Alexandra - Olha ela! (som de piano) Nunca vi ela na aula de piano. Sentou, começou a tocar.

Izaias - Pô, isso é muito legal, muito legal! Que alegria, né?

Alexandra – Incrível! Não sei o que ela vai fazer com isso, mas ela…aí ela fica lá uma hora.

Izaias – Isso já enriquece. Tudo que você aprende, seja lá uma besteira, vai ser muito útil lá na frente, vai te ajudar em outras coisas.

Izaias – De repente uma letra de música e você já aprende a gravar outras coisas, você aprendeu a gravar uma música e você já aprende.

Alexandra - E olha, a gente passou por momentos bem duros, mas ela tá se adaptanto muito bem e eu também, estou aprendendo bastante.

Izaias - A vida é isso! E você só aprende com quem sabe menos do que você, cara! Quando você acha que tu vai aprender coisas “pô, esse cara sabe coisa pra caramba, eu vou aprender”, mas não, você vai aprender com pessoas, sabe? “Pô (?) não sabem nem falar direito”, mas você vai e aprende. Então, assim, a vida é…eu amo muito viver, sabe? Acho muito legal a vida.

Alexandra - Você repete isso? Que você vai aprender com pessoas que sabem menos que você?

Izaias - Repito, lógico! Normalmente é isso, dona Alexandra você vai aprender às vezes, com pessoas que sabem muito menos do que você. Tem pessoas que você julga “pô, você não sabe”, mas às vezes são detalhes pequeno que vai te enriquecer tanto e as vezes aquela pessoa. Igual eu, não sei falar um português direito, corretamente, mas eu sinto que eu tenho algo que eu consigo ensinar como aquecedor, como sistema de pressurização. Por exemplo, eu trabalho com o João Calafate, eu sou projetista de Hidráulica do João Calafate. João Calafate é o maior arquiteto que tem hoje no Rio de Janeiro, ele é o professor da PUC, ninguém se forma em Arquitetura se não passar pela mão de João Calafate. Ele que dá o curso de pós-graduação de Arquitetura aqui no Brasil, ele é o presidente de Arquitetura no Brasil, no Brasil não, no Rio. Ele é o professor da PUC. Então, assim, e eu acabo ensinando pra ele. Eu ensinar pro professor, porque, eu sou o projetista da hidráulica, eu projeto a hidráulica pra ele, ele é o arquiteto, ele vai fazer aquilo ali, mas a hidráulica, os cano, a medida dos cano, qual é o pressurizador, qual é o aquecedor, eu que explico. Então, assim, a gente, na verdade, aprende com quem sabe menos do que a gente. Então, se você for procurar gente que sabe mais, pra aprender é onde eu te digo, você tá sendo um pouco egoísta. A vida é isso, é sempre você aprender e a vida nunca para e ninguém sabe tudo, você tá sempre aprendendo. Todo dia você aprende algo novo e tem coisas que você acha que não é útil, “não vou aprender isso que não é útil” e aquilo ali vai ser muito necessário lá na frente, uma simples, um simples “ah, eu já conheço a letra A”. Não! Quando você diz que sabe tudo é porque, realmente, você na verdade acaba sendo um ignorante, porque a pessoa que acha que sabe ela passa a ser uma ignorante, porque, realmente, não sabe.

Alexandra - Show!