A coleção Água!nabara existe como um projeto do patrimônio cultural na Lei Rouanet, que contempla o Território no seu mais ampla significado —— uma geografia que define nossa cultura, nossos saberes e fazeres e as nossas celebrações. Buscamos conciliar as agendas da prática e da pesquisa, da militância ambiental e da produção cultural urbano, do humano e do digital para criar consensos no Território.
O desafio é tecer uma narrativa provocativa que inclui estudiosos e praticantes nas várias áreas que compõem a história do patrimônio cultural e paisagística da cidade, que possa ter um efeito mobilizador, que por caminhos digitais, criando um acervo sonoro aberto e linkado, pode servir também para o futuro planejamento da nossa cidade. Veja o nosso Seminário Encontros Água!nabara: Território Urca.
O belo bairro da Urca, sitio da narrativa “Paisagens Cariocas: entre a montanha e o mar”, inclui a entrada da Baía de Guanabara. Gravamos e preservamos 100 histórias de vida no projeto piloto Água!nabara: Território Urca, criamos uma metodologia Co-memore: Memória Afetiva Local e um Repositório Memórias afetivas da Baía de Guanabara para o acervo digital de narrativas.
Buscando ampliar as ações de documentação para a preservação e salvaguarda de saberes e fazeres ali existentes, propomos estratégias de valorização da memória colaborativa do território da Urca. A utilização de storytelling e a combinação de elementos visuais e sonoros constituem-se em componentes eficazes para a preservação da memória pluriversal da Urca e da Baía de Guanabara, uma vez que este conjunto de técnicas assegura visibilidade, promove o diálogo e desperta memórias e afetos.
Justificativa: A História
A história do território conhecido como Urca remonta à fundação do Rio de Janeiro em 1565. Pela sua condição estratégica de entrada da Baía de Guanabara, a Urca teve sempre uma forte presença militar, permanentemente relembrada pelos sítios arqueológicos ali existentes. A sua geografia de “cul de sac”, de “fim de linha”, além dos imponentes morros da Urca e do Pão de Açúcar, tem contribuído à percepção dos moradores de habitarem em um cartão postal. A origem do nome é polêmica, mas a versão mais crível é a de que ele vem de Urbanização Carioca, nome da empresa que desenvolveu e implementou o projeto de construção do bairro na década de 1920. Veja mais: Urca: 100 anos
Estamos desde 2015 morando e trabalhando no território da Urca. Aqui,
- Escutamos os cidadãos ribeirinhos da Baía de Guanabara;
- Aprimoramos o senso de pertencimento, cidadania e voluntarismo entre eles;
- Criamos espaços de trocas de conhecimento e eventos de escuta;
- Mapeamos iniciativas ambientais;
- Desenvolvemos uma rede inter-municipal e internacional de cidadãos e experts que conhecem os problemas e enxergam as soluções locais;
- Assinamos colabs pedagógicos com instituições locais para fortalecer a justiça socioambiental, a edu-comunicação ambiental e a memória local;
- Capacitamos jovens mobilizadores nas nossas tecnologias socioeducativos e edu-comunicativos, ou seja na produção, gestão e disseminação de conhecimento.
Medidas de Acessibilidade:
Adaptamos o plugin OHMS (Oral History Metadata Synchronizer), desenhado por Douglas Boyd, para casar a transcrição com o áudio de todas as entrevistas tendo assim uma parte escrita e uma parte verbal para quem tem necessidades especiais. Pedro Rangel Produções assegurou que o seminário fosse acessível com tradução simultânea em Libras.
Medidas de Democratização:
O seminário foi gravado e disponibilizado gratuitamente no Youtube, no site e no repositório, os vídeos e áudios e transcrições.
Medidas preventivas quanto a Impactos Ambientais:
Como o nosso trabalho acabou sendo online, tivemos 0 impacto ambiental. Caso usamos equipamentos electrónicos como computador e gravador, despejamos os de forma consciente para minimizar impacto.
Empregos/serviços gerados:
25 profissionais através da Lei Rouanet: 18 prestadores de serviço, 6 voluntários e 1 estagiário.
Envolvimento da comunidade do bairro da Urca
Hoje, a salvaguarda e preservação dos bens culturais imateriais passa pela sustentabilidade e o compartilhamento e envolvimento da comunidade, a verdadeira responsável e guardiã de seus valores culturais. A comunidade compete decidir sobre seus destinos no exercício pleno de sua autonomia. O patrimônio cultural passa a ser vetor de qualidade de vida e fator de transformação social. Buscamos uma sustentabilidade não apenas financeira, mas também de transmissão e perpetuação de patrimônio através de releituras pelos direitos humanos, a igualdade social e a descolonização.
A relevância do projeto Água!nabara consiste na documentação e sistematização de uma herança pública, a memória, através da qual conheceremos o território e seus patrimônios naturais e culturais materiais e imateriais. As memórias individuais formam uma valorização coletiva do território que se manifesta em ações de preservação que perdura no tempo.
Passaremos a saber como e porque se estabeleceu ali uma das principais colônias de pescadores da cidade, porque as celebrações do território acontecem à beira e sobre o mar, porque as ruas do bairro são curvas ou são retas, porque suas casas se orientam de uma maneira ou outra, porque se plantam umas espécies de árvores e não outras, porque predominam esse ou aquele tipo de comércio, porque a Baía de Guanabara é parte integrante fundamental não só da história do local, mas também do imaginário coletivo de sua comunidade.
Sobretudo, através deste projeto, preservamos e partilhamos as sabedorias para a salvaguarda de atividades como a arte da pesca local, o futebol dos cegos a arte de montanhismo (preservados como patrimônio histórico) e criam-se através do conhecimento a possibilidade de agir coletivamente em praticas de preservação cultural, natural e global.
Quem conta um conto produz uma onda sonora.
Uma onda é uma vibração que se propaga transportando energia.
Que efeito essa energia produzirá no próprio contador da história, no ouvinte e ao seu redor?
O uso do som se justifica por ser efetivo na representação de aspectos performáticos e estéticos da cultura e de aspectos simbólicos da vida cotidiana. Por isso, o projeto “Territórios: Baía de Guanabara” prevê especial ênfase na coleta e divulgação de memórias plurais e orais que, em última análise, compõem a memória mais ampla do território, consciente de que a história e os saberes de um território são personificados por estas pessoas. São essas estratégias e conteúdos, os produtos culturais deste projeto, que são debatidos e apresentados no Seminário Encontros Água!nabara: Território Urca, e difundidos no site do Acervo Digital Memórias Afetivas da Baía de Guanabara. No resgate de memórias individuais buscamos costurar parcerias locais nos bairros e comunidades para colaborar na revitalização de nossos espaços públicos, na articulação de redes de multiplicadores, na organização de acervos de acesso aberto e na difusão de conteúdos para a conscientização de cidadãos.
O Instituto vê o projeto Água!nabara como um ponto de partida para a construção de uma mentalidade maritima sustentável e a criação de um “museu vivo de convivência” no território.