Narração: Nathalia Winkelmann Roitberg, 2017.11.17

Territorios: Baia de Guanabara
Água!nabara - Território Urca é uma realização do Instituto Urca, da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal através da Lei de Incentivo à Cultura com o patrocínio da Companhia de Navegação Norsul.
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00:00:00 - Museu de Ciências da Terra: inauguração, acessibilidade e aproximação com a sociedade

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Partial Transcript: Nathalia: Meu nome é Nathalia, sou gestora do Museu de Ciências da Terra, funcionária da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais que desde 2012 administra o museu. Sou historiadora e to cursando no mestrado Divulgação Científica. A gente está no edifício de 1908, né? Ele foi inaugurado, o edifício que abriga o museu foi inaugurado pra Exposição Nacional de 1908 e é o único palácio preservado que restou de todos os palácios construídos para a exposição. Foi a maior experiência, o maior evento de divulgação científica até então, comemorando o Centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas, então ele traduz essa vontade de rompimento com a monarquia e a memória que se queria exaltar de uma nova república. Traduz também uma cultura de europeização, uma cultura branca obviamente. Hoje a gente tenta tornar esse edifício que por essas e outras, é um palácio gigantesco, imponente, que acaba afastando um pouco o visitando, tornar ele mais próximo da sociedade. Então aqui no museu a gente tem como prioridade as atividades inclusivas, oficinas pedagógicas, a gente trabalha com viés de acessibilidade atitudinal, quando o próprio edifício sem rampas e sem recursos não provê acessibilidade, a gente traduz a acessibilidade nas atitudes para com o visitante, convidando os deficientes visuais ao toque. A gente tem um trabalho intenso com as pessoas com transtorno psíquico do Instituto Felipe Pinel, então a gente como experiência interdisciplinar, com as ciências sociais, história, pedagogia traz diversas oficinas e atividades: contação de mitos geopaleontológicos pra aproximar o museu da sociedade, proporcionar uma divulgação científica através de um viés interativo, que a gente passa a não mais ver o museu como detentor de uma voz de autoridade científica e o visitante como uma tela branca e passa a construir o conhecimento conjunto. Então, o museu ele tem umas especificidades, porque é um dos maiores acervos da América Latina, são cerca de vinte milhões de fósseis, ano passado a gente revelou o maior dinossauro do Brasil, Austropoeidon magnificus, foi um evento também de grande divulgação científica, no mesmo dia foram 12 jornais de mídia impressa, e a gente tem a pegada dele ali na exposição no tempo dos dinossauros, em tamanho real, tem banner em tamanho real dele também. Os visitantes adoram, podem fazer selfie com o maior dinossauro, temos as vértebras originais aqui no acervo, uma parceria com o Museu Nacional. Aqui a gente trabalha com dinossauros brasileiros, então isso é muito bacana porque as crianças geralmente vêm procurando o tiranossauro rex etc., e a gente traz um pouquinho do que foi descoberto nas pesquisas paleontológicas no Brasil.

00:03:23 - Museu de Ciências da Terra: história institucional e processo de revitalização

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Partial Transcript: Nathalia - Bem, voltando um pouquinho, em 1909, o edifício se tornou o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, um ano após a Exposição Nacional, então desde esse momento se constitui a história institucional do edifício em diálogo com as Ciências da Terra Geológicas e a institucionalização dessas ciências. Em 1934 se tornou DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral - ainda vinculado ao Ministério da Agricultura que chegou a funcionar aqui nesse edifício por alguns anos. Depois, com a construção do Ministério de Minas e Energia, na construção de Brasília e consolidação de alguns ministérios, inclusive esse, o DNPM foi transferido para o centro da cidade e alguns funcionários ainda ficaram, o museu ficou e em 2012 o CPRM tomou a gestão do museu através de um acordo de cooperação pra revitalização do museu. Então a gente está em pleno movimento de revitalização, bastante trabalho, muita correria, porque o museu continua aberto a sociedade enquanto os trabalhos de revitalização estão se consolidando. Então, assim, a gente tem uma história de uma cultura científica que se formou aqui nesse edifício, uma institucionalização. Só esclarecendo, são três acervos, o acervo de fósseis, o acervo geológico e mineralógico, temos também aproximadamente 60 meteoritos na coleção e o acervo bibliográfico, com cerca de cem mil obras, uma biblioteca imensa. Era a maior biblioteca de Ciências da Terra, mas teve um triste capítulo na nossa história, que é de conhecimento de toda comunidade da Urca, um incêndio em 1973 que destruiu toda a biblioteca, a maior biblioteca de Ciências da Terra da América Latina. Então houve uma comoção da comunidade científica internacional que vieram tentar buscar o que sobrou desse acervo e preservá-lo, então a gente tem essa coleção histórica, boa parte histórica da Ciências da Terra na nossa biblioteca. E a gente tem documentos como a Comissão Geológica do Império, a composição da comissão, algumas cadernetas de geólogos importantes, inclusive o Price, um dos maiores paleontólogos do mundo, é uma coleção que dialoga com essa institucionalização da geologia, da pesquisa geológica que se deu aqui nesse edifício. Em 1965 o primeiro curso de geologia do Rio de Janeiro foi realizado aqui, desde então a gente tem essa história acadêmica, científica, bem consolidada aqui na história do edifício. A gente tá tornando o museu, de certa forma, vivo, porque é como se o museu... ele tem 110 anos de história, mas boa parte desse tempo ficou adormecido, acho que faltou uma certa vontade institucional ou... não sei, mas a gente está valorizando essa história ao invés de buscar culpados, pra prover, providenciar a revitalização do prédio. Então a gente tem um momento em que, por exemplo, em julho do ano passado a gente teve um aumento de 180% de visitantes através dessas atividades, divulgação científica que a gente tem consolidado. E junto a isso, como o museu só foi institucionalizado pela CPRM em julho desse ano, a gente tem uma revitalização no setor educativo e lógico da curadoria dos acervos. Mas acho que nesse momento seria importante explicar um pouco do nosso regimento.

00:07:16 - Museu de Ciências da Terra: regimento e projetos educativos

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Partial Transcript: Nathalia: O museu funciona em três núcleos: a gestão administrativa institucional que hoje eu sou a responsável; o núcleo de educação e divulgação, que ele se divide em núcleo de educação, núcleo de divulgação, de fato; e a curadoria dos acervos, que também se divide em acervo bibliográfico, documental e iconográfico, acervo de minerais e rochas e acervo de fósseis. Então hoje, vinculado a gestão da CPRM que tá no movimento intenso de planejamento estratégico, em cumprimento até da nova legislação das estatais, a gente tá trabalhando com metas, um planejamento estratégico e isso sobremaneira deixa, torna a pesquisa mais transparente, porque a gente trabalha com indicadores. É claro que em se tratando de museu, as metas indicadores muitas vezes não vem de fora para dentro, a gente tem que colocar nosso limite vinculado a um plano museológico. Em relação aos acervos especificamente, as metas estão muito fundamentadas em saber o que a gente tem, porque não faz mais sentido a gente não ter muita noção de quanto se tem na coleção. Então, imagino que no planejamento estratégico vai ser muito mais fácil tornar esse acesso simples e até mesmo virtual para a sociedade que tá no nosso planejamento estratégico também, tornar o acesso remoto e virtual. Mas sendo bem honesta, nesse momento a gente tá consolidando bases para que isso possa acontecer. A pesquisa hoje ela tá vinculada ao atendimento de um único paleontólogo que trabalha na reserva técnica, na maior reserva técnica da América Latina. Então isso tem as suas limitações, trabalha com ajuda de duas estagiárias de museologia. Mas ainda assim a reserva técnica funciona de segunda a sexta e damos o pleno atendimento para todos os pesquisadores interessados de uma forma muito transparente, muito institucional, vai se requerer uma assinatura no livro e intenção da pesquisa. A gente trabalha com empréstimo também de material vinculado a um compromisso de devolução obviamente e um mínimo de indicações claras para que se deve a pesquisa, principalmente alguns cuidados porque o fóssil ele não pode ser transferido. A gente tem inclusive um projeto muito didático e interessante que é a distribuição de kits fósseis para as escolas, que a gente também está revitalizando agora nesse momento. Ele trabalha com um processo em que você fica como fiel depositário daquele acervo, a escola se responsabiliza como fiel depositário, porque você não pode transferir ou doar, então tem que se ter todos esses cuidados. Em termos de pesquisa, aqui no acervo de rochas e minerais e na biblioteca é direto aqui no museu, porque a reserva técnica fica em outro prédio. Então tá vinculada à visitação de terça... praticamente de segunda a domingo, de domingo a domingo, porque de terça a domingo o museu abre ao público e de segunda a sexta funciona a administração e os curadores dos acervos. Então a gente tem mais pessoal pra atender os interessados no acervo de rochas e minerais e no acervo bibliográfico. O que de fóssil talvez seria mais válido a gestora de educação passar melhores informações sobre isso, mas basicamente é amostras fossilíferas da Chapada do Araripe, bem didáticas, elas vêm com um guia de taxiconomia, identificação de fósseis que ajudam muito a própria pedagogia das escolas. Porque a ciência da terra é aquela que a gente não tem na escola, no Brasil, então a gente obtém esse conhecimento nos espaços não formais, nos museus, centros de ciências, então é bem importante que se fomente esse tipo de pedagogia principalmente porque o conhecimento não formal é aquele que a gente leva para o resto da vida. Ele se diferencia um pouco do conhecimento formal da escola então assim, eu acho que essas iniciativas são de extrema importância não só para as escolas mas para toda sociedade.

00:11:45 - Museu de Ciências da Terra: relação com a comunidade da Urca, projetos e eventos para o público

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Partial Transcript: Alexandra: Qual a relação que vocês têm com o bairro?

Nathalia: É muitíssimo limitada. É uma relação histórica de respeito mútuo que se estabeleceu, uma relação afetiva do bairro com o museu, de fomento, de participação, mas a gente acredita que poderia ser muito mais fortalecida. A gente não vê muita divulgação no próprio bairro, a gente não percebe uma adesão da comunidade aos nossos eventos e a nossa principal limitação que a gente não consegue desenvolver os projetos que se criam no núcleo de educação em parceria com o Benjamin Constant, porque a gente acredita que em se tratar da deficiência visual, que é uma das vertentes do nosso projeto de acessibilidade, acessibilidade atitudinal, deveria se parar a prática museológica de trazer o produto pronto. Aqui se tem placa tátil, aqui se tem Braille na tela, aqui se tem esculturas réplicas disponíveis ao toque, a gente acredita que as próprias referências, os profissionais da área, inclusive os deficientes visuais deveriam participar do planejamento museológico, do planejamento das exposições e dessas iniciativas, e até hoje a gente não conseguiu uma abertura, até hoje claro, a gente pensa grande, tem sentido esse fosso, mas a gente institucionalizou agora o núcleo educativo em junho, então faz pouco tempo que a gente vem tentando e a gente acredita que boa parte desse histórico não cumprido pode ter contribuído pra esse afastamento, mas se acredita que em breve consiga se recuperar essa relação.
É, eu acredito que seria muito importante o apoio da comunidade da Urca na nossa revitalização. Isso é algo que deve gerar algumas dúvidas, questionamentos e possíveis discussões no bairro. E a gente como órgão público tem obrigação de trazer transparência sobre todo nesse processo, e a gente tá buscando vários parceiros que possam auxiliar nesse momento em termos de reconstrução do edifício, especialmente da área incendiada, projeto de cerca de 60,70 milhões e entre os parceiros a ANP, a Shell, a Petrobras e a gente gostaria de obter o apoio da comunidade, especialmente na nossa revitalização. Inclusive nos próximos passos de andamento do nosso plano museológico, o museu que tem que ser para a sociedade, muito mais do que para a comunidade científica em termos dos seus acervos. Pra a gente é muito especial ser vizinho, por exemplo, do Benjamin Constant, do Instituto Felipe Pinel, porque a partir daí que a gente quer buscar parcerias pra uma das diretrizes do plano museológico, prevista em lei, na lei nº 11.904/2009 Lei Nacional dos Museus, que é diretriz de acessibilidade. Então essas parcerias são muito interessantes e algumas demais parcerias pontuais, a gente de um ano para cá tem conseguido conquistar as escolas do bairro, especialmente as escolas públicas, a gente gostaria muito desse fortalecimento. A Escola Britânica já é uma parceria de sucesso, há mais de uma década, eles sempre fazem avaliação final dos alunos aqui com uma exposição de arte contemporânea, rompendo um pouco das barreiras de museus de ciências, Museu de Ciências da Terra pra um equipamento cultural pra sociedade. E a gente tem também intenção de trabalhar com projeto multissensorial para bebês, que é um projeto da gestora Sueli, esqueci o sobrenome dela, ela é gestora do projeto “Descobrindo o mundo”, ele iniciou na varanda do museu do Ingá, numa visita técnica, em julho eu descobri e apresentei a diretora de museologia Tereza Scheiner, professora Tereza Scheiner, e a gente vem tentando desenvolver os primeiros passos para o planejamento desse projeto acontecer aqui no museu. São equipamentos sensoriais de todo tipo, bambolê sensorial, brincadeiras pedagógicas com função educativa e é algo que a gente acredita que até mesmo na primeira infância e em relação aos bebês é possível você utilizar o equipamento cultural do museu pra prover descobertas, mais do que conhecimento, descobertas sensoriais, pedagógicas. E esse projeto é algo que certamente precisaria do apoio da comunidade, porque não é qualquer pai que confia o seu filho a um projeto, a um museu, seu bebê de colo. E é uma oportunidade das próprias mães se empoderarem e poderem deixar um pouco os bebês e passearem pelo museu. Então, desde esses projetos mais pontuais até os nossos cafés da manhã, nossos eventos, como a gente vai ter agora, o concurso de fotografia em janeiro, a missa de Natal da CPRM dia 4 de dezembro, avançando um pouquinho o Dia do Geólogo, do Cartógrafo, do Geógrafo que a gente sempre comemora conjuntamente nessa data porque são datas próximas de celebração, dia 30 de maio. Em março também lembrei aqui agora que a gente vai ter uma exposição importantíssima da pesquisa fóssil da CPRM trazendo um pouco do trabalho que é desenvolvido exclusivamente nesse órgão, que é espeleologia, trabalho em cavernas, que a gente descobriu preguiças gigantes que foram de grande repercussão, e dia 7 de março que vai ser inaugurada essa exposição comemorando o Dia do Paleontólogo com o apoio da Sociedade Paleontológica. Então desde um apoio no plano museológico de maneira geral até o apoio na realização e participação de eventos socioeducativos a gente gostaria de fortalecer essa parceria. E aí é o que eu sempre digo aqui pra nossa equipe, a divulgação científica não começou agora com a institucionalização do museu e tantas transformações que vem acontecendo no processo de revitalização, é uma história de 110 anos que dialoga com o maior evento de divulgação científica da comunidade, então a gente vem notando esse movimento já há bastante tempo, só que de uns tempos para cá como esse movimento se consolidou e tem tido mais adesão, digamos assim, da sociedade, a gente tem buscado fortemente essa adesão, é importante a gente olhar dessa maneira que você colocou, para os indivíduos, para as reações. As crianças da primeira infância, de meses até os três, quatro anos, elas são muito curiosas, então a gente faz oficinas lúdicas, coloca rabinho nas crianças e tem uma das réplicas, nosso Angaturama que a gente conseguiu com o apoio da museologia da Uni Rio, captar sons similares ao original, então as crianças ficam muito curiosas e é um grande momento. A gente faz teatrinho com o livro O poço do Visconde, teatro educativo, contação de histórias; mas aquilo que eu sempre coloco, importante respeitar essa história porque o fato do museu estar voltado para educação infantil já vem há muito tempo, já vem há bastante tempo que a gente tem esse objetivo, mas que não tinha muitas bases para se consolidar. Um grande momento em relação a isso é que no relatório anual da CPRM do ano passado já entrou uma imagem da educação infantil aqui no museu, simbolizando o museu. Em termos de planejamento estratégico isso é significativo, porque são três indicadores centrais que dialogam com indicador principal do serviço geológico do Brasil que é o fortalecimento da imagem da proximidade com a sociedade, e os nossos indicadores são aumento de público, um aumento quantitativo e isso claro que requer um aumento qualitativo, e para isso a gente tem consolidado núcleo de pesquisa, avaliação, não só das ações territoriais, no entorno da comunidade da Urca, mas de uma maneira geral, especialmente em relação as escolas públicas, e os indicadores de acervo, que é de fato saber o que a gente tem para poder oferecer o melhor produto para a sociedade. Então, as ações cotidianas que são totalmente ligadas à história dos indivíduos interagindo aqui nesse espaço público, elas proporcionam novas páginas na história da instituição e no planejamento estratégico voltado exclusivamente para a sociedade, não mais para uma história documental institucional.

00:21:09 - O museu como um lugar de afetos

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Partial Transcript: Nathalia: Eu gostaria que o museu pudesse de fato concluir a sua revitalização, que significa atentar para um patrimônio tombado, histórico, museológico, não apenas para diretrizes institucionais. Para isso acredito que deveriam ter reais políticas de acessibilidade e restauro, porque ainda que a gente tenha momentos políticos conturbados a gente está falando de 110 anos de história sem nenhum nível de acessibilidade em termos estruturais para a população. Então se eu puder contribuir um pouco para isso eu acredito que tanto trabalho vai ter valido a pena. Em termos de carreira realmente um grande privilégio, uma grande oportunidade, a realização de um sonho mesmo porque o museu está vivo, né? E a gente está conseguindo movimentar com poucos recursos essa história. Eu costumo dizer que o museu é um lugar de afetos que a gente guarda as coisas, guarda os nossos afetos, e aqui a gente guarda afetos, história, memórias, mas não por isso a gente tem que deixar de se modernizar. Para isso que a gente tem trabalhado com foco, metas e planejamento para poder movimentar essa nossa pequena equipe numa direção comum que é oferecer o acesso remoto e o acesso completo à sociedade.

00:22:38 - Formação acadêmica, trabalhos e ingresso no Museu de Ciências da Terra

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Partial Transcript: Nathalia: Eu ingressei no concurso público de 2006, trabalhava no mercado financeiro, vinculado ao Banco Pactual, antes tive outros empregos todos nessa área administrativa até que eu me voltei para a área financeira e tive oportunidade através dessa empresa de fazer um MBA em gestão de finanças enquanto eu fazia faculdade de História, então foi um período de muita batalha. Veio em boa hora o concurso público da CPRM, porque não acredito que no ritmo de trabalho que eu estava eu conseguiria concluir minha graduação em História. E desde então eu me especializei em História Patrimônio e trabalhei aqui na CPRM até por conta dessa experiência em administração financeira, trabalhei no setor de patrimônio, depois na área de pregão, ligada à setor de patrimônio, mas desde eu entrei na CPRM eu visitei esse museu e fiquei muito emocionada com as condições degradantes que ele se encontrava, e tinha certeza que um dia eu trabalharia aqui. Três anos depois de entrar o museu foi absorvido pela CPRM, a CPRM tomou a gestão do museu, e eu vi que esse sonho poderia se tornar real, então fui convidada pelo diretor à época. Não, o diretor Diógenes ainda não era o diretor, porque o DNPM tinha esse cargo de diretor do museu. O doutor Diógenes de Almeida Campos ele está à frente dos acervos desde 1968, então como historiadora, com o meu projeto aqui no museu, ele é de fato a minha fonte viva e meu co-orientador. Mas ele me chamou para uma entrevista para tentar suprir através da CPRM a primeira cláusula do acordo de revitalização, o acordo de cooperação que prevê revitalização no museu, que é capacitar o pessoal da CPRM para começar atuar nesse processo e poder temporariamente substituir de fato a gestão administrativa do museu. Então a gente está nesse momento, o pessoal do DNPM deve estar chegando aqui, que eles ainda estão num processo de desfazemento, e eu comecei a atuar nesse sentido, na administração do museu, e recentemente quando ele foi institucionalizado, eu consegui assumir a gestão. Então acredito que profissionalmente é isso.

00:24:59 - Relação familiar, com o ballet, a arte e o mergulho

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Partial Transcript: Nathalia: Pessoalmente eu tenho uma família muito unida que me apoia muito e conseguem compreender esse momento de muito trabalho que talvez alguns planos pessoais e familiares fiquem um pouco em segundo plano, além disso eu sou bailarina desde sete anos de idade. Eu acho que assim, a arte me move. E como eu costumo dizer, eu costumo olhar o museu para além de... não que não seja importante, senão a diretoria executiva puxa a minha orelha, mas eu costumo olhar ele para além de um museu de ciências, eu acredito que os museus têm que superar rótulos, eles têm que servir a sociedade, ser um objeto de cultura, de arte. Sem arte eu adoeço, com toda certeza, sem arte, sem a cultura, e daí que vem minha especialização em História que tanto me satisfaz, então assim... Falta dizer que eu sou mergulhadora. Porque eu acredito que no fundo do mar a gente consegue se reconectar também, reconectar nossa alma com os seres vivos e, sim, esse aspecto dialoga um pouco com a função do museu, porque quando a gente fala de água, de ciências da terra, da história do planeta muitas vezes a gente olha para a geofísica, para as funções que os recursos minerais nos trazem, recursos naturais e minerais. Eu acredito que a gente tem que olhar um pouquinho mais em pé de igualdade com os seres marinhos, com todos os seres que habitam esse planeta. Olhar que é a nossa forma de coexistência, de existência e de solidariedade mútua, então acredito que o mergulho também dialoga com toda essa trajetória profissional que eu escolhi. Por mais que eu tenha muitas válvulas de escape, digamos, tem muitas questões pessoais que me movem, como amo viajar também, ultimamente eu acredito que eu tenha me realizado profissionalmente mesmo. Então não vai muito além disso meu ato pessoal. No Brasil eu mergulhei só em Arraial do Cabo, eu fiz o curso básico, avançado, eu fiz todos os cursos em Utila, Honduras, eu mergulhei por ali, por Belize, e acabei que no Brasil só consegui repetir a experiência de mergulho nas últimas férias, no litoral aqui do Rio de Janeiro, Arraial do Cabo. Mas por aqui tem uma atividade de mergulho bem intensa.

Octávio: Tem alguma coisa que você podia identificar da experiência de mergulho e da experiência da dança que você pode aplicar no dia a dia aqui?

Nathalia: A respiração. Acredito que a respiração é a energia vital e é isso que me traz a existência de fato que eu consigo traduzir de maneira transparente para a minha equipe, para a sociedade, quem eu sou, o que eu acredito, sem necessariamente contradizer a minha missão enquanto servidora pública, e colocar um pouco da minha ideologia enquanto historiadora em prática, porque eu acho que o conhecimento sem a práxis não é transformador, então eu acredito na transformação pelo conhecimento, e respeito aos animais, sou vegetariana também, isso tudo é algo que eu consigo trazer de forma presente para a minha existência através da respiração, que a dança, a dinâmica e o mergulho me conectam com a minha respiração.

Octávio: Então a sua missão é fazer com que o museu respire de novo?

Nathalia: Sim, ele está respirando. Isso me faz dar um sorriso de alma, digamos, mas acabo sorrindo mesmo todos os dias que eu entro aqui, independentemente de qualquer problema.

00:29:11 - Dinossauros

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Partial Transcript: Alexandra: Quando os dinossauros entraram no seu imaginário pela primeira vez?

Nathalia: O potencial dos dinossauros junto as crianças é muito bacana. Claro que a primeira vez foi pelo “Jurassic Park”, pelo filme, isso me traz, como eu costumo dizer, um conhecimento para a vida toda, aquilo que a gente aprende pela mídia, pelos equipamentos culturais, isso me facilita o diálogo com as crianças, com a sociedade. Quando eu digo que aqui no Brasil a gente tem dinossauros também e que a gente não precisa aprender só através do “Jurassic Park”. E a gente vê muitas crianças por aí com roupinha de dinossauro, acredito que é algo que... eles se vestem de dinossauro, eles brincam com dinossauro e eu acho impressionante a questão dos dinossauros porque eles não se apavoram, eles são seres apavorantes, mas as crianças mais pequenas não têm medo e se sentem dinossauros também, isso traz para elas uma bravura, um enfrentamento diante de tudo. Mas para o doutor Diógenes não ficar chateado com tudo que ele me passou desde então, todo esse legado muito importante que ele deixa nesse edifício para mim, a Ciências da Terra é muito mais que isso, então ele tem um artigo que saiu no nosso boletim, é algo que ele sempre fala, que ele odeia os dinossauros, brincando claro, porque a população só tem acesso a Ciências da Terra por meio dos dinossauros e tem os meteoritos, as rochas, os minerais.

00:30:51 - Minerais

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Partial Transcript: Nathalia: Os minerais estão na base da cadeia alimentar e a gente sequer lembra disso. As plantas necessitam dos minerais para sobreviver. Quando a gente vai numa loja de adubo a gente compra NPK, são os nutrientes que os minerais nos trazem. Então eu acho que é importante sim, até porque os dinossauros também ajudam a entender um pouco mais do tempo geológico que é totalmente diferente do tempo histórico, um conhecimento importante para uma sociedade que foi educada muitas vezes em relação a Ciências da Terra com os Flintstone, que mistura ali humano vivendo com dinossauro, algo impossível porque são milhões de anos no tempo geológico que os separam, então a gente entender as dimensões do tempo para entender um pouco mais a dimensão do nosso planeta.
Tem o lado lúdico, o lado que ajuda no nosso posicionamento de marca também, esse marketing que esse mundo dos dinossauros traz, mas aquilo também, o maior acervo de peixes da América Latina, um dos maiores do mundo, uma referência nas tartarugas, no estudo de fósseis da tartaruga, então é sempre bom a gente também fortalecer a questão da Ciências da Terra para além dos dinossauros. Tem um programa bacana aqui, foi gravado aqui no museu “Eu sou assim”, uma produção da GNT que traz um menino de seis anos com altas habilidades, então dialoga um pouco com a nossa perspectiva de acessibilidade atitudinal, e ele é totalmente encantado com a energia daquela sala e passa horas e horas ali, então a gente acredita fortemente nisso. Os minerais têm toda uma questão mística e um cervo impressionante como essa coleção, sem dúvida, traz essa questão energética, não só para quem acredita no esoterismo, mas também através da física quântica. Tem a rocha com cabelo também, ela é similar a uma fibólia, mas não tem graça explicar, tem que ir lá ver. É similar uma fibólia, então tem fibras você vê parece cabelo mesmo.

00:33:09 - Tempo histórico e tempo geológico

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Partial Transcript: Octávio: Como você faz para traduzir essa linha do tempo imensa, quase inimaginável para as pessoas, talvez as crianças estão mais favorecidas, e criar um diálogo entre a nossa linha do tempo tão limitada e a linha do tempo do universo?

Nathalia: A gente costuma usar o corpo, o braço, dizer que os dinossauros estão aqui na história do planeta, e os humanos estão aqui, nessa metade do dedo em diante. Então dessa maneira que a gente tenta comunicar um pouco da diferença do tempo geológico para o tempo histórico, através do Carbono 14, você consegue definir a idade de um objeto de estudo da arqueologia, um vaso tem dois mil, três mil, sete mil anos A.C., um objeto de adorno, mas é quase impossível você definir as linhas de expressão de um dinossauro que tem 25, 30, 60, 80 milhões de anos. O fóssil só é fóssil porque ele tem mais de 12 mil anos, então já começa a se diferenciar o tempo histórico por aí. De maneira mais simples e direta a gente tenta simplificar a linguagem, porque são termos muito específicos da Ciências da Terra, eu acho que isso ajuda o fato de eu vir das ciências humanas, de tentar adaptar a linguagem científica, então a gente tenta trazer as perguntas simples da sociedade para os paleontólogos, e aí eles entram em curto circuito porque eles nunca pensaram, por exemplo, que um visitante gostaria de saber a idade que um dinossauro morre, por exemplo, se 35 ou 70 anos, e é algo impossível de definir no tempo geológico; se o pterossauro da rotunda tem penas ou pelos, que são as controvérsias das ciências, isso tem trazido diálogos muito interessantes para a nossas exposições.

00:35:15 - Trabalhos de divulgação científica

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Partial Transcript: Nathalia: A gente tem trabalhado com exposições itinerantes levando o museu para a periferia, a gente foi em Mesquita na semana de Ciência e Tecnologia, tivemos com três exposições itinerantes pelo Rio de Janeiro e trouxemos a questão... o tema da semana da Ciências e Tecnologia era ‘matemática está em tudo”, então a gente trouxe exatamente as controvérsias da ciência, a questão dos meteoritos, trazendo um pouco do se haveriam outros planetas ou não, as dúvidas simples da sociedade colocam a gente para realmente rever conceitos científicos e também planejar exposições de outra maneira, talvez com uma linguagem mais interdisciplinar do que voltada as especificidades da Ciências da Terra.